Valton de Miranda Leitão – O petróleo é nosso

O meu interesse pela Psicanálise sempre correu paralelamente ao envolvimento com a política. Quando o parlamento senatorial, por iniciativa de um senador cearense, resolve instalar uma CPI da Petrobras, penso imediatamente no que se esconde nas entranhas

A força do pensamento freudiano me ensinou a confiar desconfiando de todo moralismo religioso e político. Durante décadas Mr. Link disse que o Brasil não tinha petróleo com a autoridade que lhe conferia o diploma harvardiano de senhor das geologias profundas.


 


Hoje, sabemos, contra as elucubrações cientificistas linkianas que o subsolo brasileiro possui uma das maiores camadas de petróleo do mundo. Ontem, se dizia que a globalização dos mercados seria o sacrossanto remédio que, juntamente com as santíssimas privatizações de todas as iniciativas empresariais, salvaria o mundo das mazelas da pobreza e da destruição da natureza planetária.


 


De repente, o grande mote ideológico de economistas medalhados caiu por terra, fazendo enorme estrondo, levando o mundo intelectual e político a desconfiar da banca financeira e de todo o Sistema do Capital. O ataque às ideias universalizantes de respeito pelo semelhante e distribuição mais equitativa da riqueza mundial foi implacavelmente patrocinado pelos ideólogos da globalização.


 


Freud disse que a humanidade sofreu três grandes ferimentos narcísicos: o primeiro, quando Copérnico afirmou que a Terra não era o centro do universo, o segundo quando Darwin disse que não descendíamos de Adão, mas do pequeno macaco pitecantropos erectus e o terceiro, quando a Psicanálise descobriu que não governávamos a nossa própria mente, porque dependíamos de motivações inconscientes.


 


Agora, os teóricos do capital global, juntamente com seus patrões instalados no FMI estão feridos porque descobriram que o mundo não lhes foi destinado por Deus e que o poder econômico, político e militar, antes baseado nos EUA, agora se espalha entre China, Índia, África do Sul, Europa e Brasil. Os outrora orgulhosos senhores do mundo, algumas centenas de bilionários e alguns milhares de milionários, descobriram que existem milhões de seres humanos olhando com respeito para um cara genial, operário brasileiro, enquanto aguardam com grande expectativa as iniciativas de um negro com nome árabe-muçulmano transformado com extraordinária votação em presidente dos EUA.


 


É demais para a “cultura branca de olhos azuis” que se imaginava aliada incondicional do deus do ouro, Plutão, pois, ferida na sua ilimitada vaidade, tenta recompor, depois da queda, seu sistema de poder no Brasil e no mundo.


 


O ataque à Petrobras, embora com fins eleitoreiros, com a instalação da tal CPI, está na mesma rota de desespero da burguesia mundial que patrocinou a sandice das privatizações desenfreadas. A estatal Petrobras é considerada por revistas especializadas como uma das mais sérias empresas do mundo, ocupando o quarto lugar no ranking internacional.


 


O respeitado engenheiro, petroleiro e político Eudoro Santana diz: “Se para o mundo a Petrobras é um exemplo, para nós brasileiros é um patrimônio, é um orgulho nacional”. Mais abaixo no mesmo artigo: “É por isso que ela foi considerada a ‘Empresa dos Sonhos dos Jovens’ em pesquisa realizada pela ‘Cia de Talentos’”.


 


Destarte, não deveria ser alvo da mesquinharia política, certamente prejudicial ao interesse nacional. Por outro lado, quando se pensa na mentalidade grupal e individual instalada no ninho PSDB–PFL (DEM) seria possível perguntar que lamacenta raiva e interesses movem tal zelo inesperado pelo patrimônio nacional! O patrimônio brasileiro que o governo FHC, como ninguém, soube macular, destroçar e destruir.


 


É mister voltar ao lema “O Petróleo é Nosso!” que ajudou a constituir a Petrobras, porque nisso está por extensão incluída a defesa do aço, da água, do etanol, da Amazônia, do oxigênio e do ambiente. O momento no mundo pertence às forças de esquerda que precisam se armar teórica e politicamente, atacando com vigor a mediocridade de toda e qualquer elite econômico-financeira.


 


Valton de Miranda Leitão é Psiquiatra