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Queremos sócios, não patrões, diz Morales no Brasil

Em Belo Horizonte, o presidente boliviano Evo Morales disse ontem (3) que seu povo quer sócios e não patrões que controlem seus recursos naturais. O governante esteve na capital mineira para participar da 47ª Reunião do Banco Interamericano de Desenvolvim

Morales disse que o interesse boliviano é encontrar meios de "exercer o direito de propriedade sobre os recursos naturais". O líder indígena foi eleito em dezembro com uma plataforma eleitoral em que se comprometia em nacionalizar as reservas de gás e aumentar o preço de exportação do produto, duas medidas que, dependendo da forma de implementação, conflitam com os interesses da Petrobras.

Diante da imprensa brasileira – que tem criticado sua política de fortalecimento e desenvolvimento nacional – Morales defendeu que os países latino-americanos e caribenhos que têm interesses associados devem investir e não saquear os recursos naturais uns dos outros. Segundo ele, os acordos comerciais devem beneficiar principalmente os pequenos empresários e agricultores, sem eliminar os mercados internos. 

 

 

O presidente anunciou que os povos bolivianos irão desenvolver em seu país uma revolução democrática e cultural, sem vergonha nem rancor, mesmo que tenham sido vítimas de massacres históricos. "Somos um país pequeno mas com muitos recursos naturais que jamais foram explorados em benefício de seu povo. Não é possível que as empresas sejam saqueadoras de recursos naturais sem levar em conta os interesses da população", disse à imprensa.

 

 

Sobre a nacionalização dos recursos naturais, anunciada recentemente, disse que não expropriarão ninguém, mas que exercerão o direito de propriedade sobre o que é boliviano. Morales disse esperar que sejam satisfatórias para as duas partes as negociações que terão ambos países sobre a questão do gás extraído e comercializado a empresa Petrobrás.

 

 

O governo boliviano anunciou também que realizará uma exaustiva auditoria no processo de capitalização do setor petroleiro, com o objetivo de determinar quais empresas têm recuperado seus investimentos e contam com a possibilidade de pagar impostos acima de 60% ou 70%. No final de março, a Petrobras respondeu declarando a interrupção de seus investimentos na Bolívia até que fossem retomadas as negociações com o governo boliviano. “Estamos preocupados, porque existe um conjunto de investimentos que tem de ser feito e cujo processo decisório está dependendo do que vai acontecer na Bolívia”, disse à imprensa na ocasião o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli.

 

 

 

Esta é a mesma opinião dos funcionários do governo brasileiro que nos últimos dias têm insistido na necessidade de um diálogo bilateral. Para o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o Brasil respeitará a decisão do governo boliviano de nacionalizar seu gás e petróleo.

 

 

"Há uma opinião amplamente compartilhada de que todas as condições para um acordo estão colocadas", disse. O que não está claro ainda são as garantias que a Bolívia dará à Petrobras e outras empresas que investem no país, comentou Garcia. O tema foi discutido em Belo Horizonte entre Morales, o secretário geral da chancelaria, Samuel Pinheiro Guimarães, e o subsecretário José Eduardo Martins durante essa rápida visita. Em no máximo dez dias, será realizada, no Rio de Janeiro, uma reunião entre delegações de ambos países para discutir o assunto de forma técnica.

Em entrevista ao Vermelho, Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia da Petrobras, a empresa tem interesse em uma manter uma parceria com o governo boliviano e está disposta ao diálogo. Segundo o especialista, a empresa já teria até elaborado um memorando com sete pontos para negociar com o governo Morales. "A situação é nova. Nós estamos numa empresa que seria neoliberal. Estamos fazendo o barco tomar outro rumo. Assim como a Bolívia, que também vive uma nova realidade".

Segundo o diretor, o Brasil quer colaborar com essa nova Bolívia. As contrapartidas que o governo brasileiro apresentará à Bolívia incluem a colaboração com o desenvolvimento do biocombustível, do gás natural voltado para a indústria local e treinamento de pessoal.

 

 

Investimento

 

 

A Petrobras é o principal investidor estrangeiro na Bolívia e controla a maior parte da indústria de hidrocarbonetos desse país, incluindo um gasoduto binacional com capacidade para transportar até 30 milhões de metros cúbicos de gás natural, destinado a regiões industriais do Brasil.

 

 

 

De 1996 até hoje, a Petrobras injetou na Bolívia US$ 1,5 bilhão, além de US$ 2 bilhões para trazer o gás ao Brasil. A empresa explora gás e petróleo em seis dos nove estados da Bolívia: em Tarija, Chuquisaca, Cochabamba, Beni, La Paz e Santa Cruz. É a maior empresa na Bolívia e responde por 15% do PIB do país.

 

 

 

Morales tomou posse no final de janeiro, depois de uma campanha cercada por um forte sentimento de esperança por mudanças nos destinos do povo boliviano. Líder indígena, ele foi também dirigente do forte movimento dos plantadores de folha de coca, responsável pela derrubada do ex-presidente Carlos Mesa. Sua eleição foi um importante passo na escalada de democracia e da luta pelo progresso social da América Latina.

 

 

Da Redação,

Mônica Simioni
Com agências.