Caicó e a persistência da herança coronelista em tempos de tubérculos*

Em recente aula ministrada para os meus alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Prof. Antônio Aladim de Araújo, em Caicó, trabalhei com os mesmos o conceito da palavra coronelismo, como um conjunto de práticas políticas caracterizada pelo autoritarismo, o uso da força, mas, principalmente pelas trocas de favores, a compra de votos, e a fraude eleitoral que marcaram as primeiras décadas da república no Brasil.

Caicó
Na referida aula, levantei os seguintes questionamentos para que a turma refletisse: será que aquelas práticas deixaram de existir? será que é diferente do que acontece nas atuais cidades brasileiras? Será que é diferente do que ainda ocorre em Caicó? E você, caro leitor, o que pensa sobre o assunto?

Naqueles tempos, uma das formas de trocas de favores era usar as prefeituras como cabide de emprego. Empregava-se principalmente pessoas de famílias tradicionais e numerosas, com grande influência. Era assim que, os grandes fazendeiros (chamados de coronéis), ou políticos financiados por eles, tinham o favor retribuído na época das eleições.

E na nossa atual cidade de Caicó? Você já deu uma olhadinha no Portal da Transparência do município para ver quantos profissionais já foram contratados desde quando o atual gestor retornou da prisão e reassumiu o comando da prefeitura? Já fez uma pequena pesquisa sobre quantos prédios particulares e veículos já foram alugados?

Ainda nos tempos atuais, em Caicó e em outros rincões do Brasil, são cargos e mais cargos, indicados por vereadores ou outros cidadãos influentes que fazem parte da base de sustentação política dos prefeitos.

Por outro lado, o dinheiro que sobra para o toma lá da cá falta para o remédio no posto de saúde, pra reforma e construção de escolas, para calçar as ruas, para ajeitar os asfalto, para investir na renovação da frota de veículos e maquinas necessários aos serviços de infraestrutura ou do corte da terra para os pequenos proprietários rurais, para pagar os servidores em dia e cumprir o plano de carreira dessa categoria profissional.

Nesse sentido, ao contrário do que se afirma quando tentam vincular as dificuldades financeiras a folha de pagamento dos servidores públicos efetivos, o grande gargalo que inviabiliza o desenvolvimento econômico e social de uma cidade como Caicó é, em primeiro lugar, o mal uso do dinheiro público, somado a desorganização administrativa e a falta de políticas de estimulo a economia, geração de emprego e melhoria nos serviços ofertados ao povo dessa cidade.

Portanto, não podemos mais ficar nas mãos daqueles que governam com base na troca de favores, na manutenção dos privilégios de poucos e que enriquecem as custas da miséria alheia. Romper com a velha política do toma lá dá cá, construir uma alternativa pautada pela participação popular, são etapas indispensáveis para que a nossa cidade retome os trilhos da prosperidade e de uma melhor qualidade de vida para todos os caicoenses.

*Thiago Costa é professor e presidente do Sindicato dos Servidores Públicos dos Municípios de Caicó – SINDSERV