Xanana Gusmão: ou Alkatiri renuncia ou eu

O presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, anunciou hoje que vai pedir sua demissão ao Parlamento amanhã (23) caso o primeiro ministro não renuncie. "A Fretilin (o partido no poder) deve escolher e pedir a Mari Alka

"Peço responsabilidade ao vosso camarada Mari Alkatiri pela crise que estamos a viver, relativamente à sobrevivência do Estado de direito democrático", disse Xanana Gusmão que leu uma mensagem no país. Neste texto, o chefe de Estado timorense justifica a sua saída do cargo, pois disse ter "vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem de enfrentar o povo".


A declaração foi transmitida ao país depois de um segundo dia de reuniões internas em que não se conseguiu chegar a um acordo sobre a renúncia do primeiro-ministro
. Gusmão alega que a direção da Fretilin teria comprado os votos dos delegados no recente congresso do partido, questionando assim a legitimidade do partido liderado por Mari Alkatiri. O presidente timorense usou a lei dos partidos políticos numa referência ao fato de a votação que elegeu Alkatiri como secretário-geral do partido ter sido feita por contagem visual de braços levantados, em vez do voto secreto.

"Enquanto presidente da República não aceito o resultado do congresso, exijo à Comissão Política Nacional do partido que organize de imediato um Congresso Extraordinário para eleger, de acordo com a lei 3/2004, sobre os Partidos Políticos, uma direção nova", frisou. Ele sublinhou ainda que dava um prazo de uma semana para que este congresso se realizasse, adiantando que considerava toda a "atual direção da Fretilin como "ilegítima".


Não renuncia

Apesar da pressão, a Fretilin já anunciou que Mari Alkatiri não se vai demitir do cargo, não aceitando a exigência do presidente da República. Em coletiva de imprensa, José Reis, o secretário-geral adjunto da Fretilin, partido no poder em Timor-Leste, apelou aos "órgãos de soberania para que resolvam a crise dentro do quadro constitucional".

"A Fretilin apela aos órgãos de soberania para honrarem a Constituição e para estarem firmes na defesa da Constituição e da soberania e dignidade do povo maubere", acrescentou José Reis. O dirigente pediu ainda a Xanana Gusmão para que "como comandante supremo das forças armadas garanta a unidade e estabilidade da nação para fazer o possível para encontrar uma solução que salvaguarde as instituições democráticas".

José Reis aproveitou ainda para pedir a diferenciação de um "processo político de um processo criminal" numa referência ao processo judicial que foi lançado contra Rogério Lobato. "Rogério Lobato é exemplo das práticas de perseguição ao partido. Teve a sua família sacrificada durante a ocupação", explicou o secretário-geral adjunto do partido, que entende que o ex-ministro do Interior está sendo a tratado da mesma forma que Xanana Gusmão quando foi detido em 1992 pelas autoridades indonésias.
O Timor Leste mergulhou no caos no fim de maio após a decisão do governo de demitir 600 soldados, o que representa quase a metade do exército, que afirmavam sofrer discriminação étnicas. Mas a campanha pela expulsão de Alkatiri não é de agora. A situação teria explodido após a decisão de converter em opcional a educação religiosa, ao invés de obrigatória. Duas tropas estrangeiras – da Austrália e de Portugal – garantem atualmente a segurança do pequeno país.


Da Redação
Com agências.