Para demonizar Hugo Chávez, EUA apelam até ao videogame

A luta dos Estados Unidos contra a revolução bolivariana ganhou a adesão da indústria do entretenimento. Em 2007, será lançado o jogo eletrônico “Mercenaries 2 — World in Flames”, em que o inimigo &mdash

Para o presidente dos Estados Unidos, George Bush, exercer sua política belicista, a mídia sempre se demonstrou uma segura aliada, tal como a CIA. Nunca, porém, a indústria do entretenimento tinha ido tão longe.

O jogador que quiser triunfar em “Mercenaries 2” tem de cumprir três desafios típicos do imperialismo ianque: invadir a Venezuela, derrubar Chávez à força e controlar o petróleo local. Num sentido mais amplo, o game é mais uma tentativa de atrair a juventude para a Doutrina Bush.

Expansão

O apelo ao público não-adulto já se faz presente em Hollywood, a superindústria do cinema. Até desenhos animados aparentemente inofensivos, como “Os Incríveis” e “Selvagem”, fazem propaganda sutil da ideologia republicana.

No mundo dos videogames, o avanço desses conceitos ocorre gradualmente. Os criadores de jogos lançam cada vez mais tramas baseadas em fatos verídicos. Por isso é que a escolha de Chávez como novo “vilão eletrônico” não chega a surpreender.

Em 2002, para intervir na Venezuela, o governo americano patrocinou um golpe de Estado, que, sem apoio popular, foi derrotado em dois dias. A guerra contra Chávez chega agora ao entretenimento — e a ofensiva não poupa recursos.

A tática da sedução
Tome-se o nome do game. Em português, é possível traduzi-lo como “Mercenários 2 — O Mundo em Chamas”. Seguindo as pegadas de Bush, os criadores tentam expor Chávez como um monstro que leva perigo não só à Venezuela ou à América do Sul — mas, sim, ao planeta inteiro.

A descrição que lhe fazem abusa do reducionismo e da deturpação. Chávez, em “Mercenaries 2”, será um “um tirano com sede de poder, que perturba o fornecimento de petróleo na Venezuela, dando origem a uma invasão que converte o país em uma zona de guerra”.

Mais do que o discurso tradicional do Partido Republicano, o jogo vai usar o que há de mais moderno em tecnologia, especialmente as imagens tridimensionais. No papel de “herói”, o jogador dará vida a um soldado supostamente humanitário, disposto a repor a ordem americana.

Coincidência?

O anúncio do lançamento ocorre na mesma semana em que a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos elevou o tom das críticas a Chávez. O republicano Dan Burton, por exemplo, gritou o que seu partido já diz há anos: “Fica evidente que ele (Chavéz) representa uma ameaça para a liberdade e a democracia nas Américas Central e do Sul”. Vida e jogo se embaralham.

O motivo da nova onda raivosa americana é o apoio da Venezuela aos vários candidatos nacionalistas que têm disputado a presidência nos países da região. A última irritação dos republicanos foi, porém, uma ajuda não-comprovada — de Chávez ao sandinista Daniel Ortega, candidato a presidente da Nicarágua.

Mas é a relação entre paz e petróleo — base de “Mercenaries 2” — o que não esconde o apetite dos Estados Unidos pelo principal recurso venezuelano. A cada dia, o país sul-americano exporta 1,5 milhão de barris de petróleo para a terra de Bush. A quantia equivale a 14% da demanda americana.

Outras motivações

Claro que não bastam apenas razões políticas para justificar o lançamento de games. Em sua página na Internet, a Pandemic Studios — que lançará o jogo anit-Chavéz — tenta desconversar: “A decisão de escolher acontecimentos e locações atuais e interessantes para qualquer um desses jogos tem o objetivo único de proporcionar uma experiência divertida e intensa ao jogador”.

Na verdade, o lucro com jogos baseados na realidade não pára de crescer. Emoções e morbidezes à parte, a juventude americana adorou games que tinham a guerra no Iraque como cenário. Games invariavelmente favoráveis à Doutrina Bush.

Sem contar o insensível e macabro “Super Columbine Massacre RPG”. O jogo reproduz, com incrível fidelidade, o atentado a crianças que estudavam numa escola de Columbine. Sua maior falcatrua é ignorar os sentimentos das famílias que perderam  filhos na matança.

Com esse histórico, não convém esperar que “Mercenaries 2” trate o povo venezuelano com o mínimo de decência.
Por André Cintra, da Redação,
com dados de agências internacionais