Sindicatos e CUT marcam ato em defesa da “Revista do Brasil”

A censura à Revista do Brasil – que já dura nove dias – tem provocado revolta crescente nas entidades sociais e em órgãos progressistas. Nesta quinta-feira (03/8), a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) manifestou solidariedade à CUT e

Além disso, as entidades ligadas à Revista utilizam suas outras publicações para denunciar a manobra da campanha Alckmin e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 26 de junho, sem apresentar razões convincentes, o ministro Carlos Alberto Menezes, do TSE, julgou procedente uma representação coligação Por um Brasil Decente (PSDB/PFL) e censurou a revista. A coalização neoliberal, marcadamente avessa à liberdade de expressão e às entidades sociais, classificou como ''propaganda política'' um amplo e denso trabalho jornalístico.


 


Com isso, o primeiro número da revista (edição de maio) foi proibido de circular em qualquer meio de comunicação. A CUT também foi multada em R$ 21 mil, num ofensivo ataque a seu direito de informar os trabalhadores brasileiros. No mesmo dia da censura e da multa, a CUT e os sindicatos entraram com recurso para revogar a medida antidemocrática. A reação das entidades tem o apoio da ABI, que saiu em defesa da publicação e classificou a censura como uma ''exorbitância do TSE''.


 


Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da associação, Maurício Azedo, aconselhou a CUT a entrar com representação no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o direito à liberdade de expressão. ''A Constituição é clara quando diz que a lei não poderá constituir nenhum empecilho à liberdade de expressão do pensamento por qualquer meio de comunicação. O TSE cometeu um atropelo à Constituição'', afirmou Maurício Azedo, sem ressalvas.


 


A ótica do trabalhador
A disparatada decisão de Carlos Alberto Menezes será apreciada nas próximas sessões do TSE. Desse modo, os outros ministros do Tribunal terão a oportunidade de reverter a censura. ''Acredito que o TSE vá rever sua decisão'', declara Daniel Reis, diretor de imprensa da CUT/SP. ''Não é possível que os trabalhadores sejam proibidos de manter uma publicação própria, que não tenham direito a contar o seu lado da história, como fazem os mais poderosos por meio da grande mídia.''


 


A Revista do Brasil, atualmente na segunda edição, chega aos 360 mil associados dos sindicatos mantenedores. Seu intuito é divulgar ''informação apresentada sob a ótica dos trabalhadores''. O primeiro número trazia na capa o presidente Lula e uma matéria analisando os motivos que o levam a permanecer com a popularidade em alta, apesar da crise política do ano passado. Já o segundo número destaca a crise da Volkswagen, que pretende demitir mais de 6 mil funcionários no Brasil.


 


Os dois temas mostram a pertinência da publicação. Trata-se de mais um veículo para a classe trabalhadora expor idéias e se informar de modo crítico. Os textos da revista se aprofundam um a um, na tentativa de contextualizar os leitores. Mas o bloco conservador – capitaneado por PSDB e PFL, mais e interessado na alienação dos trabalhadores – alega que a divulgação da revista faz prática de conduta ilícita.  Algumas das matérias acabavam por ''ressaltar a suposta força eleitoral do atual presidente da República, ao informar que seu governo não desmantelou programas sociais e não privatizou direitos sociais e culturais'', segundo texto divulgado no site do TSE.


 


Que crime, afinal?
Se o argumento for válido, é preciso fechar praticamente todos os veículos da grande imprensa. A cada rodada de pesquisa de intenção de votos para as eleições de outubro, é notória a força nas camadas mais pobres de Lula, candidato à reeleição. Esse potencial não é gratuito. Analistas políticos, donos dos institutos de pesquisas e até jornalistas do establishment reafirmam justamente o peso dos programas sociais na predisposição do eleitorado.


 


PSDB e PFL citam nominalmente a matéria de capa (''O segredo de Lula'' – ''Diga-me para quem governas'') e ''Pavor de investigação'', sobre as dezenas de CPIs barradas na Assembléia Legislativa de São Paulo. Apontam uma suposta ''panfletagem eleitoral'' em favor de Lula e ''propaganda negativa'' em relação ao candidato Geraldo Alckmin. Uma vez que a base de sondagem são os trabalhadores, nada mais natural do que a preferência por um candidato egresso desse mesmo meio, cujo governo valorizou o salário mínimo, aumentou os índices de empregos formais e ainda legalizou as centrais sindicais. Interpretações e análises políticas não podem ser confundidas – como fez o TSE – com propaganda eleitoral.


 


''Criamos a revista com o objetivo de levar à população informações que outras revistas de grande circulação não trazem'', conta Luiz Cláudio Marcolino, diretor da CUT e presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. O dirigente diz temer que a proibição crie uma jurisprudência que impeça novos veículos de comunicação de circular em período eleitoral: ''Nossa avaliação é que se trata de censura prévia do TSE. Estamos tomando todas as ações jurídicas possíveis e podemos recorrer inclusive ao STF, se for preciso''.


 


''Revistas como Época, IstoÉ e principalmente a Veja fizeram capas extremamente ofensivas ao presidente da República, ao Partido dos Trabalhadores'', reforça o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo. ''E, muitas vezes, fazem isso em relação aos sindicatos e aos trabalhadores, e são tratadas dentro dos parâmetros da liberdade de imprensa''.


 


Da Redação, com agências