Protestos avançam no Chile; Santiago está em estado de emergência 

O presidente do Chile, Sebastian Piñera, decretou na noite desta sexta-feira (18) estado de emergência na capital Santiago e em Chacabuco. A medida foi uma resposta aos grandes protestos contra o aumento da tarifa do metrô. As manifestações começaram na segunda-feira (14 ), quando estudantes começaram a entrar nas estações do metrô sem pagar, pulando as catracas. Alguns dias depois, ficou claro que tinham apoio da população.

Por Isabela Vargas, de Santiago, especial para o Vermelho

Chile

Com o lema “Evadir es una forma de lucha”, várias pessoas de todas as idades passaram a imitar a ação dos estudantes e protegê-los da polícia e dos funcionários da empresa Metrô Santiago. Na sexta-feira, o conflito chegou ao nível máximo de tensão, já que o governo respondeu com reforço no policiamento dentro do metrô. O resultado: incêndios, panelaços e confronto direto entre manifestantes e os carabineiros (integrantes da força policial no Chile).

Se durante a semana a empresa tentou contornar situação fechando as portas e interrompendo os serviços em algumas estações, na sexta – à medida que os conflitos se acirravam – mais e mais estações suspendiam os serviços até que linhas inteiras ficaram sem funcionar. O metrô suspendeu totalmente os serviços, e as pessoas tiveram de ir para casa de ônibus, carro e bicicletas. Muitas delas caminharam por horas. A cidade ficou um caos com muita gente desorientada, sem saber o que fazer.

Um panelaço no fim do dia foi a forma que os santiaguinos encontraram para serem ouvidos pelos governantes. Enquanto se escutavam as buzinas e as panelas, o governo preparava uma nova surpresa para a população. Pouco antes da meia-noite, o presidente fez um pronunciamento à nação e, enquanto a TV transmitia seu discurso, um novo panelaço tomou conta da cidade. Piñera declarou estado de emergência. Mas o que significa isso?

É um mecanismo usada em caso de grave alteração da ordem pública ou de ameaça à segurança nacional. Uma vez declarado, as regiões ficam sob o comando da Defesa Nacional. As forças armadas já estão nas ruas e cabe a elas autorizar reuniões em locais públicos e manter a ordem quando elas acontecerem. Também controla a entrada e saída de pessoas nas regiões que estão sob estado de emergência – no caso, a Grande Santiago.

Nesse momento, o metrô não está funcionando e, com os danos ocasionados, ficou claro que será impossível retomar a normalidade na próxima segunda-feira – ainda mais com o exército nas ruas. Muitas pessoas veem a medida do governo Piñera como um ato desesperado, diante do apoio da população aos protestos. Recorrer às forças armadas ajuda a relembrar um período sombrio que ainda amedronta muita gente no Chile: a ditadura militar (1973-1990).

Ainda é cedo para avaliar se a decisão realmente terá o efeito desejado pelo governo. O certo é que os protestos dos estudantes deixaram claro que no Chile ainda existe uma sociedade extremamente dividida, injusta e descontente com a estrutura social.

O valor da passagem no metrô na hora do pique (hora punta) foi reajustado a CLP 830 (R$ 4,77). No ônibus, a tarifa agora custa CLP 710 (R$ 4,11). Desde março de 2018, o atual governo já reajustou três vezes as tarifas, utilizando uma polêmica fórmula de cálculo. Antes, considerava-se o preço do combustível, o aumento do custo da mão de obra, o valor do dólar e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Agora, foi incluído o custo de energia elétrica, sob a justificativa de que a cidade utiliza ônibus elétricos para complementar o serviço do metrô.

Alguns especialistas indicam que o aumento, na realidade, seria justificado pela inauguração de novas e modernas linhas (3 e 6), entregues recentemente. Elas funcionam há menos de dois anos. A própria ministra dos Transportes, Gloria Hutt, chegou a declarar que, em 2021, quando o atual subsídio para transporte público na capital terminar, a passagem de metrô pode chegar a CLP 1.000.