Saramago: “Não ficou nada da Revolução dos Cravos”

O escritor português, José Saramago, Nobel da Literatura, afirmou, no domingo, que não restou "rigorosamente nada" da Revolução dos Cravos que, em 25 de abril de 1974, derrubou em seu país a ditadura de Ant&ocir

"[Da Revolução dos Cravos] não ficou nada, nada, rigorosamente nada", declarou na cerimônia em homenagem ao ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves, um dos líderes do movimento de 1974. Saramago disse considerar que nem a democracia é uma herança direta da revolução. “A Espanha não fez nenhuma e é um país democrático."

O escritor foi uma das dezenas de pessoas que homenagearam, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, o ex-premiê Vasco Gonçalves, no dia em que se celebrou um ano da sua morte. Junto ao túmulo de Gonçalves, durante uma breve cerimônia, foi ouvido o hino nacional, seguido de cânticos revolucionários relacionados à Revolução dos Cravos.

"Este foi um homem muito maltratado por aqueles que tinham obrigação de respeitá-lo — e ele merecia esse respeito", disse o escritor à agência Lusa, visivelmente emocionado. "Só tenho pena de não ter escrito as suas memórias", acrescentou Saramago, em relação ao seu "bom amigo" da juventude.

O ex-primeiro-ministro Vasco Gonçalves, falecido em 11 de junho de 2005, aos 83 anos, foi uma das figuras ligadas ao período revolucionário do 25 de Abril que mais paixões e ódios suscitou pelo seu percurso político controverso.

O "companheiro Vasco", como era chamado, foi chefe dos 2º, 3º, 4ºe 5º governos provisórios, entre 18 de julho de 1974 e 10 de setembro de 1975.