Evo: “Autonomeação de presidenta é o golpe mais nefasto da história” 

 “Foi consumado o golpe mais desleal e nefasto da história. Uma senadora de direita golpista se autoproclama presidenta do Senado e logo presidenta interina da Bolívia, sem quorum legislativo, rodeada de um grupo de cúmplices e sustentada por Forças Armadas e policiais que reprimem o povo”.

Por Leonardo Wexell Severo, na Hora do Povo

Evo Morales

Com estas palavras o presidente da Bolívia, Evo Morales, que se encontra asilado no México, condenou em seu Twitter a autonomeação da senadora Jeanine Áñez como nova autoridade máxima do país andino.

“Denuncio ante a comunidade internacional que o ato de autoproclamação de uma senadora como presidenta viola a Constituição Política do Estado da Bolívia e normas internas da Assembleia Legislativa. Se consuma sobre o sangue de irmãos assassinados por forças policiais e militares usadas para o golpe”, acrescentou o presidente, reeleito em primeiro turno com 47% dos votos no último dia 20 de outubro.

A coesão e integridade dos parlamentares do Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político para a Soberania dos Povos (MAS-IPSP), partido do governo reeleito, foi saudada como ponto chave na luta política e ideológica contra o retrocesso golpista. “Felicito as nossas irmãs e irmãos assembleístas do MAS-IPSP por atuarem com unidade e dignidade para rechaçar qualquer manipulação da direita racista, golpista e vende-pátria. Permanecemos unidos na defesa da democracia, do Estado de Direito, da vida e da Pátria”, reforçou Evo.

Ridícula encenação golpista

Pouco depois de assumir a titularidade do Senado, a legisladora do departamento de Beni – um dos que integram a chamada “Meia Lua” racista, junto com Pando, Santa Cruz e Tarija – se declarou presidenta do Estado Plurinacional. Para tanto, citou o artigo 170 da Constituição, especificamente o parágrafo que trata da “ausência definitiva” das autoridades máximas em razão do “abandono do país”.

Dando sequência à encenação, como se não soubesse do terror indiscriminado desencadeado pelos fascistas, das ameaças, e da violenta repressão e perseguição desencadeada contra o presidente Evo Morales; o vice-presidente, Álvaro García Linera; a presidenta do Senado, Gabriela Montaño; e o conjunto dos parlamentares do MAS, Jeanine reclamou da ausência da bancada governamental, majoritária, que deixou sem quorum a sessão.

Jeanine Anez se proclamou presidenta ilegalmente
 

Em sua vexaminosa interpretação, realizada a toque de caixa, a golpista – sabidamente sustentada pelo narcotráfico – não leu e nem sequer pôs em apreciação as cartas de renúncia do presidente e do vice-presidente. “Assumo de imediato a Presidência do Estado”, declarou Jeanine, diante de uma inexpressiva bancada oposicionista da Unidade Democrata (UD).

Levantando a Bíblia como forma de opressão e violência contra os indígenas, grande maioria da população boliviana, a “nova presidenta” – que teve o sobrinho Carlo Añes preso em 2017 em uma fazenda de Tangará da Serra, no Mato Grosso do Sul, com 480 quilos de cocaína -, reforçou a mensagem, já expressa pelo fascista Luis Fernando Camacho, de Santa Cruz, e pelos golpistas que queimaram a Whipala, do que entendem por democracia.

Bandeira multicolorida e quadriculada dos povos indígenas, a Whipala é uma exortação à alegria, unidade e sonho, oficializada desde 2009 como símbolo nacional da Bolívia, que – conforme os fascistas – jamais voltará a tremular no Palácio de Governo, à Casa Grande do Povo.

Fora Camacho

Durante todo o tempo que durou a farsa, a praça Murillo – centro da capital La Paz e do poder boliviano, onde foi realizada a “posse” de Jeanine – esteve completamente vazia de povo, uma vez que estava inteiramente cercada por barricadas de metal. As imensas barreiras estiveram sustentadas por um enorme contingente de policiais e militares armados com munição de grosso calibre, que mantiveram “democraticamente” afastada a multidão.