PCdoB defende crescimento com inclusão social para programa de Lula

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, em entrevista coletiva aos correspondentes internacionais, nesta quarta-feira (26), em Brasília, falou sobre a campanha eleitoral e o que representa a vitória de Lula para um segundo mandato em termos de política e

Essas reuniões vão ocorrer sempre as segundas-feiras, no Palácio do Alvorada. O conselho pretende concluir o programa até o final deste mês. ''Duas grandes ações que o PCdoB defende são, no campo social, universalizar a educação de qualidade, que exige grandes investimentos; e no plano da infraestrutura, que foi muito sucateada, o que deve ser a pedra angular é a questão energética, com grandes investimentos na busca de fontes alternativas e renováveis de energia; e o Brasil, em termos comparativos com os demais países do mundo, é quem tem mais potencial para isso'', adiantou Renato Rabelo. 


 


O presidente do PCdoB disse ainda que existe consenso entre todos os participantes da reunião de que é preciso haver crescimento econômico mais acentuado do Brasil, destacando a concepção de crescimento dos comunistas. ''Crescimento com inclusão social'', definiu Rabelo, explicando que deve haver ''investimento social forte e aumento real do salário-mínimo''.


 


Para ele, o debate é necessário porque há setores que alegam que esse modelo gera inflação. ''A polêmica com os tucanos é de que o Brasil precisa crescer, mas defendemos crescimento com aumento de salário e distribuição de renda, que deve ser a ênfase desse programa''.


 


Aglutinar forças


 


Renato Rabelo falou ainda sobre a composição de forças para a campanha política e a governabilidade no segundo mandato. ''A posição do PCdoB sempre foi de aglutinar forças, porque o governo é eleito e não tem  maioria; por isso defendemos uma frente ampla, com base em um programa comum e um núcleo central que diriga essa frente''.


 


Ele admite que na prática, a teoria não é simples, destacando ainda que ''não podemos impor posições nossas a todo o governo'', mas insistiu na necessidade de ''fazer esforço de unir o PMDB, como força de centro, e tentar construir programa de governabilidade, como sugerimos em 2002, e que não foi compreendido na época. E se procurou construir, de forma artifical, um centro político'', explicou.


 


O líder comunista lembrou que ''o aspecto mais positivo do governo, que ninguém pode criticar, é a política econômica e social, mas existe consenso de que haverá flexibilização da política econômica''.


 


E destacou outro ponto importante do programa, e que repreenta discordância com os opositores, que é a política externa do Presidente Lula, que pretende fortalecer a integração da América Latina e aprofundar a relação Sul-Sul.


 


Reflexos positivos


 


Renato Rabelo avalia que o resultado das eleições no Brasil, quando estão em jogo os principais cargos da República – presidente, senadores, deputados federal e estadual e governadores – tem reflexo em toda América Latina. ''Se Lula for derrotado, há um impacto negativo para esse ascenso do movimento de caráter democrático na América do Sul'', avalia.


 


Ele diz ainda que ''a sua vitória vai influir no sentido positivo. O Brasil é um país importante na América do Sul e tem jogado forte na integração do continente, que não é um processo simples; é demorado, complexo, difícil, não se faz de forma imediata, porque envolve países diferenciados, com desenvolvimento desigual''.


 


Para o presidente do PCdoB, ''esse esforço se iniciou de forma mais efetiva com o presidente Lula, não só de fortalecer e ampliar o Mercosul, que conseguiu êxitos que nenhum outro governo consegiu antes, como na tentativa de unir a comunidade sul-americana''.


 


Ele critica os opositores que ''tentam confundir a opinião pública, dizendo que houve fracasso a qualquer dificuldade ou obstáculos, confundindo o sentido histórico que tem a integração, que ainda pode ter muitos reveses''.


 


Cenário mundial


 


Segundo Rabelo, a avaliação da campanha eleitoral e um segundo mandato do Presidente Lula deve considerar o cenário político e econômico mundial. Ele falou sobre a situação mundial, destacando a ameaça à paz e ao próprio equilíbrio. ''O Oriente Médio é sempre um barril de pólvora, e essa instabilidade cria situação de insegurança, sobretudo para os países periféricos. Esses países sofrem grandes ameaças''.


 


O líder comunista enfatiza a situação atual como ''um mundo em que prevalece a política dos Estados Unidos, do presidente Bush, uma política agressiva, de guerra, que se baseia na força e provoca grandes ameaças aos povos do mundo inteiro. E que possui uma visão e postura unilateral para resolver problemas''.


 


Sobre a situação econômica, Renato Rabelo lembrou que ''o período dos últimos três e quatro anos de desenvolvimento foi uma ilha no período que se vivia depois dos 30 anos do pós-guerra, mas não se tem certeza que vai continuar assim, vai exigir ajuste, que não sabemos se serão abruptos ou progressivos''. Ele vê também ameaça na situação econômica, que afeta os países periféricos.


 


E analisa que os programas de governo devem levar em consideração esse cenário – se será de um mundo de relativa paz ou situação de mundo mais confragado, com economia mais difícil. ''Os programas têm que ser analisados dentro de cenários. Não se deve seguir a visão voluntarista, porque uma coisa é a vontade, outra coisa é a realidade objetiva'', destaca.


 


Problemas de campanha


 


''A situação brasileira atual, de campanha, Lula é favorito para um segundo mandato – pode ganhar no primeiro ou segundo turno. A eleição é curta e a possibilidade de vitória é grande, mesmo com toda a campanha contra o governo'', disse ainda Renato Rabelo, ao analisar o período eleitoral.


 


Ele se queixou da maioria da mídia no Brasil, ''que é contra o governo'', explicando que a situação é reflexo do fato de ''a mídia no Brasil é controlada por famílias, que tem grandes interesses e compromissos nos setores dominantes. Isso tem consequências. Os editores mais importantes da TV Globo são tucanos, muito mais vinculado ao PSDB do que a nós''.


 


Outro problema que reflete na campanha, segundo Renato Rabelo, é que para governar, o presidente precisa de maioria política, uma situação que se repete desde Getúlio Vargas. ''Esses governos que tem sentido progressista, que enfrentavam parte dos interesses dominantes, tiveram que suportar grande pressão também contra eles, como Getúlio (Vargas), Juscelino (Kubischeck), para não falar de Jango (João Goulart)''.


 


Ele acredita que ''o mesmo acontece com Lula, que tem origem popular, mesmo sendo um governo ortodoxo, mas eles (a elite) não aceitam, não tem confiança no Lula, preferem a aliança PSDB-PFL''.


 


Embora não tenha feito parte da pauta da reunião do conselho político, o líder comunista disse que ''no quadro estratégico, a tática de campanha é avançar na classe média, porque a posição nos grotões está bastante consolidada''. Disse ainda que se deve ter cuidado com as aparências, porque, ao contrário do que parece,  ''a elite não tem confiança em Lula e os movimentos sociais estão com ele''.


 


E citou ainda dois exemplos de que as aparências enganam: o apoio da candidata ao governo do Maranhão, Roseana Sarney, do PFL, ao presidente Lula; e a posição do candidato à reeleição ao governo de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB, que não está fazendo campanha para o candidato tucano, Geraldo Alckmin, tendo gerado no Estado um movimento chamado de ''Lulécio'', que representa a união de Lula e Aécio.


 


De Brasília
Márcia Xavier