Lula defende Mercosul contra “cabeças colonizadas”

Uma dura crítica às “cabeças colonizadas dos nossos dirigentes”, e a proclamação de que “nós simplesmente não falamos mais em Alca”, marcaram o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao assunir, na cúpula de Córdoba, nesta sexta-feira (21), a pr

Lula lembrou que em cada país do bloco econômico “tem setores organizados torcendo para que o Mercosul não tenha resultados, torcendo para que não façamos o nosso complexo energético, integrando os nossos países, torcendo para que outros países não venham ao Mercosul, achando que nós temos que ceder sempre, como sempre cedemos à vontade dos países ricos.”



“Os que escrevem contra o Mercosul”



“Se a cada seis meses nós construirmos um passo adiante, poderemos, de forma orgulhosa, ver derrotados aqueles que escrevem diariamente contra o Mercosul, aqueles que acham que os nossos países só deveriam ter relação com os Estados Unidos, mesmo que os Estados Unidos não quisessem”, afirmou Lula.



Sobre a Alca, o presidente brasileiro comentou, com ironia, “como era nervoso esse Continente, entre Alca e não-Alca”, e agregou: “Nós, simplesmente, não falamos mais em Alca, simplesmente, a tensão desapareceu”. Lembrou ainda que, “afinal de contas, já faz quase dois séculos que nós deixamos de ser colônia e nem queremos voltar a ser colônia”.



Lula avaliou que “nós fizemos uma pequena revolução, na mudança do nosso Continente”. E voltou a afirmar que “não há saída individual para nenhum país da América, não há nenhuma saída individual. A saída é estarmos fazendo o que estamos fazendo aqui”, sublinhou. A perspectiva a médio prazo — Lula falou em bem menos de 15 anos — é ter um bloco “do México até a Patagônia, todo mundo participando do Mercosul, passando pelo Caribe e trazendo Cuba junto”.



Problemas entre vizinhos



“O Brasil assume a presidência pro tempore do Mercosul, plenamente consciente da importância deste momento, consciente das divergências, consciente dos problemas políticos que enfrentamos”, disse também o presidente brasileiro, ao enfrentar o espinhoso problema das críticas de países menores — o Uruguai e o Paraguai — que se sentem injustiçados pelos maiores.



Aos maiores, Argentina, Brasil e, agora, a Venezuela, Lula indicou que ao tratar tais divergências “nós temos que ser sempre generosos, para que possamos fazer concessões, mesmo contrariando interesses locais, às vezes agrupamentos de empresários ou às vezes, quem sabe, até agrupamento de trabalhadores”. E deu o exemplo de sua reação diante da nacionalização do gás pela Bolívia, em maio: “Eu disse para a imprensa brasileira, não esperem que eu vá brigar com o Evo Morales e com a Bolívia. Nós temos maturidade para, na divergência e na adversidade, construir o consenso”, frisou.



A presidência pro tempore do Mercosul é exercida em rodízio pelos membros plenos do bloco, por seis meses cada um; ao final de cada gestão, os presidentes se reúnem em uma Cúpula. Na reunião que teve lugar ontem, em Córdoba, 700 km a noroeste de Buenos Aires, a Argentina passou a presidência ao Brasil para o próximo semestre. A Cúpula de Córdoba — a 30ª da história do Mercosul — foi assistida por oito presidentes: além de Lula e do anfitrião Néstor Kirchner, estavam presentes Nicanor Duarte (Paraguai), Tabaré Vázquez  (Uruguai), Hugo Chávez, (Venezuela), Michelle Bachelet (Chile), Evo Morales (Bolívia) e Fidel Castro (Cuba).



Com Presidência da República