Blog do Emir: Chávez conscientiza trabalhadores com Chaplin

O governo da Venezuela está exibindo o clássico Tempos Modernos, de Chaplin, para milhares de trabalhadores em todo o país. No final das exibições, feitas nas próprias fábricas ou em salas de conferência, funcionários do Ministério do Trabalho falam sobre

Mais uma razão para os grandes empresários privados ficarem furiosos com o governo venezuelano. Para ressaltar “os males do capitalismo selvagem”, o Ministério do Trabalho do governo de Hugo Chávez está exibindo, desde janeiro deste ano, o filme clássico de Charles Chaplin, Tempos Modernos, para milhares de trabalhadores em todo o país.


 


No final das exibições, feitas nas próprias fábricas ou em salas de conferencia, funcionários do Ministério falam sobre os direitos dos trabalhadores consignados em novas leis do governo, aprovadas no ano passado. Eles explicam que agora os trabalhadores podem exigir medidas preventivas de higiene e de segurança, podendo até mesmo conseguir a paralisação da produção se os proprietários se recusam a tomar as medidas legais. Em caso de violações graves e reiteradas das regras de segurança, o Estado pode confiscar a fábrica.


 


Um trabalhador de 29 anos, Roberto Maldonado, que trabalha em uma fábrica que produz 75 mil frangos por dia, recebendo salário mínimo, numa periferia deteriorada de Caracas, afirmou ao jornal estadunidense Los Angeles Times, depois de ver o filme: “Os proprietários atribuem sempre mais importância a suas maquinas do que a seus assalariados”. “Carlitos termina louco e eu também tenho a impressão que eu vou por esse caminho. De noite, quando eu volto pra casa, de tal forma cansado, que não dou atenção à minha mulher, à minha família”.


 


Do outro lado das máquinas, as quatro principais associações patronais enviaram carta ao governo, dizendo que projetar o patrão como um “vulgar explorador dos trabalhadores” apenas “suscita o ódio e o rancor dos assalariados”, “diabolizando o empregador”. Segundo eles, a nova legislação do trabalho seria uma punição a mais infringida ao setor privado.


 


Dizem que não se oporiam ao aumento da segurança dos trabalhadores, mas lamentam não terem sido consultadas antes da elaboração da nova legislação – a que estavam acostumadas nos governos anteriores. Lamentam eles também que agora os trabalhadores e seus representantes disporiam de um excessivo poder de intervenção no funcionamento das fábricas.


 


Já para Johnny Picone, um médico nomeado pelo presidente para dirigir uma nova agencia do Ministério do Trabalho dedicada à saúde dos trabalhadores e à segurança no trabalho, os trabalhadores têm necessidade de muito mais poder. Segundo ele, as condições descritas no filme de Chaplin são a “norma” na Venezuela, onde os acidentes de trabalho nas fábricas produzem mais de 1500 mortos e milhares de feridos anualmente.