Mexicanos irão à praça hoje por recontagem voto por voto

“Voto por voto” é a manchete que ocupa neste sábado (8) a capa do diário mexicano de esquerda La Jornada. O texto, de Andrea Becerril , contesta a anunciada vitória do direitista Felipe Calderón, por 0,5% do total. A recontagem

Andrés Manuel López Obrador e sua equipe de campanha rejeitaram energicamente a possibilidade de aceitar conciliações ou chegar a acordos políticos em troca de avalizar Felipe Calderón como vencedor da eleição presidencial mexicana, realizada no domingo passado. Reiteraram que recorrerão à via jurírica para revisar a eleição e contar voto por voto, já que possuem provas de irregularidades em 55 mil urnas.

 

López Obrador passou todo o dia de ontem em sua sede de campanha, para preparar – junto com seus auxiliares mais próximos – a mobilização deste sábado (8) no Zócalo [a imensa praça no Centro Histórico de Cidade do México] e a “arguição de inconformidade” que levarão ao Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (TEPJF) nos primeiros dias da próxima semana. O objetivo é tornar transparente a apuração e demonstrar que foi ele o vencedor da disputa presidencial.

 

Em coletiva de imprensa, Ricardo Monreal Avila [governador do Estado de Zacatecas, filiado ao PRD de López Obrador], ao lado de dirigentes do Partido o Trabalho e da Convergência [duas legendas que se coligaram ao PRD em apoio ao candidato presidencial de centro-esquerda], exigiu dos governos de outros países que respeitem os marcos jurídicos mexicanos e não proclamem “triunfos inexistentes”. Para eçe, o presidente do Instituto Federal Eleitoral (IFE), Luis Carlos Ugalde, pode ser levado a julgamento e inclusive incriminado penalmente, por sua atitude parcial e por ter declarado vencedor da disputa o “panista” [partidário do direitista PAN, Partido da Ação Nacional, de Felipe Calderón] quando o processo ainda não foi concluido.

 

Em círculos próximos de López Obrador, sabe-se que, em seu afã de legitimar-se, Calderón ofereceu alguns ministérios ao concorrente, além das declarações – a mais recente feita ontem, diante de correspondentes estrangeiros – de que incorporará oposicionistas em seu gabinete.

 

Monreal disse desconhecer  quais ofertas concretas Calderón fez chegar aos integrantes da coligação Pelo Bem de Todos [PRD-PT-Convergência]. Mas afirmou estar seguro de que Obrador “nunca fará transações, nem muito menos aceitar posições burocráticas, pois sua luta não é por dinheiro”.

 

Indagou-se também como é que, uns poucos dias atrás, Calderón repetia sem descanso que López Obrador era um perigo para o país “e agora o convida para o seu ministério”.

 

Disse que entende que o panista esteja preocupado, pois são cada vez mais evidentes as irregularidades no processo, mas terá de assumir as consequências de uma eleição de Estado, assim como da guerra suja e da estratégia de ódio que escolheu.

 

Em sua opinião, o movimento de resistência que López Obrador encabeçará “será histórico, maior que o de 1988, pois será pela dignidade e pela democracia no país”.

 

Não vão pedir anulação

 

Monreal – que é especialista em direito eleitoral – disse que, contrariamente às mentiras dos panistas, não se pedirá a anulação das eleições, mas sim que se abra as urnas e se reconte voto por voto.

 

Este é um recurso previsto na Lei Geral de Meios de Impugnação, por meio de uma “arguição de inconformidade”, que um grupo de peritos está redigindo. Trata-se de um recurso – explicou – visando a anulação de urnas que tenham apresentado irregularidades. Recordou que na quarta-feira passada, quando se fez a recontagem nos 300 comitês eleitorais, foi pedido ao presidente do IFE que abrisse as urnas, pois havia provas de irregularidades em mais de 50 mil delas, mas Ugalde recusou.

 

Monreal destacou exemplos internacionais recentes, em que eleições também disputadas foram resolvidas coim a recontagem voto a voto. “Na Costa Rica houve 30 dias de mobilização, depois disso se aceitou a recontagem e venceu Oscar Arias, com 0,41%. Na Itália, Prodi ganhou a disputa com Berlusconi, mas o importante foi que abriram as urnas e assim se chegou à tranquilidade social”, afirmou.

 

“Delinquente eleitoral”

 

O senador Jesús Ortega, coordenador da campanha de López Obrador, e Alberto Anaya decloraram a atitude “oficiosa e ilegal” do presidente do IFE ao proclamar Calderón como vitorioso na eleição. Disseram que Ugalde não tem poderes pára fazê-lo, poie é o TEPJF que qualifica o processo, depois de responder aos questionamentos apresentados.

 

O IFE “obedeceu à diretiva do governo foxista [do presidente em fim de mandato, Vicente Fox] e apressou-se em reconhecer o panista como vencedor, o que pode dar processo político e até penal”, advertiram.

 

À noite, após uma reunião com López Obrador, Ortega informou que será enviada uma mensagem aos embaixadores acreditados no país, informando-os que o processo não se concluiu e Calderón não é o presidente eleito. Fox está pressionando governos de outras nações para que emprestem seu avala ao panista.

 

Quem não engoliu essa história foram os mexicanos”, como será constatado no comício de hoje no Zócalo. Ontem, simpatizantes de López Obrador foraram as paredes da sede de campanha com fotos de Ugalde, em formato de fichas policiais e encimados pelos dizeres: “Procurado, delinquente eleitoral”.