Para atrair eleitores de Bolsonaro, PSDB abandona de vez os servidores

Cada vez mais à direita na cena política nacional, o ex-social-democrata PSDB vai escancarar sua feição mais conservadora sob o comando do governador paulista, João Doria. Segundo a Folha de S.Paulo, o congresso nacional do PSDB, neste sábado (7), em Brasília, trará acenos ao eleitorado bolsonarista, além de mais ataques aos servidores públicos e a outros segmentos.

Doria

Consulta prévia a filiados pela internet mostrou maiorias a favor de retrocessos como o pagamento de mensalidade em universidades públicas, a redução da maioridade penal para 16 anos e da possibilidade de demissão de servidores públicos. Esses pontos devem se refletir no documento do encontro, base programática do partido para os próximos anos.

O partido também defenderá as reformas econômicas do governo Jair Bolsonaro, dizendo que são uma continuação da agenda implementada pelos tucanos no passado. Mas, para não ficar tão mal na foto, terá um discurso firme em defesa da democracia e contra falas radicais, que flertam com a volta da ditadura.

Enquanto lidera a marcha ainda mais à direita do PSDB, Doria sente os impactos negativos sobre sua imagem por causa do massacre de Paraisópolis. No domingo, uma truculenta e criminosa ação da Polícia Militar de São Paulo em um baile funk provocou a morte de nove adolescentes e jovens inocentes. A operação foi criticada até pelo ministro Sergio Moro (Justiça), que, em junho, recebeu uma medalha do governo paulista, no auge da crise da Vaza Jato.

Conforme o Estadão, a gestão Doria quer usar drones e câmeras nas fardas dos policiais militares para filmar todas as operações realizadas em São Paulo. O governador disse, ainda, ter se chocado ao assistir um vídeo de agressão no baile funk da comunidade e admitiu, pela primeira vez nesta quinta-feira (5) a possibilidade de revisar protocolos das polícias.

Na segunda-feira, logo após a tragédia, Doria havia declarado que os procedimentos da PM seriam mantidos e defendeu a ação dos agentes em Paraisópolis, embora a versão oficial seja contestada por moradores de Paraisópolis. Três dias depois, no entanto, o governador evitou fazer críticas aos pancadões e admitiu a possibilidade de ajustes na conduta policial.

“Se existirem falhas, e elas forem apontadas, aqueles que falharam serão punidos”, afirmou, em evento no Palácio dos Bandeirantes. “Independentemente disso, a Polícia Militar e a Polícia Civil já foram orientadas a rever protocolos e identificar procedimentos que possam melhorar e inibir, senão acabar, com qualquer perspectiva da utilização de violência e de uso desproporcional de força.”

Para a gestão Doria, o uso dessas tecnologias poderia ter evitado, por exemplo, o conflito de versões em Paraisópolis. Enquanto a PM afirma, sem provas, que o tumulto no baile funk começou após dois criminosos em uma moto passarem atirando contra os agentes, os moradores dizem que foram os próprios policiais que teriam provocado a tragédia ao tentar realizar uma dispersão truculenta no pancadão.