Assembléia da OEA começa em meio a tensões Peru-Venezuela

Do jornal mexicano La Jornada*

As tensões entre Peru e Venezuela, que se acusam mutuamente de ingerência, deram o contexto da abertura, neste domingo (4) da Assembléia Geral da Organização dos Estados

Sob o lema da governabilidade e desenvolvimento na sociedade do conhecimento, p encontro foi aberto formalmente no Teatro Nacional de São Domingos, com discursos do presidente dominicano, Leonel Fernández, e do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza. Este disse que a “retórica inflamada” afetou nos últimos meses a unidade dos países americanos.

“Não há dúvida de que algumas das recentes polêmicas afetaram nossa unidade”, assegurou Insulza, ao inaugurar a Assembléia Geral. “Creio que a retórica inflamada, a intervenção ainda que verbal nos assuntos de outros países e a desqualificação moral das opções políticas de outros membros não contribuem para o clima de harmonia que deveria existir entre nossos países”, advertiu.

Insulza fez as declarações depois que o Peru e a Venezuela mantiveram uma troca de acusações sobre ingerência, numa reunião a portas fechadas que manteve com os chanceleres, antes da cúpula.

Sociedade civil silenciada

A voz da sociedade civil foi silenciada na Assembléia Geral: o chanceler dominicano, Carlos Morales, decidiu pôr fim ao fórum para o diálogo – que se realizaria antes da instalação da Assembléia –, antes que este se concluisse.

“O diálogo não foi possível”, indignou-se Sérgia Galván, do Global Rights. Ela representa o grupo de afrodescendentes que se preparou durante dois dias para dialogar, pretendendo usar a palavra por três minutos, o que foi impossível.
“Há países onde a sociedade civil enfrenta sistematicamente problemas com seu governo; viemos à OEA e também na OEA nos silenciam”, denunciou Ponce.

“Acreditamos que isto põe em questão a credibilidade das resoluções (aprovadas pela OEA) que falam da participação da sociedade civil. Desconfio, com muita razão, do conjunto da Organização”, destacou Hugo Rodríguez, da Anistia Internacional.
Diante do inconformismo das entidades, expressa na imprensa, o embaixador da República Dominicana no organismo, Roberto Alvarez, anunciou que mais tarde a sociedade civil vai dispor de uma hora para o diálogo, depois de lamentar o ocorrido.

A Assembléia da OEA deve aprovar até terça-feira uma declaração final e resoluções sobre temas tão diversos como a promoção do desenvolvimento, novas tecnologias, migrações, governabilidade.

Antes do início do encontro, os chanceleres se reuniram a portas fechadas com Insulza, num encontro em que o Peru e a Venezuela trocaram acusações de ingerência, através de seus ministros, Oscar Martúa e Ali Rodríguez.

“Fiz uma intervenção, que é o que compete a mim, reiterando nossa rejeição formal, categórica, face aos atos de intervenção do presidente Hugo Chávez na política interna peruana”, declarou o chanceler do Peru, ao sair da reunião. Seu país, agregou ele, reafirma a opinião de que “houve uma violação do princípio da não-interferência. Este princípio é fundamental para a vida do sistema interamericano”, disse Martúa.

Por sua vez, o chanceler venezuelano queixou-se da atitude do presidente do Peru, Alejandro Toledo, e do candidato social-democrata, Alan García, que lidera a eleição presidencial deste domingo. “A Venezuela, mais concretamente o presidente Hugo Chávez, simplesmente respondeu aos ataques sistemáticos que provêm do Peru, pela boca do próprio presidente Toledo, desde 2002”, disse.

A troca de acusações entre os dois países pode se tornar pública nesta segunda-feira, se o ministro peruano cumprir sua promessa de tratado do tema na plenária da OEA.
Durante a campanha eleitoral peruana, o presidente Chávez manifestou-se abertamente em várias ocasiões a favor do candidato nacionalista Ollanta Humala, o que gerou protestos do governo peruano e de Alan García, com quem trocou insultos.

Na reunião de chanceleres, o subsecretário de Estado dos Estados Unidos, Robert Zoellick, classificou de “alentador” que países latino-americanos como o Peru, Nicarágua e outros tenham denunciado as interferências do presidente venezuelano em seu próprio processo democrático.

“Não se trata só do Peru, mas também da Nicarágua e outros”, frisou Zoellick, que substituiu na última hora a secretária Condoleezza Rice, que cancelou sua participação na OEA por questões de agenda.

Fonte: http://www.jornada.unam.mx