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Celso Marconi: Parasita, o filme coreano Palma de Ouro

As pessoas vão assistir ao filme Parasita, realizado pelo cineasta sul-coreano Bong Joon-ho, sabendo que ele recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano. Para a maioria, “só pode ser uma grande obra de arte”. Enquanto isso, a publicidade oficial do filme o classifica como Drama / Mistério. E o escritor Bernardo Carvalho o vê como uma comédia. Está tudo certo?

Por Celso Marconi*

Parasita

A cinéfila Isabela Lins, que mora no centro da cinefilia, Paris, me disse considerar que três filmes recentes se unem pelo fato de usarem certa aproximação com a linguagem da pop art e, especificamente, dos comics: um filme do Recife, Bacurau, um filme dos Estados Unidos, Assim era Hollywood, e Parasita. Acredito que isso realmente existe pelo fato dos cineastas serem praticamente obrigados a buscar uma linguagem popular pelas respectivas produções.

E uma coisa que acontece através dessa forma de criação é que os cineastas terminam rompendo com os tradicionais gêneros. Os filmes não são dramas nem comédias, mas têm elementos presentes tanto de um gênero quanto de outro. Agradam aos produtores e nem sempre aos espectadores. Porém podem agradar muito aos jurados de festivais.

A questão política também é fundamental. No caso de Parasita, Bong Joon-ho vive num país dividido – e ele explicita isso em seu filme. Tem uma cena clara em que ele fala da Coreia do Norte. Mas a própria estrutura do seu filme fala mais – e melhor. Bong não segue os padrões de especificidade da luta social dentro dos critérios estabelecidos pela sociologia. Entretanto, cria uma espécie de farsa e por aí busca mostrar a verdade do seu país.

Parasita não é um filme realista, mas não deixa de expressar o verdadeiro da Coreia do Sul. No filme, há dois grupos sociais unidos. Uma família rica e uma família pobre. Os ricos são ingênuos e parecem que vivem com os padrões do século 19. Os pobres são sagazes , irônicos e vivem com os padrões do século 21.

Assim, Bong Joon-ho mostra as facetas sociais da Coreia do Sul, sem cair na trama da política oficial. Ele cria principalmente um clima de ironia. A miséria passa a ser uma faceta – e não um fato social gritante – por culpa dos dirigentes do país, como acontecia com os filmes brasileiros feitos nos anos passados com o Cinema Novo. Realmente, o cineasta não pode se comprometer com questões “partidárias”. Ele diz muitas coisas, mas deixando o compromisso como algo inexistente. O que vale é o gozo mental.

Parasita utiliza verdadeiramente a linguagem de um filme hollywoodiano, mas sem a mediocridade dos filmes que são feitos no tacão dos produtores de Hollywood. Bong Joon-ho mostra que teve liberdade para criar. Todavia, não se afasta totalmente de uma linguagem que é conhecida do público mundial. E na estrutura do argumento também segue esse caminho. Durante o desenvolvimento da estória, vamos tendo dramas, cenas de suspense, eróticas (de leve), violência… e assim vai contentando o espectador mundial. Como está livre até certo ponto, foge aos esquemas.

E assim, cada vez mais, vamos nós – o público mundial – tendo uma produção cinematográfica capaz de agradar a todos. Desde que sejamos cinéfilos.

* Celso Marconi, 89 anos, é crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8. É colaborador do Prosa, Poesia e Arte.