Sem categoria

Carnaval 2020: Bolsonaro será o principal alvo das escolas do RJ 

O fim de semana marcou a escolha dos últimas sambas-enredo do Carnaval 2020 no Rio de Janeiro (RJ). Mais uma vez, o viés crítico – que deu o tom na Marquês de Sapucaí nos últimos carnavais – estará novamente presente na Passarela do Samba. Oito das 13 escolas do Grupo Especial terão temas políticos no próximo desfile. Nas composições da Mangueira e da Portela, há inclusive referências indiretas ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Mangueira

Na Estação Primeira, que escolheu a obra de Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo, o samba cita as vezes em que Bolsonaro imitou uma arma com a mão: “Favela, pega a visão / Não tem futuro sem partilha / Nem Messias de arma na mão”. A atual campeã do carnaval carioca cantará o enredo A Verdade vos Fará Livre, que mostrará Jesus combativo, condenando a hipocrisia de líderes religiosos e preconceitos.

A obra de Manu e Máximo, bicampeões na Mangueira, defende o samba num momento de ataques às escolas: “Não à toa! O carnaval é uma das maiores manifestações culturais do país. Ele é vivo, mesmo com todo o desprezo que o poder público vem tendo nos últimos anos”, diz a compositora Manu da Cuíca.

Já a Portela alfineta Bolsonaro e o prefeito Marcelo Crivella ao cantar Guajupiá, Terra sem Males, que retrata a história dos índios que habitavam o Rio antes da chegada dos portugueses. “Índio pede paz mas é de guerra / Nossa aldeia é sem partido ou facção / Não tem bispo, nem se curva a capitão”. Rogério Lobo, um dos compositores do samba portelense, explica: “Nosso objetivo é falar da questão indígena antes da colonização, sem esquecer o momento atual. Quem catequizou os índios foram os bispos e quem os escravizou, os capitães do mato”.

Outras seis agremiações têm sambas politizados. Na São Clemente, a obra do humorista Marcelo Adnet com André Carvalho, Pedro Machado e Gustavo Albuquerque para o enredo O Conto do Vigário é recheada de referências às principais polêmicas políticas: as denúncias de laranjas no PSL (“Tem laranja!”, diz verso do samba), os presos em Bangu pela Lava Jato (“Tem marajá puxando férias em Bangu!”) e a polêmica das fake news (notícias falsas) na última eleição presidencial (“Brasil, compartilhou, viralizou, nem viu! / E o país inteiro assim sambou / Caiu na fake news!”).

A Salgueiro apresenta enredo sobre o primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamin de Oliveira, enquanto a Grande Rio resgata o pai de santo Joãozinho da Gomeia. Assim, as duas escolas vão transmitir mensagens de luta contra o racismo e a intolerância religiosa.

A Mocidade, com desfile sobre Elza Soares, citará mazelas sociais, assim como a União da Ilha, que menciona a população invisível entre “becos e vielas” no enredo Nas Encruzilhadas da Vida, entre Becos, Ruas e Cielas, a Sorte Está Lançada: Salve-se Quem Puder!. Já a Tijuca, com Onde Moram os Sonhos, faz uma crítica ambiental (“O rio pede socorro / É terra que o homem maltrata”).

Grandes nomes entre compositores

Além do viés crítico, os sambas que serão apresentados na Sapucaí nos dias 23 e 24 de fevereiro do ano que vem têm grandes nomes da música popular brasileira entre seus compositores. Sandra de Sá está entre autoras do hino da Mocidade. Já Dudu Nobre e Jorge Aragão assinam a canção que embalará a Unidos da Tijuca. E a São Clemente vai para avenida com um samba de autoria do humorista Marcelo Adnet.

Doze das 13 escolas do Rio já escolheram seus sambas para o carnaval 2020. Na Estácio de Sá, a versão final será anunciada nesta semana e resultará da junção de duas canções que chegaram à final da disputa realizada pela escola.