Bolsonaro escala Moro para atacar Lula, STF e Congresso 

O governo Jair Bolsonaro (PSL) acusou o golpe. Com a grande visibilidade da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a repercussão de seus primeiros discursos fora da prisão, o Planalto começou a reagir. A estratégia gira em torno do ministro da Justiça, Sergio Moro, escalado para defender o governo e insultar Lula. Moro também afrontou o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso de uma vez só, ao cobrar pressão pela volta da prisão após condenação em segunda instância.

Moro

Na quinta-feira, o Supremo resgatou a Constituição ao vetar a prisão em segunda instância. Por seis votos a cinco, os ministros determinaram o início do cumprimento da pena somente após esgotados todos os recursos – o chamado “trânsito em julgado”. Um dia depois, na sexta (8), Lula foi libertado.

Com essa reviravolta na cena política, o tom dos ataques e contra-ataques tem subido. Segundo a Folha de S.Paulo, Bolsonaro e seus ministros, por orientação do Planalto, não deveriam se manifestar. A princípio, o presidente ignoraria as declarações de Lula, que ficou 580 dias na prisão por decisão de Moro, então juiz da Lava Jato que o condenou, sem provas, no caso do tríplex de Guarujá (SP).

Em discursos, tanto em Curitiba como em São Bernardo do Campo (SP), Lula direcionou sua artilharia a Bolsonaro, Moro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A repercussão das falas do petista irritou Bolsonaro, que pensa em se pronunciar. Inicialmente, as respostas ficariam a cargo de ministros, como o próprio Moro e o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), em um tom controlado.

O plano, porém, não obteve o resultado esperado. Agora, Bolsonaro vai ampliar a resposta e seus ministros também. Moro entrou em cena com posicionamentos mais fortes e assumindo a posição de algoz de Lula e duro crítico da corrupção. “A resposta aos avanços efêmeros de criminosos não pode ser a frustração, mas, sim, a reação, com a votação e aprovação no Congresso das PECs [propostas de emendas à Constituição] para permitir a execução em segunda instância e do pacote anticrime”, escreveu Moro neste domingo (10) em rede social.

Apesar do silêncio de Bolsonaro sobre a decisão do STF, Moro lamentou o “revés” do resultado do julgamento, ao dizer que “lutar pela Justiça e pela segurança pública não é tarefa fácil”. O ministro da Justiça afirmou que a jurisprudência da corte deve ser respeitada, por isso virou seu foco para o Congresso.

No sábado (9), Lula chamou Moro de “canalha”. Ele dissera também que o procurador Deltan Dallagnol montou uma “quadrilha” no comando da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Moro, em seguida, foi ao Twitter: “Aos que me pedem respostas a ofensas, esclareço: não respondo a criminosos, presos ou soltos. Algumas pessoas só merecem ser ignoradas”.

A atuação de Moro é importante para o Planalto porque o ministro é mais popular do que Bolsonaro, como mostram pesquisas de opinião. Além disso, como ex-juiz da Lava Jato, Moro tem mais força para mobilizar protestos contra Lula.

A defesa do ex-presidente, aliás, questiona a imparcialidade de Moro na condução da Lava Jato. O caso deve ser julgado neste mês na Segunda Turma do Supremo. Se o julgamento anular a condenação do tríplex, Lula voltaria a ficar elegível, o que representaria uma ameaça a Bolsonaro em 2022.

O entorno do presidente diz acreditar que a pressão popular pode convencer o ministro Celso de Mello, cuja posição ainda é uma incógnita, a não votar pela suspeição de Moro. Para o Planalto, no entanto, os sinais emitidos recentemente pelo decano não são animadores. No final do mês passado, ele afirmou que o vídeo publicado por Bolsonaro em uma rede social, no qual compara o STF a uma hiena, evidencia que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.

Além de Moro, Heleno tem saído em defesa do governo, numa resposta à perda de espaço de Bolsonaro. No fim de semana, com o discurso inflamado, Lula ocupou espaço majoritário nos veículos de comunicação e conseguiu, segundo análises internas do Planalto, maior adesão que Bolsonaro em sua arena favorita: as redes sociais.

A defesa é que o presidente não pode abrir mão de capitanear a narrativa sobre seu próprio governo. O plano de ação é defendido principalmente por integrantes do núcleo ideológico, formado por seguidores do escritor Olavo de Carvalho. A proposta, porém, tem ganhado apoio também no grupo moderado, formado por integrantes da cúpula militar, para os quais as críticas do petista “ameaçam a ordem social”. No sábado, o Planalto começou a monitorar o risco de protestos pelo país. Bolsonaro recebeu no Palácio da Alvorada integrantes da cúpula das Forças Armadas para discutir o assunto.