Filma acusa família de motivar fuzilamento García Lorca

O fuzilamento de Federico García Lorca no começo da Guerra Civil espanhola (1936-1939) teve a influência de desavenças familiares. Na realidade, a morte do poeta espanhol aconteceu não apenas pelas suas idéias republicanas e sua condição de homossexual. V

Dirigido por Emilio Ruiz Barrachina, o filme sustenta que foram os primos do escritor por parte da família Roldán que instigaram a detenção e o assassinato de Lorca. Segundo Barrachina, “este fato era um boato entre os mais velhos de Valderrubios e Fuentevaqueros (povoados da região espanhola de Granada, ao sul do país)”. O cineasta disse que seu filme se baseia em novos documentos que abordam as circunstâncias da morte do poeta. O fuzilamento completa 70 anos em 18 de agosto.


 


O filme se baseia na constatação de que, desde o século 19, as famílias García Rodríguez (do pai do poeta), Roldán e Alba dominavam a Vega de Granada, região onde Lorca nasceu em 1898, e mantinham velhas divergências. Entre as origens dos desentendimentos estão as distribuições de terras compradas em sociedade, a homofobia e as diferentes tendências e ambições políticas nos alvores da Guerra Civil. Os Lorca eram republicanos e os Roldán, partidários do movimento conservador Ação Popular.


 


Tais circunstâncias se agravaram quando García Lorca publicou em 1936 A casa de Bernarda Alba, obra na qual, segundo Barrachina, o poeta destila seu veneno contra as famílias brigadas em uma espécie de “vingança pessoal”. Com o golpe militar de 1936 que deu o início à Guerra Civil espanhola, essas pessoas aproveitaram “para acertar contas pessoais”, diz também Barrachina.


 


Retaliações e surpresas
Todas essas revelações estão documentadas no filme, inclusive a de que José Luis Trescastro Medina, um dos autores materiais do assassinato, era o marido de uma prima distante do pai do poeta. “Foi quem, depois do assassinato, contou que havia introduzido duas balas no ânus de Lorca pela sua homossexualidade”, disse Ian Gibson, um dos historiadores que investigou o episódio mais profundamente.


 


Segundo o filme, após o golpe de Estado de Franco, o governador militar de Granada encarregou os Roldán da formação de esquadras negras para dizimar a população da região, e os primos de García Lorca aproveitaram a circunstância para matar o poeta. O documentário também considera que a homofobia no ambiente político também foi uma “das causas da morte” do autor de Poeta em Nova York, segundo Ruiz Barrachina.


 


“Sempre”, acrescentou, “se tentou esconder sua homossexualidade, inclusive a esquerda, já que um mártir de esquerda não podia ser homossexual”. Nessas circunstâncias, e após retornar de Madri para Granada, Federico García Lorca foi aprisionado na casa da família de Luis Rosales e levado à noite para um lugar entre os municípios granadinos de Víznar e Alfacar, onde as chamadas “esquadras negras” o assassinaram.


 


“A família de Lorca está tão surpresa quanto nós”, afirmam os autores do documentário, no qual os parentes se justificam pelos 70 anos de silêncio sobre a morte do poeta por este tema ser um “tabu” para eles. Com mais de uma hora e meia de duração, “Lorca, el mar deja de moverse”, título extraído de um verso do próprio poeta, traz 25 depoimentos, os quais, segundo o diretor, “vão revolucionar o mundo lorquiano”.