Ex-ditador genocida da Guatemala pode ser preso

A Justiça espanhola emitiu ordens internacionais de busca e captura para o ex-presidente guatemalteco Efraín Ríos Montt e outras sete pessoas que estariam envolvidas em crimes de genocídio na Guatemala, diante da falta de cooperação e

Segundo o auto notificado pelo juiz Santiago Pedraz, os envolvidos são Ríos Montt, o também ex-presidente Oscar Humberto Mejía Víctores, o ex-ministro da Defesa Ángel Aníbal Guevara e o ex-diretor da Polícia Nacional Germán Chupina Barahona. Também diz respeito ao ex-chefe do Comando Seis da Polícia Pedro García Arredondo, o ex-chefe do Estado-Maior do Exército Benedicto Lucas García, o ex-ministro de Governo Donaldo Álvarez Ruiz e o ex-presidente da República da Guatemala Fernando Romeo Lucas, já falecido.

No auto, o juiz determina a prisão provisória comunicada e sem fiança dessas oito pessoas "a efeitos de sua detenção e extradição para nosso país". Além disso, estão em andamento as ordens de detenção "para que sejam apreendidos e colocados à disposição da autoridade judicial espanhola, a fim e efeito de responder aos crimes pelos quais são acusados".
Além de ordenar a busca e captura, o juiz decreta "o embargo de todos os bens dos quais os mesmos sejam titulares (…), a efeitos de garantir as responsabilidades pecuniárias e civis correspondentes", assim como o bloqueio de suas contas bancárias. Pedraz tomou esta decisão depois que a Promotoria denunciou hoje que, durante a recente viagem do juiz à Guatemala, "foi detectada uma clara, constante e voluntária falta de cooperação com a autoridade judicial espanhola na investigação dos fatos denunciados" por parte dos acusados, o que impediu o magistrado de tomar o depoimento deles e das testemunhas.

A Justiça da Espanha abriu uma investigação para apurar as denúncias feitas pela Prêmio Nobel da Paz (1992) e líder indígena, Rigoberta Manchú, de genocídio, assassinato, tortura e terrorismo contra oito generais da Guatemala. Entre os acusados estão três ex-ditadores: o general Efraín Ríos Montt (1982-1983), o general Óscar Humberto Mejía Víctores (1983-1986) e o general Fernando Romeo Lucas García (1978-1982). O general Lucas García casou-se com uma venezuelana e mudou-se para a Venezuela. O general Víctores aposentou-se na Guatemala, onde tem seus negócios. Já o general da reserva Ríos Montt é o maior alvo, porque hoje ocupa o cargo de presidente do Congresso da Guatemala e é líder da Frente Guatemalteca Republicana (FRG).

CIA

 

Na Guatemala,  em 36 anos de regime autoritário mais de 200 mil pessoas morreram ou desapareceram, segundo informa a Comissão para o Esclarecimento Histórico (CEH). A comissão, fundada em 1994 para levantar os genocídios, torturas e desaparecimentos, concluiu no ano passado que o Estado é o responsável por 93% dos crimes da guerra civil da Guatemala. Desde a independência proclamada em 1821, a elite formada pelos descendentes de espanhóis se opõe à ascensão social da maioria indígena, herdeira da civilização maia.
Em 1954, um golpe militar patrocinado pela CIA derrubou o presidente Jacobo Árbenz, que expropriara as propriedades da United Fruit americana. A partir daí, com pequenos intervalos, os militares controlaram a vida política do país. Para agravar a situação, os sucessivos governos investiram muito pouco em programas sociais, mesmo nos 20 anos de grande crescimento econômico, entre 1960 e 1980.

Assim, o abismo social aumentou, ao mesmo tempo que recrudescia a violência política. Resultado: grupos de resistência pipocaram por todo o país. Em 1982, os quatro principais grupos guerrilheiros se uniram na chamada União Revolucionária Nacional Guatemalteca (UNRG) numa guerra civil que só terminou há quatro anos. A violência foi mais intensa entre 1978 e 1984, quando as atrocidades dos militares contra civis chegaram ao ápice, culminando em massacres e atos de horror contra milhares de pessoas, vitimando não apenas os indígenas, mas estudantes e líderes de movimentos de oposição. No início dos anos 80, centenas de corpos foram enterrados em valas comuns.

Com agências