García nomeia ministério e agrada a empresários peruanos

O novo presidente peruano Alan García anunciou na noite desta quinta-feira (27/7) os nomes que farão parte de seu ministério. As forças políticas que o apóiam se esforçaram para transmitir uma imagem de modernidade na lista divulgada, mas uma análise rápi

Os membros da Apra, partido de García, fizeram questão de propagar aos quatro cantos do país (e também para a imprensa internacional) algumas escolhas do novo governo: dos 16 ministérios, seis serão chefiados por mulheres e, no total, nove serão ocupados por tecnocratas, em detrimento de políticos de carreira. ''São técnicos independentes e qualificados'' e ''são pessoas dispostas ao diálogo'' foram alguns dos comentários ouvidos e relatados pelos jornais peruanos.



O presidente da Associação dos Exportadores do país, Luis Vega Monteferri, mostrou-se satisfeito com as escolhas de García. Para ele, o novo gabinete terá a capacidade de abrir novos mercados para os empresários peruanos. ''Felizmente teremos uma continuidade no trabalho que vinha sendo feito pelo antigo ministro de Comércio Exterior, Alfredo Ferrero'', afirmou, em nome de seus pares.



Neoliberais e ''direitização''



Por outro lado, lideranças progressistas do país também vieram a público para manifestar seu descontentamento com as escolhas do novo presidente. Para Carlos Tapia, porta-voz do Partido Nacionalista Peruano (dono de 45 das 120 cadeiras do novo Congresso e mesmo partido do general Ollanta Humala), há neoliberais em excesso no novo ministério. ''As escolhas mostram que a Apra definiu uma política de aproximação com a direita'', lamentou.



Para o analista político Manuel Torrado, os referidos ''técnicos independentes'' têm realmente grande conhecimento em suas áreas, mas são considerados profissionais muito conservadores. ''São nomes que certamente darão continuidade ao atual modelo econômico do Peru, embora talvez possam dar ênfase a políticas sociais e de geração de emprego'', afirmou.



O deputado Victor García Belaunde, líder da Aliança Parlamentária (bloco de pequenos partidos com nove cadeiras na nova composição do Congresso peruano), alerta para uma ''direitização'' exagerada de García. ''Esse governo sequer começou e já está repleto de gente de direita. Buscaram muitos neoliberais, isso é preocupante'', disse.



Outra fatura



O conservadorismo que deve marcar a política econômica do novo governo caracteriza uma grave quebra de promessa de campanha de García: ele havia prometido uma ''mudança responsável'' no atual modelo vigente no país, mas seu recente alinhamento às forças de direita fazem cair por terra essa expectativa.



Ao agir de modo a contentar os grandes empresários do país e a política externa norte-americana, García paga sua segunda fatura pelo apoio recebido da direita no segundo turno das eleições deste ano. A primeira já havia sido paga no final de junho, quando apoiou a aprovação do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. Fica a dúvida: quantas parcelas ainda restam para que a fatura seja quitada completamente?



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