El Alto exige respeito à democracia e um basta à violência na Bolívia

Com um uma gigantesca concentração no centro de El Alto, os moradores da terceira maior cidade da Bolívia realizaram nesta quinta-feira sua “assembleia popular” – conhecida como “cabildo” – para exigir “respeito à democracia e basta de violência e racismo contra os setores mais vulneráveis”.

Por Leonardo Wexell Severo, da Hora do Povo

El Alto Bolivia - Foto La Voz de Tarija

As covardes agressões promovidas contra indígenas e partidários do Movimento Ao Socialismo (MAS) por milícias do candidato derrotados das eleições de 20 de outubro, Carlos Mesa, e pelo dirigente do chamado “Comitê Cívico” de Santa Cruz, o fascista Fernando Camacho, foram unanimemente repudiadas. (Vídeo com reportagem local da manifestação contra o fascismo e o racismo em El Alto: FEJUVE alteña indicó que defenderá el resultado de las elecciones nacionales.

De forma “contundente e monolítica”, representantes das organizações sociais, comunitárias e sindicais fizeram uso da palavra para respaldar o “Processo de Mudança” em curso, assim como os resultados das eleições que deram a reeleição ao presidente Evo Morales e ao vice Álvaro García Linera, do MAS. A proposta de aprofundamento das transformações em curso a partir do fortalecimento do setor industrial conquistou 47,06% dos votos, mais de 10% acima do segundo colocado.

O ato convocado pela Federação das Juntas de Vizinhos (Fejuve), Central Operária Regional (COR), Federação de Trabalhadores por Conta Própria (Gremiales) e Comunidades Camponesas da zona suburbana serviu, na avaliação do pesquisador e cientista social Porfirio Cochi, morador de El Alto, “para demonstrar que a cidade, em seus 35 anos, sempre lutou por uma causa nacional”.

“Entregamos nossa vida pelo país, pela pátria. Não temos recursos naturais, mas somos gente empreendedora, lutadora e criativa. Agora, com o apoio dos grandes meios de comunicação privados, os camachos querem nos colocar como a representação de todo o mal da sociedade”, condenou Porfirio.

Uma intensa mobilização de moradores da cidade onde está localizado o aeroporto, vizinho à capital, havia feito com que na segunda-feira à noite Camacho tivesse de dar meia volta com seu “ultimato-fake” contra Evo.

“Logo depois disso uma intensa campanha midiática começou a tratar os altenhos como selvagens e bárbaros. O fato é que nunca conseguiram seduzir nossa cidade, que representa a negação do elitismo e do racismo da ultradireita conservadora, que fez do Estado um patrimônio seu, da oligarquia de Santa Cruz”, relatou Porfírio.

Em nome da Assembleia Popular, o presidente da Fejuve, Basilio Villasante fez um enfático pronunciamento em defesa do voto da área rural, dado massivamente e Evo. “Agora, mais do que nunca, o país nos necessita, o povo boliviano nos necessita. Não é um partido político, o que estamos defendendo é o triunfo do soberano, do povo que acorreu às urnas. O povo que participou e ganhou nas urnas, simplesmente estamos pedindo esse direito, que se respeite esse voto”, frisou.

Em nome dos trabalhadores por conta própria – cerca de 70% da cidade de cerca de um milhão e duzentos mil habitantes – Rodolfo Mancilla apresentou os sete pontos reivindicados pelo setor: defesa intransigente do voto popular e indígena; defesa da democracia, que custou luto e dor ao povo altenho; luta sem vacilação contra o golpe de Estado promovido pelos “Comitês Cívicos” e separatistas e defesa de todas as conquistas sociais do Processo de Mudança nos 14 anos do Estado Plurinacional em curso. O manifesto continua com “a defesa da nacionalização, a mobilização permanente contra a discriminação e o fascismo, e processos penais e prisão para os promotores do golpe”.

COB denuncia barbárie racista

“Hoje temos uma nova responsabilidade, não podemos ficar olhando quando há mortos nos departamentos de Cochabamba e Santa Cruz, humilhando à mulher de pollera [saía indígena], fazendo que se ajoelhe a uma mulher gremial”, declarou o secretário-executivo da Central Operária Boliviana (COB), Juan Carlos Huarachi.

O dirigente da COB rechaçou a agressão praticada em Cochabamba por um grupo de motociclistas encapuzados – que bateram em mulheres e as ridicularizaram enquanto marchavam pacificamente ao lado dos seus filhos – e condenou o sequestro e o espancamento da prefeita de Vinto, Patricia Arce.

Huarachi destacou que os setores populares devem estar cada vez mais organizados e mobilizados para enfrentar e derrotar os “grupos de choque” utilizados pelos fascistas, e que não será permitido que se aproximem da Casa Grande do Povo, sede do governo.

Evo agradece solidariedade militante

“Saudamos o heroico povo de El Alto que ratificou em assembleia sua decisão de defender a paz e a democracia ante o golpe dos que perderam e provocam violência, confrontação e agressões racistas. Muito obrigado, irmãos altenhos. Nunca me abandonaram e eu nunca os abandonarei”, agradeceu em sua conta no Twitter.

Em reunião extraordinária, a Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia também destacou a relevância da mobilização das suas bases em defesa da pátria, dos recursos naturais, da dignidade e da democracia. “Não permitiremos o golpe de Estado contra a estabilidade econômica, social, cultural e política de nosso Estado Plurinacional. Ele está pondo em risco o futuro dos nossos filhos”, assinalou.

Em documento enviado à Justiça, a Confederação camponesa propõe que os golpistas “sejam sancionados, com todo o rigor da lei”, para que “paguem pelo crime de racismo e por todos os outros delitos realizados contra nossas irmãs e irmãos bolivianos e que estão devidamente estabelecidos no Código Penal”.

“Estes atos vandálicos, discriminações, intervenções em instituições do Estado e atentados contra a democracia são receitas do Fundo Monetário Internacional para roubar recursos naturais como o lítio boliviano. Para isso estão usando títeres como Carlos Mesa, Luis Fernando Camacho e Branko Marinkovic [ex-presidente do ‘Comitê Cívico’ de Santa Cruz, foragido da Justiça boliviana pela tentativa de golpe financiado pela Embaixada dos Estados Unidos em 2008, que provocou perdas superiores a US$ 110 milhões] – e outros neoliberais”, conclui o documento.