Leonardo DiCaprio rebate Bolsonaro; imprensa estrangeira apoia o ator 

O ator norte-americano Leonardo DiCaprio rebateu as declarações do presidente Jair Bolsonaro, que o acusou financiar incêndios florestais criminosos na Amazônia, por meio de doações a organizações ambientalistas. Em comunicado, DiCaprio negou colaborar financeiramente com as ONGs, “embora elas mereçam apoio” e sejam alvo de falsas acusações do governo e da polícia. O artista também elogiou “o povo do Brasil que trabalha para salvar seu patrimônio natural e cultural”.

Leonardo DiCaprio

“O futuro desses ecossistemas insubstituíveis está em jogo e tenho orgulho de fazer parte dos grupos que os protegem”, acrescentou o ator, que é um defensor do combate às mudanças climáticas. Manifestando-se frequentemente sobre questões ambientais – incluindo as recentes queimadas na Amazônia –, DiCaprio mantém, desde 1998, uma fundação ambientalista que leva seu nome.

Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais na quinta-feira (28), Bolsonaro, sem provas, acusou DiCaprio e a organização World Wide Fund for Nature (WWF) de financiarem queimadas criminosas no Brasil. Não foi a primeira vez que ele associou ONGs ambientais aos incêndios na Amazônia.

“O pessoal da ONG, o que eles fizeram? O que é mais fácil? Botar fogo no mato. Tira foto, filma, a ONG faz campanha contra o Brasil, entra em contato com o Leonardo DiCaprio – e então o Leonardo DiCaprio doa 500 mil dólares para essa ONG”, falou Bolsonaro. “Uma parte foi para o pessoal que estava tocando fogo, tá certo? Leonardo DiCaprio tá colaborando aí com a queimada na Amazônia, assim não dá.”

Nesta sexta-feira, ele voltou a mencionar o ator na saída do Palácio do Alvorada, em Brasília. “Quando eu falei que há suspeitas de ONGs, o que a imprensa fez comigo? Agora, o Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia”, afirmou.

O presidente se referia à prisão arbitrária de quatro brigadistas ligados a uma ONG, acusados – também sem provas – de provocarem incêndios propositais em Alter do Chão, um distrito de Santarém. A polícia ainda executou mandados de busca e apreensão nas sedes de três ONGs, num inquérito que vem provocando questionamentos por não incluir perícias, testemunhas ou evidências.

Apesar de uma absurda teoria da conspiração, dados do inquérito mostraram que a Polícia Civil se baseou principalmente na interpretação de material coletado em interceptações telefônicas de conversas dos brigadistas para fundamentar a acusação. Os diálogos divulgados até agora, no entanto, não evidenciam claramente qualquer crime.

O Ministério Público Federal pediu explicações à Polícia Civil do Pará sobre o caso, afirmando que nenhum elemento apontava para a participação de brigadistas ou de organizações da sociedade civil nos incêndios. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), interveio e afastou o chefe da investigação. Os brigadistas foram soltos na quinta-feira, por determinação da Justiça.

Os quatro presos são voluntários da Brigada de Alter do Chão, ONG que atua no combate a incêndios na região desde 2018. Também foram feitas buscas na sede da ONG Projeto Saúde e Alegria, que já recebeu vários prêmios por sua atuação na Amazônia. Em nota, a WWF informou que os recursos enviados à Brigada não incluíram doações de DiCaprio. A ONG também negou ter colaborado com incêndios florestais e lamentou que Bolsonaro insista em divulgar inverdades.

Repercussão internacional

As acusações de Bolsonaro contra DiCaprio foram destaque na imprensa internacional. Veículos da imprensa alemã como o jornal Die Welt e a revista Der Spiegel repercutiram o caso. O portal de notícias Tagesschau escreveu que o presidente brasileiro fez “alegações sérias” contra o ator sem apresentar evidências, lembrando ainda que Bolsonaro já havia acusado ONGs de provocarem queimadas em agosto, também sem apresentar provas.

Os veículos britânicos The Guardian e BBC também destacaram as declarações de Bolsonaro, afirmando que ele “acusou falsamente” DiCaprio de ter financiado os incêndios. O Guardian falou em “alegações infundadas” e “acusação espúria, pela qual o presidente do Brasil não apresentou prova”. O jornal também chamou de “controversas” as prisões dos quatro brigadistas, “também aparentemente sem evidências”.

Nos Estados Unidos, o Washington Post e o New York Times também deram destaque às “acusações falsas” do presidente brasileiro, “sem apresentar provas”. Segundo o NYT, “foi a mais recente tentativa do líder de direita de culpar terceiros pelos incêndios que concentraram a preocupação internacional em seu governo, que reduziu os esforços para combater a exploração de madeira, a pecuária e a mineração ilegais na Amazônia”.