Tucanos são orientados a insinuar ligação entre PT e PCC

A ordem pode ter partido do comando de campanha do presidenciável tucano Geraldo Alckmin. Os principais caciques do PFL e do PSDB foram orientados a insinuar que os recentes ataques criminosos em SP estão sen

 


Os responsáveis pela comunicação da campanha tucana acreditam que acusando o PT de estar por trás dos ataques, poderão minimizar o impacto negativo que a nova onda de violência terá sobre as candidaturas do PSDB, partido que esteve à frente do governo paulista na última década e que é o principal responsável pela má gestão das questões de segurança no Estado.


 


Em maio, quando SP viveu a primeira onda de violência patrocinada pela organização criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital (PCC), o marqueteiro dos tucanos, Luiz Gonzalez, orientou as lideranças do PSDB e do PFL a adotarem um discurso único, culpando a suposta falta de repasse de recursos federais pela crise de segurança no Estado. A estratégia, na ocasião, parece ter dado resultado pois uma pesquisa do Datafolha feita dias depois detectou que parte considerável da população via o governo federal como responsável direto pela situação.


 


Agora, a orientação é mais incisiva: busca-se identificar o partido do presidente Lula como co-responsável pelas ações criminosas. A orientação de apontar o dedo acusador contra o PT vem sendo seguida à risca. Todas as principais lideranças tucanas e pefelistas procuraram a imprensa para insinuar a ligação entre o PT e o PCC.”. A estratégia é seguir a velha máxima de que uma mentira repetida mil vezes tende a ser encarada como verdade.


 


O primeiro a atacar o PT com a calúnia arquitetada no comando da campanha tucana foi o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Ele afirmou na quarta-feira, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que o PT poderia “estar manuseando, manipulando essas ações (do PCC).” Ainda segundo o senador, “o PT vive no submundo e nada mais me espanta nesse partido.”


 


E continuou: “O PT vive no submundo de Santo André (onde o prefeito petista Celso Daniel foi assassinado), vive no submundo do mensalão (acusação de pagamento de votos no Congresso) e vive no submundo do MSLT (o movimento de sem-terra que invadiu e depredou o Congresso e cujos líderes estão sendo denunciados). Então, tudo é possível, nada seria surpresa.”


 


Só depois das declarações tão contundentes o presidente do PFL fez ressalvas. “Não estou acusando, mas mantenho minhas desconfianças”, disse primeiro. “São dúvidas, não afirmativas”, acrescentou em seguida. Ele já foi o centro de uma polêmica nacional, ao dizer que queria se ver livre “dessa raça”, referindo-se ao PT.


 


No dia seguinte, foi a vez do candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, repetir as mesmas ilações. Serra afirmou que são fortes os indícios de que há ligações entre o PT e o PCC . “Há indícios, sim. Basta você olhar manifestos do crime organizado, o que eles dizem sobre a política e coisas que se diz que eles (PCC) dizem, inclusive nas gravações. Eu não diria que há provas, mas isso merece ser investigado”, comentou.


 


O candidato a vice-governador de São Paulo na chapa de Serra, Alberto Goldman (PSDB), também bateu na mesma tecla. “Há informações de que o PCC, em suas áreas de atuação, tem trabalhado contra os candidatos do PSDB. Não quero suspeitar sobre a quem isso interessaria.”


 


O quarto a repetir a seguir a orientação de dar conotação eleitoral aos ataques do PCC foi o vice de Alckmin, o senador José Jorge (PFL-PE). Ele manifestou a suspeita de que os ataques têm por objetivo prejudicar a candidatura de Alckmin, governador de São Paulo até recentemente. “Há uma coincidência: quando as pesquisas estão a favor de Alckmin, os ataques recomeçam. O PCC trabalha de acordo com as pesquisas?”, ironizou o candidato à vice-presidência.


 


José Jorge não vinculou diretamente as ações criminosas ao PT como fez o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), mas disse que Bornhausen fala pelo partido e, se afirmou que o PT pode estar manipulando o PCC, deve possuir alguma informação sobre isso. “Pode ser apenas uma coincidência, mas tem acontecido”, acrescentou Jorge.


 


Por fim, o próprio candidato da direita, Geraldo Alckmin, deu corda para a especulação levantada por seus colegas. Alckmin disse ontem considerar “muito estranha” a nova onda de ataques de quadrilhas de São Paulo e cobrou uma investigação das forças policiais sobre quem poderia estar por atrás desses atos de violência. “Tem muita coisa estranha por trás de tudo isso. Mas eu não vou fazer qualquer observação política. Acho que cabe aos órgãos policiais a investigação profunda dos fatos e de suas origens. É estranha a forma como as coisas ocorrem, a época e a maneira como os atos foram desencadeados. Mas não vou politizar esse debate — afirmou Alckmin, logo depois de desembarcar em Brasília para reunião com o comando da campanha.


 


Reação forte


 


Lideranças do PT e autoridades ligadas ao governo Lula reagiram com veemente repúdio às ilações levantadas pelos tucanos e pefelistas.


 


O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos afirmou que a segurança é tão séria que não pode ser objeto de guerra eleitoral. “Segurança pública tem que ser tratada com impessoalidade. Eu preferiria não comentar a politização, porque sou frontalmente contrário a ela. Há gente morrendo, sofrendo, vivendo a angústia de não saber o amanhã. É um absurdo que se queira transformar essa crise em ponto de apoio para se obter vantagem eleitoral. É descabido.”, disse Bastos.


 


O ministro da Articulação política, Tarso Genro, chegou a afirmar que as declarações de Borhausen, “são de um quilate tão rebaixado, de uma postura tão autoritária e tão caluniosa” que nem merecem resposta.


 


Mas a resposta veio. E veio com ênfase.


 


O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, emitiu uma nota afirmando que o senador pefelista age de forma irresponsável, oportunista e golpista.


 


“Lamento que um senador da República aja de forma tão irresponsável e golpista, usando do oportunismo em um assunto de tamanha gravidade como a crise e a violência que se alastra no Estado de São Paulo”, afirmou o presidente no PT na nota.


 


Mais tarde, ao saber que Serra e Alckmin haviam repetido o gesto de Bornhausen, Berzoini voltou à carga. Afirmou que considera isso tudo uma demonstração de desespero eleitoral, “uma tentativa de manipular a opinião pública e de repassar responsabilidades”.


 


Segundo Berzoini, a população brasileira saberá olhar para as afirmações como uma manifestação de oportunismo político por parte de Alckmin e Serra, que segundo ele se enquadram cada vez mais “na direita brasileira”. “É o triste fim do PSDB como porta-voz da Arena”, disse o presidente nacional do PT, em referência ao partido que dividiu a cena política brasileira com o MDB durante o regime militar.


 


Berzoini sustentou que o PT vem tentando debater a questão da violência em São Paulo durante os 11 anos de administração do PSDB no Estado, sem atribuir aos tucanos o crescimento do PCC.


 


Logo depois, ao discursar durante o jantar que marcou o início da campanha reeleitoral de Lula  de em São Bernardo do Campo (SP), Berzoini pediu aos presentes que fizessem um minuto de silêncio “pelas vítimas da violência em São Paulo, em condições mal explicadas”.


 


Durante o evento, o próprio presidente Lula tocou no assunto. O presidente Lula queixou-se em discurso do “jogo rasteiro” dos adversários. “É no mínimo insanidade querer vincular o PT ao crime organizado quando eles cuidam há 12 anos das cadeias de São Paulo. Por favor, leviandade também tem limite”, disse Lula.


 


Poucas horas antes, Mercadante já havia reagido às declarações de Serra, qualificando-as de levianas.”Acho uma afirmação absolutamente leviana, que mostra o desespero político. A palavra dele (Serra) não pode ser levada a sério depois que desistiu de ser prefeito de São Paulo”, disse.


 


“Qualquer indício, ele (Serra) tem obrigação de apresentar e pedir investigação e apuração, que é o sempre o que nós queremos na vida pública”, afirmou Mercadante..


O líder petista cobrou uma posição daqueles que, segundo ele, não souberam organizar um sistema de segurança pública eficiente.


 


Ao chegar para o jantar, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) já resumira o sentimento de indignação com as declarações tucano-pefelistas. Mas o partido não deve ficar só na reação verbal. Paulo Frateschi, presidente do diretório paulista da legenda anunciou a intenção de processar Bornhausen e Serra.


 


Ele informou que o PT ingressará com uma “notícia crime” junto ao procurador regional eleitoral por difamação e difusão de fatos inverídicos por parte de Serra. “Fundamental é que se combata o crime organizado e se devolva a paz e a tranqüilidade ao povo de São Paulo.”


 


Recordando o caso Abílio Diniz


 


Esta não é a primeira vez que a direita usa o jogo sujo para manchar a imagem do Partido dos Trabalhadores. Em 1989, durante a eleição presidencial daquele ano, o seqüestro do empresário Abílio Diniz, um dos mais ricos do país, foi desvendado no dia da votação, dividindo o espaço dos jornais com o fato de maior importância da história recente do país, em que se defrontavam um candidato de direita e um de esquerda. Até aí haveria uma submissão. Mas o fato de que os seqüestradores usavam camisetas do PT, o partido do candidato de esquerda, gerou uma associação imediata entre o seqüestro e a esquerda. Soube-se mais tarde que policiais obrigaram os seqüestradores a vestir a camiseta do PT.


 


Em outro episódio de descarada calúnia, a revista Veja estampou na capa de segunda  edição de março de 2005 uma matéria insinuando que o Partido dos Trabalhador recebeu 5 milhões de dólares das FARC para a campanha eleitoral de 2002. A revista usou documentos retirados da Abin como fonte da reportagem, mas a própria revista registrou que não havia prova alguma da veracidade das informações que estava publicando. Mesmo assim colocou o assunto como chamada principal de capa.


 


Depois, a mesma revista inventou uma história sobre dólares cubanos que, escondidos em caixas de bebidas, teriam também financiado a campanha do presidente Lula.


Em todas estas ocasiões,  a direita foi à imprensa respaldar as acusações fantasiosas contra o PT. Agora, repete a dose, mas “faz o serviço” diretamente, sem nem esperar a ajuda da revista Veja. Aliás, não será nenhuma surpresa se a revista trouxer em sua próxima edição alguma matéria respaldando as insinuações levianas feitas por Serra, Borhausen et caverna.


 


Da redação,


Cláudio Gonzalez