2º Ciad: Lula, Gil e Stevie Wonder celebram a África na Bahia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, deram início, nesta quarta-feira (12/07), à 2ª Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora (Ciad). O evento – que vai até o dia 14, em Salvador (BA) – conta com a pr

A presidência da conferência cabe a Gilberto Gil e a Frene Ginwala, ex-presidente da África do Sul. O ministro brasileiro enalteceu o local do encontro. Bahia e Salvador, a maior cidade negra fora da África, formam ''uma encruzilhada entre as Áfricas e as Américas'', afirmou. A Ciad é uma realização dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores. Atraiu à Bahia mais de mil pessoas, envolvendo 40 países africanos e da diáspora.


 


Em seu pronunciamento, no Centro de Convenções de Salvador, Lula afirmou que o século 21 deve ser ''o século dos países do 3º Mundo''. Segundo o presidente, a concretização desse sonho depende da união da África e da América Latina nas mesas de negociações internacionais com os países ricos, ressaltando a necessidade de valorização das relações comercias. Lula também voltou a criticar os subsídios agrícolas praticados pelo governo norte-americano e pelas nações da Europa.


 


Num tom semelhante discursou o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, que propôs uma aliança pan-africana para defender, por meio de contratos bilaterais, interesses comuns entre as nações da África e os países de população afro-descendente. Além de Wade, Lula recepcionou mais quatro presidentes africanos – Festus Mogae (Botsuana), Pedro Pires (Cabo Verde), Obiang Nguema Obasango (Guiné Equatorial) e John Kufuor (Gana). Eles participaram da mesa-redonda ''A diáspora e o renascimento africano – Contribuições passadas e projeto atual''.


 


Pelas cotas raciais


Após seu discurso, Lula recebeu um manifesto pelas cotas raciais, entregue pela vereadora Olívia Santana (PCdoB), presidente da Comissão de Reparação da Câmara Municipal do Salvador. Olívia integrou uma comitiva de cerca de 15 representantes de órgãos públicos, parlamentares, entidades e movimentos sociais. O grupo defende a aprovação do projeto de lei 73/99, que institui 50% das vagas nas universidades públicas para negros. A medida está em tramitação no Congresso.


 


Apesar das pressões conservadores e elitistas que vem sofrendo, Lula reiterou o apoio do governo federal às cotas – entidades do movimento negro temiam um recuo. O manifesto recebido pelo presidente é assinado por mais de 400 intelectuais e formadores de opinião. O texto também apóia a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.


 


No primeiro dia de Ciad, apenas a mesa ''Gênero e equidade na África e na Diáspora'' teve brasileiras como expositoras. O tema ficou a cargo da yalorixá Mãe Stella de Oxossi (terreiro Axé Opô Afonjá, de Salvador), da ministra Nilcéia Freire (Secretaria Especial de Políticas para Mulheres) e da primeira-ministra da Jamaica, Portia Simpson Miller.


 


Na área artística, além de Stevie Wonder, estão presentes a cantora e dançarina nascida no Benin, Angélique Kidjo, o artista plástico Mestre Didi e o rapper carioca MV Bill. Stevie Wonder destacou a questão de cotas nas universidades e defendeu projetos que ponham os negros em igualdade de condições. Segundo o cantor e ativista, a Ciad contribui para quebrar barreiras e consolidar a idéia de caminhar junto com respeito.


 


Atrações culturais


As atividades da conferência ocupam as instalações da Universidade Federal da Bahia e da Universidade do Estado da Bahia, além da Praça Municipal. O Ciad cultural terá shows de Sandra de Sá, Zezé Mota, Toni Garrido, Leci Brandão, Netinho, Chico César e Luiz Melodia.


 


Neste 2º Ciad, marcam presença o presidente da Comissão da União Africana, Alpha Oumar Konare; a primeira-ministra da Jamaica, Portia Simpson-Miller; o vice-presidente da Tanzânia, Ali Mohamed Shein; e a vice-presidente da Assembléia Nacional do Senegal, Iba der Thiam. A diáspora e o renascimento africano são os temas centrais.


 


O objetivo é ampliar o conhecimento mútuo e o entendimento entre os países africanos e da diáspora, além de promover uma maior cooperação para o desenvolvimento. Assuntos como identidade, educação, cultura, saúde, comércio, ciência e tecnologia também estarão em debate. A primeira edição da conferência ocorreu em Dacar, no Senegal, em outubro de 2004.


 


 


Da redação, sobre matéria de Pedro Castro e ''A Tarde''