EUA debatem alternativas de como intervir em Cuba

Por Davis Brooks*
No calor tropical de Washington, políticos, agentes dos serviços de inteligência e estrategistas empresariais reiniciam o debate sobre qual tipo de intervenção os Estados Unidos deveriam realizar numa transição política em Cuba. Se a

Estas opções incluem desde usar esta conjuntura para acelerar o fim do regime de Fidel Castro até os que propõem que se avalia o estabelecimento de uma relação com o regime encabeçado por Raúl Castro, e mesmo começar a levantar o bloqueio econômico.



Não há “transição”



Aparentemente, depois de 48 horas de incerteza sobre se chegara “o momento”, a conclusão dos encarregados da inteligência e analistas é que, por enquanto, não há algo chamado “transição”. Conforme consideram fontes das agências de inteligência estadunidenses, o que foi anunciado sobre a transferência provisória de poderes, de Fidel para Raúl Castro, foi só um “ensaio” para uma futura transição.



“Este foi um movimento de teste para a transição, um ensaio”, comentou um funcionário da área de inteligência para o Washington Post. “É uma oportunidade para eles verem como funcionará. Estão observando suas ruas, bairros e lares, para ver como reagem as pessoas, os governos estrangeiros e os cubano-estadunidenses”, agregou.



Bush “não tinha nem idéia”



Porém se for verdade que os cubanos estavam realizando um “ensaio”, uma de suas conclusões seria que o governo de George W. Bush aparentemente foi surpreendido pelo anúncio de Fidel Castro. E não contava com informação prévia sobre o que ocorria nos círculos oficiais da Ilha.



O senador republicano Robert Bennett reuniu-se nesta quarta-feira com Bush e ao fim do encontro declarou: “O presidente comentou que todos foram surpreendidos” pelo anúncio da condição médica de Castro. “Creio que todos nós podemos dizer que não tínhamos nem idéia do que estava por acontecer”, reportou a agência AP.



Casa Branca “tem planos prontos”



Hoje, a Casa Branca e o departamento de Estado reiteraram que os EUA estão “prontos” a foerecer assistência a uma “transição” que desmantele o regime. No entanto, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McComarck, sublinhou: “Bem, neste momento não há uma transição. Temos planos prontos para a eventualidade de que o povo cubano tome a decisão por uma Cuba livre e democrática”; neste caso, “os EUA estão prontos caso o povo cubano dê uma indicação de que está pronto para essa transição para a democracia”, comentou.



McComrack insistiu que o governo Bush está preparado para apoiar uma transição, como está dito no mais recente informe da Comissão de Assistência  a uma Cuba Livre, onde se destina US$ 80 milhões ao apoio e promoção de uma mudança política pós-castrista.



Embora agentes dos órgãos de inteligência e porta-vozes do governo Bush tenham determinado que ainda não é “o momento” que tanto esperam, isso não impediu vários congressistas de começarem a buscar as formas de uma intervenção. O líder da maioria republicana no Senado, Bill Frist, junto com outros colegas prepara um projeto que “tira vantagem da incapacidade de Fidel Castro para promover medidas de construção da sociedade civil e da transição para uma Cuba democrática”, segundo um resumo da iniciativa que circulou no Capitólio.



A receita do Wall Street Journal



Por outro lado, intensifica-se o debate sobre que tipo de intervenção será mais efetiva num para um período de transição em Cuba. Vários periódicos ofereceram suas receitas em editoriais, e analistas e especialistas avaliam o quanto o governo estadunidense está ou não está preparado para intervir.



Talvez o caso mais notável tenha sido o do Wall Street Journal, ao especular que um governo encabeçado por Raúl Castro poderia imitar o modelo da China, abrindo a economia para o investimento estrangeiro e o setor privado cubano, enquanto tenta manter um estrito controle político.



“Se Raúl deseja avançar nessa direção, poderia desejar fazer alguns gestos conciliatórios em relação aos EUA, deixando de lado a retórica antiestadunidense de seu irmão e oferecendo cooperação em assuntos bilaterais. Os EUA terão que estar preparados para responder. Um passo que ajudaria agora seria revogar a Lei Helms-Burton, de 1996, que estipula que um presidente não poderia levantar o embargo comercial enquanto Fidel, Raúl ou qualquer um nomeado por eles esteja no poder.”



Um ex-agente da CIA opina



Embora a Casa Branca e líderes conservadores do exílio cubano em Miami tenham rejeitado a opção de reconhecer a Raúl Castro como novo interlocutor, ou de considerar uma mudança na política estadunidense, políticos de ambos os partidos, alguns especialistas e outros dirigentes cubano-estadunidenses assinalam que a atual política dos EUA e leis como a Helms-Burton limitarão ou anularão os manejos dos EUA diante das possibilidades de uma mudança na relação bilateral e de uma transição pacífica na Ilha.



Por exemplo, Brian Latell, ex-agente da CIA encarregado da América Latina e autor de Depois de Fidel, disse hoje que Raúl Castro “poderia muito bem implementar reformas econômicas internas significativas e até ter melhores relações com os EUA; estou convencido de que há boas evidências indicando ambas as coisas”.



Atualmente trabalhando como analista do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade de Miami, e do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Latell advertiu, em conversação eletrônica com o Washington Post: “Tewmos que estar dispostos neste país a evitar qualquer intervenção unilateral nos assuntos internos cubanos. Também devíamos estar preparados para dar assistência a um futuro governo para construir e consolidar a democracia.”



A receita do New York Times



O New York Times, em seu editorial “O princípio do fim de Cuba”, oferece sua receita para a resposta estadunidense a uma eventual transição, inclusive preparativos para evitar um enorme fluxo de refugiados, se esse governo se desestabiliza, e desalentar cubano-estadunidenses de regressar a Cuba de maneira “prematura”, para demandar propriedades ou postos oficiais.



O NYT também recomenda que Washington considere o estabelecimento de contatos com os sucessores de Fidel e Raúl Castro, “ainda que tenham raízes na ditadura”, assim como pensar em reduzir o bloqueio comercial. Mas tudo isso poderia ser complicado por membros da comunidade cubana de Miami. O jornal adverte que “a política posterior a Castro não deveria se converter num peão da política dos refugiados em Miami”.



A receita do Miami Herald



O Miami Herald opinou que, apesar da falta de informação sobre o que realmente ocorre na liderança cubana, “gente de boa vontade continuará esperando pelo dia em que Cuba fique livre da tirania”. No entanto, agrega, “ninguém sabe o que acontecerá quando [Fidel castro] realmente morrer”; e considera que “líderes dissidentes e movimentos populares poderiam surgir inesperadamente, como na Europa Oriental, para derrocar o governo estalinista. Ou não.”



Enquanto isso, opina o editorialista, “aqueles de nós fora da Ilha deveríamos continuar apoiando os dissidentes, advogando uma transição democrática no front principal”.
É possível que nunca tenha acontecido um debate tão público, tão explícito e tão aberto numa nação sobre a melhor maneira de intervir em outra.



* Corrrespondente em Washington do diário mexicano La Jornada; os intertítulos são do Vermelho