Multidão inicia resposta à fraude eleitoral no México

O candidato presidencial oposicionista Andrés Manuel López Obrador reuniu neste sábado (8) uma manifestação na grande praça do Zócalo, centro da capital mexicana, contra as fraudes na apuração das elei&ccedi

“Vamos pedir-lhes que se limpem a eleição, que recontem todos os votos,  voto por voto, urna por urna”, proclamou López Obrador, muito aplaudido. A multidão gritava em coro lemas como “Não estás só”, “Sim, podemos”, condenando a fraude em favor do candidato governista, Felipe Calderón.

 

“Isto está apenas começando”

 

López Obrador anunciou que uma “marcha nacional” começará em todos os 300 distritos eleitorais mexicanos na próxima quarta-feira e será pacífica, sem afetar os direitos de terceiros com ações como o bloqueio de rodovias. Também exortou seus seguidores, da coalizão Pelo Bem de Todos (PRD-PT-Convergência) a não cair no jogo dos adversários nem cair em provocações.

 

Outra convocação é para uma passeata na capital, domingo que vem (16), novamente até o Zócalo. Ali se fará uma segunda “assembléia informativa”,  como foi chamado o protesto de hoje, para enfatizar o seu caráter de iniciador de um movimento. “Isto está apenas começando”, prometeu o candidato.

 

Em abril do ano passado, um crescendo de mobilizações populares – as maiores delas na mesma praça histórica – reverteu uma tentativa de tornar López Obrador inelegível, processá-lo e possivelmente prendê-lo, por ter ordenado a abertura de uma rua como prefeito de Cidade do México. Depois da Câmada dos Deputados ter votado o “desafuero”, como se chamava a medida, teve de voltar atrás face aos protestos de massas.

 

Para falar claro: “É fraude”

 

Em seu discurso, López Obrador denunciou que durante a apuração os sistemas de computação do Instituto Federal Eleitoral (IFE) foram manipulados para favorecer o candidato da direita, lançado pelo PAN (Partido de Ação nacional) do presidente em fim de mandato, Vicente Fox.

 

Ele assinalou irregularidades de diversos tipos em mais de 50 mil das 130 mil urnas usadas na eleição, com o objetivo de subtrair votos de sua coligação e favorecer o candidato governista.

 

Obrador também denunciou o apoio ilegal de Fox a Calderón, o emprego dos recursos do Estado para comprar votos e manipular a pobreza dos mexicanos. “Tudo isso, para falar claro, significa fraude”, resumiu, usando pela primeira vez esta palavra para qualificar o processo de apuração.

 

“Estamos diante de um caso típico do que tem sido a fraude eleitoral no México. O PAN aprendeu depressa as práticas fraudulentas do PRI”, afirmou, referindo-se ao Partido Revolucionário Institucional, que se manteve initerruptamente no governo do país de 1929 a 2000.

 

Modelo tem que mudar

 

O candidato progressista confirmou no discurso que vai pleitear a impugnação do resultado junto ao Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (TEPJF), órgão a quem compete proclamar o resultado da votação, e em todos os 300 distritos eleitorais do país. Segundo o IFE, Calderón venceu a eleição – que no México só tem um turno – por 256 mil votos, ou 0,58% do total de 41 milhões de sufrágios.

 

Convidado publicamente por Calderón para oicupar um ministério, para “garantir a governabilidade”, o candidato oposicionista descartou a oferta. “Há um projeto, que a direita defende: consiste em continuar com a mesma política econômica que empobreceu a maioria dos mexicanos. Não podemos fazer nenhuma coalizão enquanto esse modelo não mudar”, enfatizou.

 

Um sindicato dos privilegiados

 

“O atual grupo no poder formou um sindicato para defender seus privilégios, sem se importar com o presente e o futuro de milhões de mexicanos que vivem na mais dura pobreza”, afirmou.

 

“Na atual disputa eleitoral estão em jogo dois projetos de nação, um que quer manter os privilégios de uma minoria. E outro que busca verdadeiras mudanças para que os mexicanos vivam com justiça e dignidade”, disse Obrador. E sublinhou que o movimento que lidera tem gente de todas as classes sociais, mas sua base fundamental é “a gente humilde e pobre”.

 

“Peço-lhes que nos mantenhamos unidos e que confiem em mim. Vou manter meus princípios e convicções. Não trairei o povo do México“, proclamou ainda López Obrador.

 

México, país fraturado

 

Pela lei eleitoral mexicana, o TEPJF tem prazo até 31 de agosto para resolver os dissídios sobre o resultado, e até 6 de setembro para proclamar o vencedor, que toma posse em 1º de dezembro. A manifestação de sábado indica que serão dias tensionados.

 

As eleições mostraram um México fraturado geopolitica e socialmente. Os Estados do Norte, mais endinheirados, e as camadas de renda mais alta votaram majoritariamente em Calderón. A capital e os Estados empobrecidos do sul,  e as massas trabalhadoras, ficaram com “o Peixe”.

 

Com agências