Em crise e sob péssima gestão, Masp implora ajuda do governo

O Museu de Arte de São Paulo vive em crise financeira há 12 anos, quando foi eleito o atual presidente da instituição. A diretoria espera injeção de verba direta do governo do Estado e da União, assim como já recebe da Prefeitura. Em ano de eleição de

O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) é uma referência mundial. O seu patrimônio cultural não se destaca apenas pelo seu rico acervo – o maior da América Latina – mas também pelo projeto arquitetônico do prédio localizado na Avenida Paulista, em São Paulo. O projeto de Lina Bo Bardi é um marco da metrópole e da arquitetura moderna.


 


Mesmo com toda história gloriosa, o Masp passa por um período difícil há cerca de 12 anos. Em maio, a crise financeira do museu chegou ao limite. O fornecimento de energia do prédio foi cortado por três dias devido a uma dívida que já ultrapassava R$ 3,5 milhões com a Eletropaulo.


 


Desde junho de 1997, o Masp deixou de contar com uma direção técnica especializada. O último curador-chefe, o historiador da arte Luiz Marques, retornou às suas atividades de pesquisa e docência na Unicamp em julho daquele ano. Foi na época em que o museu conseguiu atingir seu recorde de visitantes, 700 mil, durante a mostra de pinturas do francês Claude Monet. Em 2002, ano de Copa do Mundo, promoveu uma exposição com claro cunho apelativo, 'Pelé: A Arte do Rei'. Tinha uma previsão de vender 600 mil ingressos – atingiu apenas a marca de 60 mil visitantes.


 


Quando ficou no escuro, o Masp acabava de inaugurar uma mostra do impressionista francês Edgar Degas (1834-1917), 'Degas: O Universo de um Artista', que vai até o dia 20 de agosto, em uma tentativa de recuperar os números perdidos. Apesar de muitas peças serem empréstimos de museus como o Metropolitan, de Nova York, e o D'Orsay, de Paris, a exposição poderia ser uma das mais corriqueiras, visto que a maior parte do acervo é do próprio museu, mas está sempre alugada em mostras no exterior para o pagamento de dívidas.


 


A atual crise do Masp começou no processo eleitoral à presidência da instituição em 1994, que elegeu o atual presidente, Júlio Neves, por uma diferença de apenas um voto. As discordâncias surgiram pelos ambiciosos projetos do então candidato, que acabaram resultando na perda da curadoria permanente e na enorme dívida.


 


Apenas como exemplo, em 2005, já atolado em dívidas, Júlio Neves resolveu adquirir um prédio vizinho ao museu. Uma negociação de R$ 12 milhões para uma obra no mínimo excêntrica, fazer um mirante de 129 metros de altura na Avenida Paulista.


 


Em junho deste ano, o Masp passou a contar com o Certificado de Reconhecimento de Instituição Cultural, concedido pela Secretaria de Estado da Cultura. Com o título, o museu ficará isento do pagamento de Imposto sobre Transmissão 'Causas Mortis' e doação de quaisquer bens ou direitos (ITCMD).


 


O silêncio do presidente
'Carta Maior' decidiu então analisar o impacto da concessão do certificado, no sentido de saber se realmente traria benefícios para tirar a instituição da crise e tentar compreender qual a real situação administrativa do museu. Foi uma jornada de mais de 20 dias para conseguir respostas do presidente do Masp. Julio Neves não quis agendar entrevista com a reportagem nem falar pelo telefone. A diretoria pediu, então, que encaminhássemos as perguntas via Internet. Dez dias depois, o diretor secretário geral do museu, João da Cruz Vicente Azevedo, respondeu às questões por e-mail.


 


Azevedo justifica a difícil situação financeira devido à ausência de fontes permanentes de provedores. No entanto, afirma que 'a situação administrativa é plenamente satisfatória graças aos esforços dos corpos diretivos e ao bom nível de seus funcionários'.


 


O diretor espera também mais iniciativas do poder público, com incentivos financeiros diretos do governo do Estado e da União. O Masp já tem grandes benefícios através da Lei Rouanet e conta com uma subvenção anual da Prefeitura de São Paulo. Neste ano, está previsto receber do município R$ 1.120.000. O benefício recém-editado pela Secretaria Estadual de Cultura deve amenizar algumas dificuldades financeiras, já que possibilita doações sem ônus fiscal, segundo a direção da instituição.


 


João da Cruz Azevedo afirma que, apesar de toda crise, há um crescimento no número dos visitantes com a exposição de Degas e iniciativas como o Serviço Educativo, afirmando que o museu está tendo uma boa performance. Não é à toa também que a tentativa de reerguer o número de visitantes com Degas está acontecendo este ano. Conforme mostram os anais da instituição, todo ano de eleição da presidência sempre é organizada uma obra mais expressiva para destacar os processos administrativos da instituição e evitar debater a raiz da crise que assola o museu.


 


Estimativas apontam que as dívidas do museu somadas ultrapassam R$ 10 milhões. Além da dívida de luz de cerca R$ 3,5 milhões, uma ação judicial movida pelo INSS, exigindo o pagamento de R$ 3 milhões, dificulta a obtenção de recursos das leis de incentivo à cultura. Um quadro de R$ 4 milhões teve de ser dado em juízo como garantia. O acervo do Masp conta com 7.517 obras de artistas como Ticiano, El Greco, Van Gogh e Degas. O valor da coleção é estimado em US$ 1,2 bilhões.