Espanhóis querem investigação e reabilitação das vítimas da Guerra Civil

“Em um 18 de julho, há 70 anos, a Espanha mergulhava numa guerra civil que marcou toda sua história e se estende até hoje como uma sombra não completamente integrada na sociedade. Pesquisa mostra que maioria dos espanhóis quer que se investigue a guerra c

Em um 18 de julho, há 70 anos, a Espanha era mergulhada numa guerra civil, que marcou toda sua história e se estende até hoje como uma sombra não completamente integrada na sociedade. Militares anti-republicanos, agrupados no Marrocos, dirigidos por Franco, se insurgiram contra a segunda república e deram início a um dos conflitos mais prenhes de significados no século passado. O franquismo governou a Espanha durante quatro décadas, seus afiliados sobrevivem no Partido Popular de Aznar, em órgãos de imprensa – como o clássico jornal ABC – e em múltiplas formas de sobrevivência, na consciência das pessoas, nos valores ainda imperantes na sociedade espanhola.


Apesar do silêncio que se impôs sobre quase tudo o que aconteceu na guerra civil e no franquismo, pela forma pactuada de transição democrática – que tem, entre outros aspectos institucionais, a sobrevivência da monarquia -, os netos se dirigem aos avós para perguntar sobre aquele período, buscando superar o silêncio que seus pais assumiram.


Em pesquisa publicada nesta terça-feira (18) em El País, 64% dos espanhóis afirmam querer que se investigue a guerra civil e se reabilite as vítimas. Se entre os que votam no PP há uma divisão pela metade entre uma e outra opinião, entre os que votam no PSOE, 77% estão favoráveis à investigação e reabilitação, e 80% entre os que votam em Esquerda Unida.


Perguntados se sabem o que aconteceu no dia 18 de julho de 1936, ¾ respondem negativamente. 58,5% dizem que não lhe explicam ou explicaram na escola o que aconteceu na Espanha em 1936. 61% afirmam que a data lhes produz um sentimento negativo.


Diante da famosa afirmação da existência das “duas Espanhas” –“españolito que viene/ al mundo te digo/ uma de las dos Espana/ há de helarte el corazón”, segundo o famoso poema de Antonio Machado -, 54,6% considera que elas continuam presentes atualmente, mais os que votam no PP (58,3%) e os que votam na esquerda radical – Esquerda Unida: 64%.


43,3% dizem que têm na família alguma vítima da guerra civil. 48,8% afirmam que se fala na família sobre a guerra civil, mas 50,1% dizem que não se toca no tema.


O governo de Zapatero retomou alguns temas pendentes, com toda sua carta acumulada, porque silenciada: a substituição do ensino de religião por uma disciplina de formação da cidadania, uma proposta de resgate da memória histórica e a transformação do “Memorial de los caídos”, construído pelo trabalho forçado dos presos republicanos para homenagear aos franquistas em um monumento a todas vítimas da guerra civil. Encontra fortes resistências no PP e está descaracterizando bastante as iniciativas iniciais, submetendo-se assim às críticas da Esquerda Unida, a força política mais conseqüente no republicanismo na vida política espanhola. A pesquisa pode fortalecer estas posições de uma abordagem mais profunda do passado espanhol do que uma aproximação maquiada, que impeça que esse passado possa ser assimilado e se tornar efetivamente passado.