PSL-SP convoca o “Fora, Joice!” contra a líder do governo Bolsonaro 

O “Fora, Joice!” é a mais nova crise instalada no PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro (PSL). A um ano da eleição municipal, a direção do PSL-SP pressiona a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann, a deixar a legenda. Em meio a disputas internas, Joice – que é pré-candidata à Prefeitura de São Paulo – já negocia sua eventual migração com quatro legendas e critica a direção do PSL em São Paulo, presidido pelo deputado Eduardo Bolsonaro.

Joice

Com mais de 1 milhão de votos – o melhor desempenho de uma mulher para deputado federal –, Joice saiu da eleição de 2018 com grande capital político. Ainda assim, é vista com desconfiança pela cúpula do diretório paulista, que estuda fazer uma prévia, na tentativa de barrar a pré-candidata. Dirigentes dizem que a deputada atua por interesses próprios, e não em favor da legenda.

Criticam ainda sua proximidade com o governador de São Paulo, João Doria. Na visão de lideranças da sigla, a deputada terá o apoio informal de Doria na eleição e já estaria negociando a migração para o DEM ou até mesmo para o PSDB, que apoia oficialmente o tucano Bruno Covas, pré-candidato à reeleição.

Indicado para comandar o diretório da capital paulista, Edson Salomão defende a prévia e diz que o PSL “não quer um candidato que flerte com outros partidos”, num ataque direto à deputada. “Se Joice tem relação com o PSDB, isso gera desconforto. O eleitorado do PSL quer alguém totalmente alinhado com as pautas conservadoras”, diz ele. “Joice tem direito de se lançar, mas queremos que essa possibilidade continue aberta a outros. Os filiados escolherão o candidato.”

Joice diz que será candidata, mesmo que o PSL não a apoie. “Não penso em mudar de partido, mas não vou deixar picuinhas fazerem com que o comando de São Paulo caia nas mãos da esquerda”, provoca. “Vou ser candidata. Ponto”. Ao falar dos convites, a deputada não revela com quem tem negociado, mas diz não deixar “a porta fechada para ninguém”.

“Serei candidata de qualquer forma. Meu desejo é que seja pelo PSL. Se não for possível, tenho que buscar outro partido”. A migração, se concretizada, deve ocorrer em 2020, na “janela partidária”, para não perder o mandato.

No PSL-SP, Joice também enfrenta a resistência de parte da bancada na Câmara. Para a deputada Carla Zambelli (SP), que defende a prévia, a correligionária deve se dedicar à liderança do governo. “O PSL mal se consolidou na Câmara e ela já quer disputar a prefeitura. Mal começa a exercer um cargo e já quer pular para outro”.

Carla diz que o PSL só deve lançar candidato se tiver potencial de vitória, para não ter o risco de ter baixa votação no maior colégio eleitoral do país. Ela nega a intenção de ser candidata. “Quero continuar na Câmara. A não ser que seja uma missão dada pelo presidente”.

Entre os cotados pelo partido estão o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, conhecido como “príncipe”, e o líder do PSL na Assembleia, Gil Diniz, chamado de “Carteiro Reaça”. Mas disputas internas do PSL devem inviabilizar o “príncipe”, que na semana passada deixou a Executiva estadual. Luiz Philippe defende mudanças no estatuto da legenda e indicou Edson Salomão para o diretório paulistano. A articulação irritou o comando nacional do PSL e, em meio a brigas, Luiz Philippe deixou a primeira secretaria.

Joice reclama da falta de entendimento no PSL-SP, sob a presidência Eduardo Bolsonaro. Em sua opinião, o comando do diretório estadual está representado por um “grupo de meia dúzia de gatos pingados de ativistas que estão trocando os pés pelas mãos e promovendo uma divisão no partido”. “Não dá para olhar o partido como se fosse um jardim da infância, com um monte de criança birrenta que pensa em seu próprio umbigo. É preciso que haja um freio de arrumação para que deputados que têm voto estejam inseridos nas decisões. O que está acontecendo é quase um golpe branco.”

Ex-rival de Joice, o senador Major Olímpio defende a pré-candidatura da correligionária e diz que o partido não tem estrutura para realizar prévia – o diretório da capital está suspenso pela Justiça Eleitoral por problemas na prestação de contas. Se perder a candidatura de Joice, diz o senador, o partido terá de lançar um nome sem expressão. “Com essa direção incompetente do PSL-SP, a tendência é não ter candidato ou lançar um ‘zé ruela’. Vai colocar na urna ‘17 zé ruela’”, diz, citando o número do PSL. “Bolsonaro vai passar vergonha em São Paulo. Só lamento”.

Major Olímpio presidiu o PSL-SP na campanha de 2018 e foi um dos principais cabos eleitorais da família Bolsonaro. O senador, porém, tem criticado Eduardo e Flávio Bolsonaro. Eduardo tem trocado os indicados de Major Olímpio nos diretórios municipais e criticado a gestão do senador no PSL-SP. O senador responde aos ataques e afirma que Eduardo tem sido “omisso” e “incompetente”.

Já o senador Flávio Bolsonaro (RJ) brigou com o correligionário por ele ter apoiado a CPI da Lava-Toga. Major Olímpio cogitou deixar o PSL, mas garante que continuará no partido. “Se alguém tem que ir embora é Flávio Bolsonaro. Quero que se dane por ser filho do presidente. Vou tratá-lo como qualquer filiado”, diz. “E não vejo a hora de Eduardo se tornar embaixador nos Estados Unidos. Tem que ir embora logo daqui”.