SãoLuís pára para ver Brasil golear Japão

Quinta-feira, 16h. Brasil x Japão na tevê. Como já se podia imaginar, mais uma vez a cidade parou para assistir ao jogo da Seleção na Copa do Mundo. Com o time classificado para a próxima fase e jogando contra uma seleç&a

Quinta-feira, 16h. Brasil x Japão na tevê. Como já se podia imaginar, mais uma vez a cidade parou para assistir ao jogo da Seleção na Copa do Mundo. Com o time classificado para a próxima fase e jogando contra uma seleção tecnicamente inferior, os torcedores esperavam uma partida tranqüila, com muitos gols e sem muitas surpresas.
Antes de iniciar o primeiro tempo, o corretor de imóveis Leandro Pires, 24, que assistia ao jogo no Bar Esquina Show, no Jardim São Cristóvão, dizia estar confiante na vitória. “O Brasil vai ganhar sem dificuldade”, previu. Digamos que foi mais ou menos isso o que aconteceu.
O resultado da partida foi 4 x 1, o que deixou muitos brasileiros satisfeitos. O problema foi que, depois de a Seleção chegar várias vezes perto de abrir o placar, o primeiro gol acabou sendo do Japão. Sabe porquê? Não? O mecânico Clodoaldo Barbosa da Silva Filho, 37, sabia. “Acho que o Brasil está perdendo muitos gols porque os jogadores estão brincando com a simplicidade do jogo do Japão. Pro primeiro tempo, o placar [1 x 0 para os japoneses] está justo porque quem não faz leva”, opinou, no finalzinho do primeiro tempo. “Mas o segundo tempo vai ser diferente, como aconteceu no jogo contra a Austrália”, completou esperançoso.
A reação brasileira veio antes do que Clodoaldo esperava. Quando ele ainda conversava com a equipe de reportagem de O IMPARCIAL, Ronaldo enfim fez seu primeiro gol na Copa. “Ele estava me devendo essa”, comemorou o mecânico, que, com o empate, ficou mais confiante no hexacampeonato. “Com certeza o Brasil ganha essa Copa. Com certeza e com muita cerveja”, brincou. A partir daí, foi só festa.
Com a certeza da classificação e tendo alguns titulares pendurados com um cartão amarelo, o técnico Carlos Alberto Parreira aceitou as sugestões da torcida brasileira e iniciou o jogo com Juninho Pernambucano e Robinho em campo. Gilberto Silva, Gilberto e Cicinho foram os outros reservas que também tiveram a oportunidade de começar a partida contra o Japão. As mudanças deram maior leveza pra Seleção, que passou a chegar com mais freqüência na frente do gol – muito bem defendido pelo goleiro japonês Yoshikatsu Kawaguchi.

Comunidade japonesa promete torcer pelo Brasil
Apesar de viver há 36 anos no país e de se sentir bastante brasileiro, o empresário japonês Kiyoshi Yamada, 55, manteve-se patriota e torceu pelo Japão no jogo de ontem. Ele assistiu à partida na sede de sua empresa no Vinhais, junto com alguns funcionários.
Antes de o jogo começar, o empresário já sabia que a vitória era quase impossível. “O potencial do Brasil é bem maior. Mas, nessa altura do campeonato, não me importo se a seleção vai vencer. Só quero que os japoneses joguem bem”, disse. O resultado da partida deixou Yamada satisfeito. “Foi o melhor jogo do Japão na Copa, apesar da derrota. A seleção jogou bem e mostrou sua qualidade”, comentou no final do segundo tempo.
O time japonês chegou a dar esperanças a Yamada, quando abriu o placar aos 33 minutos do primeiro tempo. “Esse gol foi excelente. Fico muito feliz com o resultado”, comemorou o empresário. No entanto, logo nos acréscimos, Ronaldo empatou o jogo e, no segundo tempo, a Seleção fez outros três gols. “Torci para o Japão, mas o resultado foi justo. O Brasil jogou melhor”, admitiu. Agora, com a desclassificação japonesa, a Seleção pode contar com mais um torcedor. “Vou torcer pelo Brasil”, garantiu.
Yamada era o único japonês que assistia ao jogo na sua empresa, mas não estava torcendo para o Japão sozinho. Os brasileiros Haymir Hossoé e Etsuro Kimura, filhos de japoneses, também queriam que acontecesse uma vitória improvável.
Vestido com uma camisa da Seleção brasileira, Etsuro Kimura disse estar torcendo pelo Japão, mas não contra o Brasil. “Nós já estamos classificados, então resolvi dar um apoio ao trabalho do Zico [técnico da seleção japonesa], que é brasileiro. Queria que o Japão também se classificasse”, explicou. “A gente torceu, mas também já sabia que o Japão só tinha 5% de chance contra o Brasil”, completou Haymir Hossoé.
Agora, o coração, que estava dividido, pode ficar mais tranqüilo. “Vou torcer pelo Brasil, que com certeza vai ganhar esta Copa. A Seleção está muito boa”, elogiou Kimura.
Quem também estava dividido era o agricultor japonês Ritsu Doihara, 54. Antes do jogo, em conversa com a equipe de reportagem de O IMPARCIAL, ele disse não saber se teria coragem de assistir à partida. “Eu me considero um pouco japonês e um pouco brasileiro. Meus documentos não dizem isso, mas acho que tenho binacionalidade. Com esta disputa, meu coração fica partido. Então prefiro ficar sabendo do resultado só no fim do jogo”.
Ritsu Doihara mora em uma colônia japonesa em Paço do Lumiar. Ele chegou ao Brasil em 1960, e antes de se fixar na colônia com outras cinco famílias, morou durante dois anos em Rosário. Com a presença brasileira e japonesa na mesma chave da primeira fase, ele preferiu não torcer para nenhuma seleção. Segundo ele, é a Alemanha que vai ganhar esta Copa.
Em Rosário, o agricultor Massato Senda, 57, também estava em dúvida: não sabia se torcia para sua terra natal ou para aquela que lhe acolheu em 1960. Como a seleção japonesa não se classificou, a torcida vai agora para a brasileira.