Divisão na Artsind aumenta suspense sobre rumos da CUT

Uma divisão aberta na Articulação Sindical (Artsind), a corrente majoritária na Central Única dos Trabalhadores, marca a vida da Central às vésperas do seu 9º Congresso. Não se sabe se o o “racha” da Artsind sobreviverá até a plenária final que elegerá o

O 9º Concut começa na próxima segunda-feira (5), no Centro de Convenções do Anhembi, São Paulo, e vai até até sexta-feira. Reunirá mais de 2 mil sindicalistas, na condição de delegados, convidados e observadores nacionais e estrangeiros. Entidades de aproximadamente 1.100 cidades brasileiras estarão presentes. Lideranças de 20 diferentes países confirmaram participação. A pauta destaca o debate sobre a estratégia que deve guiar a Central nos próximos anos.
O encontro cutista coincide com um momento de efervescência política na América Latina, onde é notável o avanço da esquerda. Ocorrerá também a menos de quatro meses da eleição presidencial no Brasil, polarizada entre as forças que apóiam o governo Lula e defendem sua reeleição e os conservadores do PSDB e o PFL, que sinalizam com o retrocesso neoliberal.

 

Correlação de forças 

 

A CUT provavelmente não terá maior dificuldade em definir uma posição clara de combate ao retrocesso neoliberal, aprovando o apoio à reeleição de Lula. Todavia, os desafios do 9o Concut não se resumem a este ponto. Questões candentes relacionadas à democracia interna, autonomia frente a partidos e governos, mobilização da classe trabalhadora por um novo projeto de desenvolvimento e envolvimento dos empregados informais, precarizados e desempregados na organização e na luta sindical, também carecem de respostas.  

A correlação de forças do 9o Concut favorece a Articulação Sindical (Artsind), tendência majoritária vinculada a sua homônima no PT. Desta vez a Articulação deve ficar com a maioria absoluta dos delegados. A Corrente Sindical Classista (CSC), onde atuam os comunistas, vai consolidar a posição de segunda maior corrente cutista, com perto de 20% do Congresso. A Frente de Esquerda Socialista – FES, que agrega militantes do P-SOL e petistas independentes, detém em torno de 10% dos votos e ameaça sair da CUT após este Concut.

A Corrente Socialista Democrática (CSD), também com cerca de 10% dos delegados, parece firmemente alinhada a um setor da Articulação Sindical. Participa ainda do jogo a corrente “O Trabalho”, contando com 4% dos congressistas, e a chamada Tendência Marxista. Os trotskistas do PSTU decidiram sair da Central, criaram o Conlutas e não comparecerão ao 9o Concut. Sua saída não teve grande influência sobre a correlação de forças entre as correntes cutistas, embora fortalecendo o P-SOL que acabou atraindo a maior parte das lideranças sindicais dissidentes do Conlutas.

 

Artsind dividida 

 

A Artsind é majoritária mas está francamente dividida, com dois fortes candidatos à presidência. De um lado, o eletricitário Artur Henrique da Silva Santos, atual secretário geral da CUT, que conta com o respaldo dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e dos bancários de São Paulo. Seu concorrente é o professor estadual João Felício, atual presidente, que tem na Apeoesp sua principal base, mas conta também com forte apoio em categorias como os petroleiros.

 

Não se sabe se o “racha” da Artsind sobreviverá até a plenária final do 9o Concut. Mas são fortes os indícios de que as divergências subjacentes à briga pela presidência não vão desaparecer tão cedo.

 

As divergências podem mesmo ter desdobramentos sérios a médio prazo, pois têm motivações políticas mais profundas, associadas à crise do PT. Como candidato, Felício lançou uma plataforma preconizando mudanças para acentuar a autonomia da CUT frente ao governo e aos partidos, combater o burocratismo e propiciar maior democracia interna. Se a direção eleita no 9o Concut caminhar nesta direção será um grande avanço.

 

 

Desafios

 

Assegurar a autonomia da CUT frente aos partidos políticos e ao governo é um desafio que tende a ganhar mais força na hipótese de reeleição de Lula. As pressões serão maiores. Certamente os representantes do capital financeiro (nacional e estrangeiro) vão exigir que o governo adote um rumo conservador de viés neoliberal, uma agenda que compreenda uma reforma trabalhista reacionária, com redução e flexibilização de direitos, ampliação do arrocho fiscal e repressão aos movimentos sociais.

 

O movimento sindical terá de pressionar noutra direção, pela manutenção e ampliação dos direitos sociais e atendimento das demandas populares. A autonomia é uma pré-condição para defender com firmeza os interesses da classe trabalhadora nesta luta. Por outro lado, a democracia interna parece indispensável para cimentar uma unidade mais sólida entre as correntes políticas que atuam na Central e impedir uma fragmentação maior. Para alcançá-la será preciso superar a cultura hegemonista cultivada ao longo dos últimos anos pela força majoritária, bem como garantir a descentralização e conferir transparência na gestão financeira, maior controle das finanças estaduais pelas direções locais e prestação regular de contas.

 

Mobilizar para a luta nas novas condições é outro grande desafio. Cabe ressalvar que nos últimos anos a CUT perdeu muito do seu ímpeto de combatividade, enfrentamento e mobilização classista. Isto se deve em parte a fatores objetivos – como desemprego massivo, reestruturação produtiva e as mutações no chamado mundo do trabalho. Mas, pesam também problemas de direção, métodos antidemocráticos, excesso de burocratismo e uma concepção que atribui demasiada ênfase à negociação em detrimento da mobilização e luta. Falta a decisão política de enfrentá-los e solucioná-los.

 

É de se esperar que quem busca representar o conjunto da classe trabalhadora brasileira defina, como objetivo de sua orientação estratégica, a luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento, fundado na defesa da soberania e na valorização do trabalho, em contraposição ao neoliberalismo. Isto coloca em primeiro plano a mobilização em torno das bandeiras históricas da classe trabalhadora, como redução da jornada de trabalho sem redução de salários, reforma agrária, pleno emprego e política permanente de valorização do salário mínimo. O bom encaminhamento de tudo isto dependerá em larga medida das mudanças de mentalidade, métodos de direção e concepções que o 9o Concut pode (ou não) propiciar.