Nagasaki lembra destruição nuclear com críticas aos EUA

O prefeito de Nagasaki, Itcho Ito, fez duras críticas hoje aos Estados Unidos durante ato em memória aos 61 anos do bombardeio de sua cidade com uma bomba atômica. Ito criticou a manutenção, por parte dos EUA e de outras nações do mundo, do gigantesco ars

''Os ecos das vozes de ira e frustração são ouvidos em toda a cidade. Chegou a época de essas nações que se apóiam na força das armas nucleares atenderem às vozes do povo que ama a paz, especialmente os sobreviventes das bombas atômicas'', afirmou Ito no ato em lembrança do trágico evento. Ito afirmou também que Washington não faz o suficiente pela não-proliferação nuclear, apesar de sua responsabilidade histórica.


 


Em 9 de agosto de 1945, os EUA lançaram uma bomba atômica sobre Nagasaki, três dias depois de uma outra ter destruído a cidade japonesa de Hiroshima. Às 11h02, após um minuto de silêncio, os sinos de Nagasaki soaram em homenagem às 74 mil pessoas que morreram devido à explosão da bomba e às mais de 63 mil que morreram por causa da radiação e dos ferimentos sofridos naquele dia.


 


Nenhum progresso


 


No total, as duas bombas atômicas mataram cerca de 380 mil pessoas, entre os que morreram então e os que sofreram as conseqüências dos efeitos das bombas nas últimas seis décadas. Na Declaração de Paz, o prefeito de Nagasaki lembrou que as lições do passado não foram ouvidas, pois há mais de 30 mil armas nucleares ''preparadas para aniquilar a humanidade''.


 


Segundo Ito, ''não houve nenhum progresso'', já que em maio a conferência internacional sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) terminou sem nenhum acordo substancial. ''Os Estados que possuem armas atômicas não mostraram sinceridade em seus esforços a favor do desarmamento. Os EUA, em particular, aprovaram silenciosamente o desenvolvimento nuclear da Índia'', disse Ito.


 


O prefeito se referia ao acordo alcançado em março entre Washington e Nova Délhi, segundo o qual os EUA apoiarão com tecnologia o desenvolvimento nuclear indiano. Ito lembrou que, segundo o TNP, nações com armas atômicas não podem transferir armas ou tecnologia deste tipo.


 


''A própria estrutura de não-proliferação está em crise'', disse Ito, que também fez referências à República Popular Democrática da Coréia ao Paquistão e a Israel, países que possuem armas atômicas, e ao Irã, cujo programa de enriquecimento de urânio é fortemente criticado por União Européia e EUA.


 


Não ao militarismo


 


O prefeito de Nagasaki afirmou ter grande preocupação com a corrente militarista que ganha terreno no Japão, apoiada pelas iniciativas do governo, que aposta por mudar — em um futuro próximo — a Constituição pacifista para conceder um maior poder militar às forças de autodefesa japonesas.


 


Ito pediu que o governo preserve a Constituição — que proíbe ações militares no exterior — e que reúna em uma lei os três princípios adotados pelo Japão sobre as armas atômicas: não produzi-las, não possuí-las e não permitir a presença desse tipo de armamento em seu território.


 


''Pedimos ao governo japonês que reflita sobre a história, que defenda as intenções pacíficas da Constituição'' e que entenda ''que a tragédia da guerra não deve ocorrer de novo'', acrescentou.


 


Uma representante dos sobreviventes da tragédia de Nagasaki, Kikuyo Nakamura, de 82 anos, mostrou na Declaração de Paz seu desacordo com o nacionalismo e o militarismo crescentes na nova geração de políticos e governantes.


 


''Quando vejo como esta geração mais jovem, que não conheceu a guerra, reivindica um Japão mais forte, vejo um paralelismo com o Japão pré-bélico, e não posso ficar sem fazer nada'', disse à agência ''Kyodo''. O filho de Nakamura morreu há três anos devido à leucemia, causada pela bomba atômica. ''O que o médico disse não sai de minha cabeça: você transmitiu a causa da leucemia para seu filho Hiroshi. Essas palavras ainda me atormentam'', acrescentou.