Anticomunismo: ferramenta da classe governante colombiana

Leia a seguir editorial das Farc em que denunciam a perseguição política que está ocorrendo contra a participação dos comunistas na frente de esquerda Pólo Democrático Alternativo (PDA). O movimento cresceu na última

Leia a seguir editorial das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em que denunciam a perseguição política que está ocorrendo contra a participação dos comunistas na frente de esquerda Pólo Democrático Alternativo (PDA). O movimento lançou Carlos Gaviria como candidato a presidência da oposição contra a reeleição do presidente ultradireitista Álvaro Uribe. Como esperado, ele venceu, mas a oposição também.

O anticomunismo tem sido praticado pelo sistema capitalista para desvirtuar as críticas, submeter aos povos e eliminar aos opositores. Sob esta política, tem cometido os crimes mais atrozes da história.

A segunda guerra mundial, que produziu milhões de mortos, foi montada pelos monopólios, sobre a base de lutar contra o comunismo nascente na União Soviética. No princípio foi muito bem visto pelos capitalistas de todo o mundo, tinham o temor que a experiência e o exemplo russo se estendesse por outros países, que positivo um sargento colocando na cabeça a cruzada anticomunista!

Por essa razão, Adolf Hitler não foi combatido senão tolerado, invadia países, matava milhares de pessoas, instituiu a tortura, os campos de concentração, os fornos crematórios, estendeu seus métodos a toda Europa, levou ao poder Benito Mussolini, derrubou ao governo republicano na Espanha colocando o general Franco no poder.

O massacre fascista não somente foi cometido contra comunistas, senão contra todos os setores, intelectuais, democratas, religiosos que não estiveram de acordo com o fascismo. Talvez quem tenha melhor refletido sobre isso tenha sido o dramaturgo alemão Bertolt Brecht: “primeiro chegaram pelos comunistas, mas eu não era comunista; depois chegaram pelos sindicalistas, mas eu não era sindicalista; logo chegaram pelos religiosos, mas eu não era religioso; agora chegam por mim, mas já é tarde”. Tudo, absolutamente tudo, com o benevolência dos meios de comunicação da época, os empresários, políticos de direita e a cúpula da igreja, foram cúmplices do holocausto cometido contra o povo europeu e judeu.

Foi depois de várias dezenas de milhões de mortos que países como Inglaterra e EUA entraram na guerra. Queriam parar o holocausto? Não foi essa a intenção, entraram pelo temor de perder o poder ante o avanço implacável do Exército Vermelho.

Os EUA, na época do marcatismo, levaram a prisão e a pena de morte muitos democratas, revolucionários, intelectuais, que não estavam de acordo com a barbárie. Foram condenados sem prova alguma. É bom recordar o casal Rosemberg, que foi executado pelo delito de não pensar como pensavam os governantes da época, entre eles o senador Joseph Mccarthy, que foi o gestor de semelhante grosseria.

Colômbia

Na Colômbia, o anticomunismo tem cobrado milhões de mortos. O assassinato de Jorge Eliécer Gaitán em 9 de abril de 1948, foi produto de um plano de inteligência dos EUA para frear o avanço do comunismo, que nesse então, segundo eles, era encarnado pelo líder liberal, assassinaram Gaitán porque defendeu os interesses dos trabalhadores, porque investigou, descobriu e denunciou o massacre das bananeiras sucedida em 1928. O mataram porque condenou o massacre que estava cometendo o governo conservador de Mariano Ospina Pérez contra liberais, comunistas e dirigentes sindicais. Não podemos esquecer a Oração pela Paz, pronunciada diante de milhares de colombianos que o único que buscavam era justiça, dignidade e democracia.

Para satisfazer o descaramento, assassinaram e botaram a culpa no Partido Comunista Colombiano e o presidente rompeu relações com a União Soviética. Sem nenhuma investigação, o mesmo presidente Ospina fez chegar uma circular a todas embaixadas dizendo que o doutor Jorge Eliécer Gaitán havia sido assassinado e o homicida destroçado, não se sabia quem era, “mas que era um comunista”. Cerca de 300 mil mortos de todos os setores sociais e políticos foi o custo que pagou o povo colombiano nas mãos da política anticomunista orquestrada pelos gringos e executada pelo governo pró-ianque da época.

O anticomunismo seguiu sua carreira, o general golpista Gustavo Rojas Pinilla perseguiu aos comunistas e os declarou fora da lei. Amparado nisso, descarregou a repressão contra os estudantes, trabalhadores e camponeses como o massacre da Praça de Touros de Bogotá, massacre dos estudantes e 8 e 9 de junho de 1955, explosão em Cali, foram algumas das façanhas do general.

Perseguições

Tentou acabar com o movimento agrário do Oriente de Tolima, ali montou uma operação com dez mil homens do exército, aviões e helicópteros bombardeando e metralhando diariamente, tanques de guerra, morteiros e armas sofisticadas. Experimentou os campos de concentração dos nazistas, criou um no município de Cunday Tolima e o outro em Ambalema município do mesmo departamento.

Milhares de homens, mulheres e crianças morreram uns por bombardeio, outros executados por militares fora de combate, muitos morreram de fome. A tática que usaram os militares foi o de arrasar os cultivos de onde os camponeses se alimentavam, razão pela qual lhes tocou comer seus cavalos, mulas, cachorros e gatos para poder resistir; dali emigraram a Pato e Duda, regiões que mais tarde foram agredidas pelo governo de Guillermo Leon Valencia.

O triunfo da revolução cubana produziu uma nova escalada anticomunista na América Latina. Golpes militares no Brasil, Uruguai, Argentina, derrubada do presidente Salvador Allende no Chile, se instituiu a Operação Condor, milhares de mortos, torturados, desaparecidos. Hoje os governos têm que reconhecer e fazem a tentativa de castigar a todos culpados, não obstante, os autores intelectuais continuam passeando tranqüilamente pelas ruas das principais capitais.

Na América Central e no Caribe, a experiência foi a mesma, os EUA sustentaram governos, assassinos e corruptos, que assassinaram milhares de pessoas de todas níveis sociais, desde a igreja até os dirigentes de partidos de esquerda.

Na Colômbia, em 1964, agrediram as regiões camponesas de Marquetalia, Pato, Riochiquito e Guayabero. O pretexto era que ali funcionavam repúblicas independentes e que poderiam ser embriões de outra revolução como a cubana. Havia o perigo que os comunistas tomassem o poder. Era preciso impedir isso a qualquer custo, os gringos desenvolveram o Plano LASO (Latin American Security Operation), 16 mil homens, aviões, helicópteros, guerra bacteriológica, milhares de camponeses mortos e o surgimento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foi o resultado desta operação.

Partido Comunista

A União Patriótica, movimento amplo, democrático e pluralista foi aniquilado pelos governos de Virgilio Barco, César Gaviria, Ernesto Samper e Andrés Pastrana e ainda hoje continuam matando os sobreviventes.

O Partido Comunista foi duramente golpeado, dois secretários de organização, seis membros do comitê executivo de um total de nove, e mais 20 membros do Comitê Central foram assassinados. Milhares de militantes morreram neste massacre sem igual na história. Dezenas de dirigentes estão condenados ao exílio: senador da República, Hernán Motta; conselheiro de Bogotá, Aída Abella; deputada de Antioquia, Beatriz Gómez; membros do Comitê Central Jairo Espinosa, Valério Méndez, Nolásco Présiga, Gerardo González e centenas de militantes que se encontram exilados, distanciados de sua pátria em vários continentes sobretudo na Europa. O extermínio continuou. Na Colômbia, ser comunista, dirigente sindical, dirigente de esquerda, dirigente camponês ou indígena, é mais perigoso que ser guerrilheiro.

Os assassinatos têm chegado a outros setores políticos e sociais, incluídos membros da burguesia, Álvaro Gómez, Luis Carlos Galán, Guillermo Cano e muitos outros que tem caído nesta política absurda de anticomunismo e intolerância.

Pólo Democrático Alternativo

Não me estranha que hoje o presidente Álvaro Uribe Vélez apele ao anticomunismo fascista ao rotular de “comunistas disfarçados” aos dirigentes e militantes do Pólo Democrático Alternativo (PDA). Lembremos que um presidente (encarregado) da Colômbia, Carlos Lemmon Simons, colocou a lápide do anticomunismo em Bernardo Jaramillo e mais tarde o assassinaram.

Não me estranha que o nome das AUC estejam divulgando comunicados ameaçadores “vamos ter de tingir de vermelho as camisetas amarelas” (página Rebelión). Foram iguais os comunicados que enviaram à União Patriótica e a Jaime Pardo Leal antes de começar o genocídio.

Deploro que colunistas que se autoproclamam como democratas estejam em uma campanha anticomunista, pedindo que tirem o Partido Comunista do PDA para que seja democrático. Deploro que dirigentes do PDA, que se dizem “revolucionários”, estejam urdindo a esta balela anticomunista. Deploro que dirigentes do Pólo que se dizem democráticos estejam dizendo em tendas e cantinas que o Partido Comunista tem que abandonar sua política traçada em um congresso para que possa estar no Pólo.

Senhores dirigentes “revolucionários”, senhores dirigentes “democráticos”, com o anticomunismo, o único que fazem é se colocar ao lado do imperialismo e da grande oligarquia. Ao lado dos paramilitares e dos militares que assassinam diariamente até seus mesmos companheiros como sucedeu em Hacarí (norte de Santander) e Cajibio (Valle).

Senhores dirigentes da direita, com esta política será impossível uma solução ao conflito social, político e armado que vive a Colômbia há 57 anos. Como vai fazer com que haja um movimento pluralista e democrático como a União Patriótica ou o Pólo Democrático Alternativo (PDA), se seus dirigentes são colocados na mira dos assassinos?

Tem razão as Farc ao dizer que neste momento não há condições para desenvolver um trabalho político legal sem por em risco a mesma vida. Temos que continuar lutando pela conformação de um novo governo de reconstrução e reconciliação nacional onde estejamos todos sem exclusões e em igualdade de condições.