9º Concut: Celso Amorim reafirma integração latino-americana

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reafirmou durante conferência no 9º Concut o compromisso do governo brasileiro com a soberania e a autodeterminação dos povos. Rssaltou também que "

Acompanhado pelo secretário de Relações Internacionais da CUT, João Vaccari Neto, e pelo representante da Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres, José Olívio, o ministro declarou que a integração latino-americana, "mais do que um desejo, é uma necessidade" para fazer frente aos desafios impostos a um Continente adolescente.

"É importante que construamos esta integração pelo investimento comum, pela tecnologia, pela cultura. Senão ela virá pelo contrabando, pelo narcotráfico e pelo crime organizado", discursou."Temos de pensar nisso com uma visão de longo prazo".

O respeito aos direitos dos trabalhadores, defendeu, deve merecer mais atenção. "A OIT tem capacidade de exigir melhores relações trabalhistas", o que permite colocar a temática social com mais peso nos diferentes fóruns.

No campo econômico, o ministro falou sobre "a busca para encontrar um novo formato de negociação que pudesse dar mais eqüidade ao comércio internacional, sempre levando em conta os nossos interesses, pois não dá para jogar em campo desnivelado". Esta foi a compreensão em relação à Área de Livre Comércio (ALCA) proposta pelos EUA, esclareceu. "É melhor não ter um acordo do que um mau acordo, que nos causaria grandes prejuízos para reverter".

Se o país tivesse capitulado, frisou, "as plataformas da Petrobrás talvez não pudessem estar gerando empregos para brasileiros e recursos para o país, mas submetidas a licitações internacionais". Além disso, os próprios medicamentos genéricos, fundamentais para o combate a doenças como a aids, teriam de ficar submetidos às regras puramente comerciais, "o que prejudicaria todo nosso esforço para garantir a flexibilidade das regras internacionais e de patentes, para que não impedissem o atendimento aos doentes".

Celso Amorim ressaltou o importante papel do G-20, integrado entre outros por Brasil, Índia, Argentina e África do Sul, como forma de proteção das suas economias, num cenário onde "os países desenvolvidos atuavam de forma a dividir os países em desenvolvimento e com isso operavam de modo a jogar uns contra os outros, particularmente contra os países africanos, os mais pobres". "Conseguimos unir países com estruturas muito diversas na sua estrutura produtiva, mas que sofrem com os mercados fechados dos países ricos e com os elementos de distorção no comércio internacional, como são os subsídios", disse.

Um dos exemplos disso, alertou, é o acordo bilateral entre os Estados Unidos e a Colômbia, "onde a produção de soja da Bolívia terá muita dificuldade de chegar à Colômbia, pois terá de competir com o Tesouro norte-americano". "Conversava com um representante indiano e ele me dizia: uma coisa é competir com outro país, outra é competir com o Tesouro dos países ricos. Esta desproporção foi a bandeira unificadora que criou o G-20 e pela primeira vez na história da OMC não há mais uma reunião antes entre os ricos, que depois é levada aos outros.

Apesar dos ataques da mídia, principalmente internacional, das pressões dos EUA sobre os países para que se retirassem do G-20, estamos unidos, atuando em conjunto, somando nossas capacidades, e as negociações continuam avançando".

 

Relatando "as exigências dos países ricos por concessões desproporcionais, que demonstram vista curta, miopia" e "as pressões unilaterais dos EUA", a fim de que escancaremos o nosso mercado interno aos seus produtos, o ministro enfatizou a necessidade "de uma melhor distribuição de riqueza por meio do comércio internacional"

 

Questionado sobre recentes acordos do Mercosul com o Estado de Israel, o ministro lembrou que o Brasil tem defendido historicamente "a desocupação das terras palestinas, o direito do povo palestino a um Estado com viabilidade econômica, contínuo, que não seja como os bantustões" – áreas onde a população negra era confinada durante o regime de segregação racial na África do Sul. Embora haja várias resoluções da ONU condenando a política israelense, reconheceu o ministro, "não há sanções, como havia contra a África do Sul".

"A contribuição para uma resolução pacífica do conflito passa por mantermos relações comerciais com Israel, o que aumenta a nossa capacidade de influência para um eventual diálogo", acrescentou. Celso Amorim lembrou ainda o compromisso do governo brasileiro com a paz e a prosperidade do Oriente Médio, citando a realização da histórica cúpula que reuniu em nosso país vários governantes da América do Sul e dos países árabes.

Sobre as negociações com a China, Celso Amorim esclareceu que é preciso "ver a questão de forma equilibrada", já que o gigante asiático é o nosso terceiro mercado importador e o segundo exportador, tendo ultrapassado a Argentina neste último ano.

"Importamos da China principalmente produtos manufaturados de baixo valor agregado nos quais eles são muito competitivos", lembrou o ministro, ressaltando que, em contrapartida, nossa pauta de exportações inclui setores de ponta, como a aviação, com grande repercussão não apenas na balança comercial como no próprio desenvolvimento científico-tecnológico nacional.