Edilson Silva entra no PCdoB e defende frente ampla contra retrocesso 

Para o ex-deputado estadual de Pernambuco, Edilson Silva, na atual conjuntura, o papel das esquerdas é buscar a unidade para barrar o retrocesso representado por Jair Bolsonaro e seus aliados. Nesta segunda, às 18h, em um ato político e cultural no Recife, ele ingressa no PCdoB, que tem feito da construção de uma frente ampla uma de suas principais bandeiras. 

Edilson Silva entra no PCdoB e defende frente ampla contra retrocesso - Divulgação

“Houve com o PCdoB uma espécie de casamento, bastante natural. O partido tem uma história bem estruturada de construção de unidade das forças progressistas. E isso, para mim, é o centro da política hoje”, afirma Edilson, que deixou o PSOL em maio deste ano.

Segundo ele, sua filiação coincide com uma mudança profunda na política do país. “Com a eleição do Bolsonaro e de vários governos estaduais também representantes de uma pauta anticivilizatória, existe uma necessidade urgente de conjugar forças não só progressistas, mas iluministas, que defendem a razão, a ciência. Nesse contexto, o PCdoB nos acolheu e a gente acolheu o PCdoB como partido necessário para militar por essa unidade, com uma trajetória quase centenária nesse sentido”, detalha.

Para além das afinidades táticas, Edilson ressalta ainda a identidade ideológica com a sigla comunista. Sublinha que também pensa a política a partir de uma perspectiva socialista e anticapitalista.

Bolsonaro e o retrocesso civilizatório

Com 35 anos de uma militância que começou no movimento estudantil e seguiu pelo sindicalismo e por uma vida partidária ativa, Edilson afirma que nunca assistiu a um momento tão dramático na política brasileira. “Nunca houve um ataque tão orquestrado não só aos direitos do povo, mas a aspectos civilizatórios, que achávamos que não iam mais retroceder”, lamenta.

Ele lembra que, como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, enquanto deputado, trabalhava contra a construção gradativa de um Estado penal no Brasil. “A gente tinha uma preocupação grande com a política de superencarceramento, com o volume de assassinatos no Brasil e uma espécie de genocídio da população negra. Não achávamos que isso ia se aprofundar. Mas hoje temos que lutar não só contra um Estado penal, mas contra um Estado assassino, que tem o governo do Rio de Janeiro como vanguarda dessa política”, exemplifica.

O ex-parlamentar classifica a situação atual como “gravíssima, uma vez que conjuga o agigantamento desse Estado penal e policial ao desmonte do Estado social”. “A gente caminha para construir um instrumental normativo, institucional, que dá muita liberdade para práticas fascistas. Você desmonta os instrumentos públicos de garantir o bem-estar da população e a cidadania e, sabendo que vai haver reação, vai agigantando a face homicida e agressora por parte do Estado”, critica. 

Responsabilidades e perspectivas da esquerda

Esse cenário exige um cuidado muito grande da esquerda, indica Edilson. “Não é momento de discutir ajuste fino ou diferenças que possamos ter”. O ex-deputado menciona falas do governador do Maranhão, Flávio Dino, em defesa de amplas alianças. “Qualquer pessoa que defenda a democracia como valor importante, que garante o exercício da política, da divergência, e defenda a manutenção dos direitos básicos de nosso povo e a soberania do país, é bem-vinda na construção dessa unidade, em defesa da nossa gente”, diz.

Para ele, o momento político exige uma inflexão ao centro. E usar de radicalismos para tentar enfrentar o retrocesso pode levar ao resultado inverso, alimentando a extrema-direita. “O sonho de Bolsonaro, [Wilson] Witzel e [João] Doria é construir uma polarização radicalizada à esquerda, com pautas que não tenham muito a ver com o cotidiano da maioria da população, que está muito assustada com a criminalidade, o desemprego, a fome”, coloca.

Em sua opinião, os partidos da esquerda têm a grande responsabilidade de lutar pela unidade e fazer essa inflexão ao centro. “Essa é nossa tarefa hoje: isolar o fascismo, isolar esses parasitas que se colocaram na política brasileira, surfando num sentimento legítimo da população de desespero. Se tiver setores no PSDB, no PMDB, que estiverem com esta pauta, temos obrigação política de ir lá buscá-los”, defende.

Ele sublinha o papel do PCdoB nesse processo. “É o partido que vejo com mais equilíbrio, um partido que tem um apetite pela unidade e, não, um apetite pelo protagonismo na unidade. Tem cumprido a missão de construir, dentro da esquerda, um comportamento que permita a criação dessa frente muito ampla, que dê conta de se contrapor ao governo Bolsonaro e seus satélites nos estados, para a partir daí, a gente tentar conjugar um conjunto de pautas que são muito caras para nós, como a pauta do Lula Livre, que eu defendo”.

De acordo com ele, é preciso ter a compreensão de que a liberdade do ex-presidente Lula vai exigir uma determinada correlação de forças na sociedade e na institucionalidade. “Não podemos baixar a bandeira do Lula Livre, mas não vamos conseguir tirar o Lula de lá sem isolar quem está no governo, que é quem tramou esse golpe. Então ou você coloca esse governo em condição minoritária ou não vamos alcançar uma tal força social que consiga, não só restabelecer patamares aceitáveis de democracia, soberania e manutenção dos direitos, mas também a liberdade de Lula, que é parte disso”.

Unidade acima das diferenças locais

Com um passado marcado pela oposição aos governos do PT e do PSB no Estado, Edilson analisa que o mundo mudou e é preciso, hoje, relativizar pontos de divergência, em prol da unidade.

“Nunca nos confundimos com a direita. Sempre fizemos uma oposição no sentido de apontar para frente, falar das insuficiências dos governos. O que tenho dito é que a eleição de 2018 estabeleceu outros parâmetros. O governador Paulo Câmara foi colocado na condição de uma liderança muito importante aqui, na construção dessa ampla unidade para isolar o adversário principal do povo brasileiro”, afirma.
Ele cita que houve uma mudança tão grande na conjuntura, a ponto de o Nordeste ter se tornado um território de resistência, no qual governadores estão formando uma aliança para fazer frente às retaliações que vêm do governo federal. “Como um militante de esquerda, progressista, que luta em favor da cidadania, vai permanecer com uma pauta paroquial? É impossível”, responde.

Antes de oficializar o ingresso no PCdoB – cuja presidenta nacional, Luciana Santos, é vice-governadora em Pernambuco -, o ex-deputado conversou com Paulo Câmara.

“Hoje temos uma tarefa em comum, que é a unidade para recuperar o Estado democrático no Brasil, recuperar um orçamento público voltado para as demandas da população. Numa conjuntura como esta, como eu posso ficar com rusgas com o governador? Hoje temos essa unidade tática, que já está acontecendo em nível nacional, inclusive com o meu ex-partido, o PSOL. Para nós, é bastante natural”, explica. Segundo ele, “a história” o colocou no mesmo trilho do PCdoB e também de seus aliados.

Planos políticos

Além de emprestar sua força política e eleitoral para combater o governo Bolsonaro e de manter sua militância no movimento negro, agora dentro das hostes comunistas, Edilson tem planos para as próximas eleições. Pretende disputar uma vaga de vereador.

“Vamos estar, no movimento social, fazendo a luta direta, organizando nosso povo para resistir no dia-a-dia à retirada de direitos e, na esfera institucional, temos uma eleição extremamente importante no ano que vem. Precisamos fazer dela uma espécie de ensaio daquilo que precisa ser o próximo ciclo eleitoral: precisamos dar vitória às forças progressistas, e devo ser candidato a vereador na capital, como mais um soldado para fortalecer esse nosso campo e essa nossa estratégia”, revela.

De acordo com Edilson, cerca de outros 50 militantes próximos a ele devem ingressar no PCdoB. O ato de filiação acontece no Jardim Aurora, na Rua dos Palmares, nº1306, no bairro de Santo Amaro, no Recife.

Do Recife, Joana Rozowykwiat