O bolsonarismo murchou: PSL vence só duas de 43 eleições suplementares

Desde que, há um ano, Jair Bolsonaro foi eleito presidente, 43 cidades brasileiras realizaram votações para definir os sucessores de prefeitos que tiveram o mandato cassado pela Justiça. Nesse ensaio para as eleições municipais de 2020, o bolsonarismo fracassou. Foram apenas sete as cidades onde o PSL, partido do presidente, lançou candidatura desde outubro de 2018, tendo eleito prefeitos apenas em Pimenta Bueno (RO), em dezembro de 2018, e em Mirandópolis (SP), no mês passado.

(Reprodução)

O resultado das votações mostra como legenda de Bolsonaro ainda tem a busca por capilaridade como grande desafio antes das disputas municipais. E com um agravante: a preparação do PSL para as disputas pelas prefeituras, a definição dos candidatos e principalmente a distribuição dos recursos partidários para as campanhas estão no centro da briga do grupo ligado a Bolsonaro com o comando formal da legenda, presidida pelo deputado Luciano Bivar (PSL-PE).

Segunda sigla com maior representação no Congresso Nacional, o PSL garantiu uma fatia de R$ 103 milhões do fundo partidário para distribuir entre a direção nacional e os diretórios regionais neste ano. Em 2020, deverá receber cerca de R$ 200 milhões do fundo eleitoral. Para Bolsonaro, o desempenho eleitoral no ano que vem é crucial para ampliar a presença de aliados em municípios por todo o país, de olho em uma base que impulsione sua candidatura à reeleição em 2022.

O racha com Bivar, acusado por Bolsonaro de falta de transparência na gestão dos recursos do partido, trouxe à tona as tensões internas do PSL na construção dessas candidaturas nos municípios. A isso se soma o mau desempenho bolsonarista em eleições suplementares.

Essas eleições são as realizadas fora de época em virtude da cassação de mandatos de prefeitos. Dos 43 pleitos que ocorreram desde que Bolsonaro se elegeu, segundo dados do TSE, o PSL lançou três candidaturas no estado de São Paulo, além de postulantes em Minas, Rio, Espírito Santo e Rondônia.

Temas locais ou nacionais?

Éverton Sodário, apelidado de “Bolsonaro caipira”, foi o segundo prefeito eleito pelo PSL no Brasil após a eleição presidencial. Ele deverá assumir a prefeitura de Mirandópolis, no interior paulista, ainda este mês. Antes dele, Delegado Araújo havia sido eleito em Rondônia, mais precisamente em Pimenta Bueno, na esteira da vitória de Bolsonaro, no segundo turno, e do governador do PSL Marcos Rocha.

Embora tenha usado a família Bolsonaro na campanha, Sodário diz que as questões nacionais e ideológicas tiveram importância menor na disputa municipal. Ele acredita que isso se repetirá nas eleições de 2020. “Os temas locais predominaram, e o viés ideológico ficou em segundo plano aqui. O morador quer saber mais do asfalto da sua rua e menos da reforma da Previdência”, afirma o prefeito eleito.

Em Paulínia (SP), a presença do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e um investimento de cerca de R$ 250 mil do fundo partidário não foram suficientes para eleger Capitão Cambuí, o candidato do clã Bolsonaro. O policial militar terminou em quinto lugar na disputa vencida por Du Cazellato (PSDB) em setembro. Com 100 mil habitantes, Paulínia é a maior das 43 cidades que elegeram um novo prefeito. Situada na região de Campinas e conhecida como polo petroquímico do estado, a cidade deu a Bolsonaro vitória nos dois turnos da eleição presidencial.

Cambuí minimizou a possibilidade de uma transferência de voto de Bolsonaro nas eleições municipais e citou a “falta de maturidade” do partido nas urnas como um dos fatores que contribuíram para a derrota. “O PSL é um partido que era pequeno e ainda precisa de muita estrutura. Falta maturidade. Tivemos muitas dificuldades. As características locais são mais fortes em disputa de prefeitura”, opina o policial.

Cambuí sentiu os efeitos da briga entre a família Bolsonaro e a direção do PSL. O candidato terminou a campanha devendo R$ 200 mil a fornecedores porque o diretório nacional, controlado por Bivar, não liberou os cerca de R$ 450 mil que o PSL estadual, presidido por Eduardo Bolsonaro, havia prometido para sua campanha.

Pouco antes da eleição, o partido destituiu Lucia Abadia do comando do diretório municipal para indicar um nome mais próximo de Eduardo Bolsonaro. “Acharam que era só colocar Eduardo Bolsonaro na campanha e ele (Cambuí) estaria eleito. Não foi assim. Foi um fiasco”, diz Lucia.

Os demais resultados do PSL nos pleitos suplementares escancaram como o bolsonarismo murchou. Em Cajamar (SP), Vaguinho (PSL) ficou em quinto. Já em Iguaba Grande (RJ), Washington Tahim, apoiado abertamente pelo clã Bolsonaro, ficou em segundo, atrás do eleito Vantoil (PPS). Raphael Fonseca (PSL) foi superado por Edmilson Meireles (MDB) em Irupi (ES). Na derrota mais apertada, em Nova Porteirinha (MG), Regina Freitas (PSL) perdeu para Joélia Barbosa (MDB) por 18 votos.