Unegro participa de encontro de negros e negras pela democracia em BH

A Frente Brasil Popular realizou no final de semana dos dias 28 e 29 de setembro, em Belo Horizonte, um encontro estadual de negros e negras em luta pela democracia. Na oportunidade, a médica maranhense Fátima Oliveira foi homenageada pelo exemplo de luta antirracista. 

Unegro Minas - Íris Pacheco - MST
Nos dias 28 e 29 de setembro, a Frente Brasil Popular reuniu negras e negros em luta pela democracia. O evento ocorreu na Escola Sindical 7 de Outubro, no Barreiro, em Belo Horizonte. 
 
Protagonizado por negras e negros das entidades e movimentos que compõem a Frente Brasil Popular como Unegro, Levante Popular da Juventude, UJS, MST, MAB, entre outras organizações e coletivos do Movimento Negro de Minas Gerais, estiveram presentes lideranças de municípios do interior do estado e da região metropolitana para debater como os ataques à democracia brasileira afetam a vida do povo negro, e traçar estratégias de luta para o próximo período. O PCdoB participou da comissão organizadora através de Alexandre Braga (Unegro) e Black da UJS e CTB que compuseram as comissões de trabalho responsáveis pela estrutura, programação e articulação com demais movimentos sociais que compõem a Frente Brasil Popular em Minas Gerais e alguns coletivos autônomos como a Rede Afro LGBT e a Rede Estadual de Mulheres Negras, de Minas Gerais. 
 
O objetivo central do evento era reunir representantes de organizações negras para discutir, coletivamente, a atual situação política do País, cujo conjunto da obra encerra um ciclo vitorioso de políticas públicas afirmativas e, pior ainda, reforçam práticas fascistas e genocidas contra os corpos negros, sejam nos espaços das cidades, sejam nas universidades e na vida social como um todo. Principalmente, porque, concretamente, é a população negra a principal vítima desse conjunto de retrocessos no âmbito político, econômico e social. Só como um dos exemplos disso, a onda do racismo crescente fez disparar a onda de violência, sexual e policial, contra os jovens negros das periferias, de crianças negras e de trabalhadores negros e negras em relação ao desemprego, que é uma forma de violência que impacta as famílias e a qualidade de vida dessas populações negras em Minas Gerais e no Brasil. 
 
Também foi uma oportunidade histórica da Frente Brasil Popular ter um momento para colher as impressões e ser um espaço de afeto e integração destes movimentos, do interior e da capital, que puderam ter a chance de confraternização durante os dois dias de evento. Agora, como tarefa, além da Carta do 1º Encontro, será elaborado um Programa de Ação Política visando instrumentalizar as entidades negras para não só enfrentarem o atual momento político, mas de superar esta fase conservadora e fascista no Brasil, em 2020. O espaço discutiu ainda o fortalecimento e ampliação das ações de formação e de luta das negras e negros a partir da Frente Brasil Popular, como diz um trecho da Carta: “Apontamos que faremos um novembro negro em 2019 repleto de ações e lutas contra o racismo. E por último, construiremos em 2020 um processo de formação política entre estas organizações com o foco na Questão Racial no Brasil”, finaliza. 
 
Homenagem 
 
O encontro homenageou Fátima Oliveira, médica maranhense e militante antirracista, atuante em Minas Gerais. Fátima trabalhou no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e participou do processo preparatório para a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (Durban, 2001). Também atuou na elaboração da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, foi membro da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, da Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas, e da direção nacional da União de Negras e Negros Pela Igualdade (Unegro).

Carta do I Encontro de Negras e Negros pela Democracia – Fátima Oliveira
 
“Permanece evidente que a verdadeira desalienação do negro implica uma súbita tomada de consciência das realidades econômicas e sociais”. (Frantz Fanon)
 
Estivemos reunidos em Belo Horizonte, nos dias 28 e 29 de setembro de 2019, mais de 100 negras e negros, entre militantes sociais, sindicalistas, religiosos e intelectuais de varias regiões de Minas Gerais. O Encontro de negras e negros pela Democracia, que homenageou a lutadora Fátima Oliveira, foi construído pelas organizações que vêm assumindo o fortalecimento da Frente Brasil Popular. As esquerdas brasileiras sofreram uma derrota estratégica no ultimo período, sendo o resultado o golpe de 2016 e a vitória eleitoral do governo neofascista e ultraliberal de Bolsonaro. Em Minas, seguiu a mesma linha com a eleição de Zema. O pós derrota abre espaços para as auto-críticas, e também para as possibilidades de reorganização das lutas sociais. 
 
É fato que passamos por um momento de resistência, onde nosso principal objetivo é continuar a existir, pois são os corpos, o trabalho e as vidas dos negros e negras que estão sendo primeiramente rifados pelas elites brasileiras nas periferias e comunidades. 
 
Porém, para abrir um flanco em meio a este cerco da burguesia brasileira afirmamos ao final do Encontro que:
 
• A luta por educação pública e de qualidade, pelo sistema único de saúde (SUS), pela infância, o não desmonte das políticas públicas, contra o modelo de mineração, agronegócio e a LGBTfobia, é uma luta contra o racismo;
 
• Que o capitalismo não pode oferecer uma saída para nós, pois não deixará seu caráter dominador e explorador, e seu desenvolvimento econômico não poderá ser acompanhado de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente;
 
• Que o capitalismo brasileiro estruturalmente se sustenta e opera a partir das estruturas do racismo e do patriarcado;
 
• A democracia e a construção de um Projeto Democrático Popular para o Brasil só serão possíveis se construirmos de fato a segunda, e completa, Abolição da Escravidão no nosso país. Para isto é preciso: a) garantir nossa soberania territorial, dos recursos naturais e preservação das nossas empresas estatais, casados a realização da reforma agrária e urbana; b) fortalecer a cosmovisão africana;
 
• As nossas lutas devem buscar impedir os retrocessos das políticas públicas afirmativas e de reparação histórica conquistadas pelo povo negro no último período;
 
• Nosso retorno às bases dos trabalhadores, junto ao nosso povo, somente será possível com a intensificação do trabalho de base nas periferias, comunidades rurais e quilombolas, terreiros e igrejas.
 
Desta forma, a Frente Brasil Popular assume, junto ao Movimento Negro de Minas Gerais, o compromisso de manter este coletivo de militantes em constante debate, no intuito de criar ou fortalecer os comitês já existentes nas regiões do nosso Estado com o objetivo de ampliar a organização das negras e negros, e apresentar um programa voltado aos anseios do povo negro. 
 
Também apontamos que faremos um novembro negro em 2019 repleto de ações e lutas contra o racismo. E por último, construiremos em 2020 um processo de formação política entre estas organizações com o foco na Questão Racial no Brasil.
 
O povo negro unido é um povo forte!
Lula Livre!
Vidas negras importam!
Pátria Livre, Venceremos!