Petrolíferas precisam colaborar com limpeza das praias, diz Bertotti 

Em entrevista à revista Época publicada nesta sexta-feira (25), o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, falou sobre a importância de a indústria petrolífera colaborar com recursos financeiros, essenciais para a limpeza dos resíduos de óleo que atingiram as praias do estado. Ele também destacou que a ajuda das universidades é essencial na pesquisa dos impactos e soluções para esta grave crise ambiental.  

Petrolíferas precisam colaborar com limpeza das praias, diz Bertotti - Divulgação

À revista Bertotti disse ainda que “mesmo sem saber a origem de óleo que atingiu litoral, empresas do setor precisam assumir despesas para limpeza e contenção dos danos”.

Leia abaixo a íntegra da entrevista.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Antônio Bertotti, o estado conduz ampla articulação com municípios e outros estados da região. Apesar de criticar o atraso do governo federal no combate à crise ambiental, ele menciona a mobilização iniciada nos últimos dias.

Bertotti destaca a necessidade de a indústria do petróleo colaborar financeiramente diante do desastre ambiental na região, mesmo sem ainda haver uma certeza sobre o foco de propagação do material.


Voluntários retiram óleo da Praia do Janga, Paulista (PE). Foto: Leo Malafaia/AFP

O petróleo cru já contaminou 233 localidades em todos os nove estados da Região Nordeste, segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).

Como o senhor avalia a situação atual?

O governo federal só criou no dia 7 de outubro um grupo integrando Marinha, Forças Armadas e Meio Ambiente para analisar o caráter e a dimensão da crise. Demorou muito. Estamos trabalhando com o Ibama local desde o dia 2 de setembro. Mas soubemos pela Capitania dos Portos que as primeiras manchas foram identificadas na Paraíba em dia 30 de agosto.

Entretanto, após a vinda do ministro da Defesa (Fernando Azevedo e Silva) nesta semana, chegaram mais três navios patrulha da Marinha e um helicóptero do Ibama.

Quem deve assumir as despesas neste processo de limpeza?

A indústria do petróleo no Brasil movimenta 8% da economia nacional. Pelo plano nacional de contingência, quem deveria atuar e resolver, com recursos, é quem vazou. Como não se sabe quem vazou, tudo fica sob responsabilidade dos governo federal, estaduais e municipais. Mas é preciso ter a colaboração da indústria petroleira, que precisa contribuir com dinheiro. Queremos que esses recursos sejam disponibilizados para a coleta dos recursos sólidos. Nós já recolhemos 900 toneladas em Pernambuco. A coleta de lixo é responsabilidade das prefeituras, mas elas não têm essa especialidade em materiais tóxicos. Precisamos também de empresas especializadas para essa coleta.

O estado de Pernambuco tem sofrido com a reincidência de manchas. Como sido os trabalhos do governo estadual?

Desde o dia 17 de outubro, quando vimos que a mancha estava voltando, percebemos que haveria um volume de manchas maior do que havia chegado em um primeiro momento. De 25 de setembro a 17 de outubro, não tivemos nenhuma mancha. Estamos atuando de maneira integrada com o comando local. O governador fez ontem uma reunião com todos os secretários do litoral pernambucano, incluindo os que não foram atingidos. O prefeito de Itamaracá, por exemplo, estava na reunião e sua cidade não tinha sido atingida. Hoje de manhã, no entanto, apareceram manchas de óleo no município.


Menino no mar do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Foto: Leo Malafaia/AFP

Além disso, não só limpamos a praia. A praia do Cupe, em Ipojuca, próximo a Porto de Galinhas, foi limpa. Mas estávamos com mergulhadores e observamos que havia petróleo no fundo do recife. Só ontem tiramos cinco tonéis de petróleo de lá. Há estragos a curto, médio e longo prazo. Não se trata de apenas pegar um trator e arrancar a areia.

Como é feito o monitoramento?

Ontem, disponibilizamos o telefone 185, que funciona durante 24 horas como um contato direto com a população que quer colaborar e pode alertar sobre manchas no mar. Quando o sol raia e já conseguimos identificar o que é óleo, pedra e nuvem no mar, fazemos diariamente pela secretaria de Defesa Social um sobrevoo pelo Litoral Sul e Norte para identificar o petróleo. Fazemos também patrulhamento no mar.

Quando recebemos a denúncia, vamos com o barco e coletamos, se possível. Jogamos uma boia de contenção e uma manta que absorve o óleo e fazemos a coleta. Perto da Ilha de Santo Aleixo, bem pertinho de Carneiros, foram coletados 600 litros de óleo na última sexta-feira.

Para onde vai o petróleo removido das praias pernambucanas?

A coleta tem sido feita através de caminhões certificados para o transporte de resíduo perigoso. O descarte está sendo feito em um centro de tratamento de resíduos especializado, em Igarassu, que também recebeu resíduos da Bahia. Depois o material deverá ser destinado para a produção de energia. Mas só poderemos saber se isso será possível quando informarem a composição do óleo, que definirá se ele pode ser queimado. O centro de tratamento tem que assegurar que esse reaproveitamento não será mais poluidor do que o próprio resíduo. Se houver um componente que seja muito poluente, terá que ser feita uma descontaminação para que seja possibilitada a geração de energia.

O governo enxerga outras saídas?

Nós nos reunimos com todas as universidades de Pernambuco, a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência. As duas últimas decidiram, em solidariedade aos governos do Nordeste, se colocar à disposição para articular redes nacionais de pesquisa para ajudar no estudo dos impactos e das soluções deste problema. Disponibilizamos R$ 2,5 milhões para esse esforço pela fundação de amparo à pesquisa. No dia 30 de outubro haverá uma reunião aqui em Recife com todas as fundações de amparo à pesquisa do Nordeste para articular esses trabalhos e discutir de forma multidisciplinar todos os aspectos do vazamento, bem como auxiliar na identificação dos impactos. 

Os voluntários têm se destacado na limpeza das praias em todo o Nordeste. O governo tem alertado a população sobre riscos?

O óleo não deve ser tocado pelas mãos. Desde o primeiro momento temos dito isso. É necessário que sejam disponibilizados serviços de coleta profissionais. O apoio pode ser feito na forma de apoio e solidariedade com doações de água para quem está trabalhando na coleta, equipamentos de proteção individual, que em um primeiro momento não tinham chegado em quantidade suficiente. O estado comprou e recebeu muitas doações de empresas. Alertamos que esse material pode ser cancerígeno.

Fonte: Revista Época/ Johanns Eller