Guerra Civil espanhola: um momento marcante para o jornalismo

A Guerra Civil espanhola foi um acontecimento histórico trágico, porém um dos momentos mais marcantes da história do jornalismo, ao reunir nomes do porte de John dos Passos, George Orwell, Ernest Hemingway, Antoine Saint-Exupery e Kim Philby.

“A era dourada dos correspondentes” é o tema de uma exposição celebrada no Instituto Cervantes de Nova York, inaugurada nesta quinta-feira, dois dias depois dos 70 anos do golpe de Estado militar que deu origem ao conflito (1936-1939).


 


A razão por que talentos semelhantes se sentiram atraídos pela Espanha teve a ver com o fato de que “a guerra foi o campo de batalha de duas formas de ver o mundo e eles lutaram não só como profissionais, mas também por suas idéias”, explicou o curador da mostra, Carlos García Santa Cecilia.


 


Em uma época de grande fervor ideológico e de baixas menores – cinco jornalistas morreram no conflito, enquanto no Iraque 74 perderam a vida -, homens como o americano Hemingway e o espião britânico Philby assentaram as bases de uma lenda que os levou ao panteão dos grandes nomes do século XX.


 


Ajudado pelos bons contatos de seu amigo, Sidney Franklin, um toureiro americano que se ocupou para que nunca lhe faltasse comida e álcool, Hemingway, correspondente do The New Republic, ganhou em Madri a fama de fanfarrão e bebedor incansável que o acompanharia até o túmulo.


 


Philby, que já trabalhava para os soviéticos, estreou sua vida de duplo espião ao começar a colaborar também com os serviços secretos britânicos, enquanto cobria para o The Times a guerra no lado de Francisco Franco, que acabaria condecorando-o.


 


Martha Gellhorn, uma das primeiras mulheres correspondentes de guerra, se tornaria a terceira esposa de Hemingway, enquanto o britânico George Orwell (“Homenagem à Catalunha” e “1984”) alternou seu trabalho com as armas até ser atingido por um tiro no pescoço.


 


Um mês depois de iniciada a guerra, o francês Antoine de Saint-Exupery (“O Pequeno Príncipe”) alertava sobre a crueza dos combates em um artigo para o “L'Intransigeant”, no qual destacou: “os homens não respeitam mais uns aos outros”.


 


“A Segunda Guerra Mundial, que veio depois, não congregou tal grupo de jornalistas, escritores e intelectuais como a Guerra Civil espanhola. Não há nenhuma guerra nos tempos modernos que tenha despertado paixões tão parciais”, lembrou Santa Cecilia.


 


No entanto, as grandes exclusivas sobre o conflito acabaram sendo escritas por nomes menos conhecidos. Como o do americano Jay Allen, do “The Chicago Tribune”, que foi “provavelmente o correspondente mais bem informado dos dois lados”, segundo o catálogo da exposição.


 


Marinheiro, filho de um advogado abastado, e formado em Harvard, Allen assinou três artigos que, junto das reportagens do português Mario Neves sobre a matança que se seguiu à entrada das tropas de Franco em Badajoz (sudoeste) e a reportagem do também americano George Steer sobre o bombardeio de Guernica, foram os mais importantes da guerra.


 


Um desses artigos se tornou a primeira entrevista concedida por Franco a um correspondente estrangeiro. Nela, Allen lhe perguntou se estava disposto a “matar meia Espanha” para vencer, ao que o ditador respondeu, sorrindo, que ganharia “custe o que custar”.