Central sindical venezuelana decide buscar votos para Chávez

Por João Batista Lemos*

Foi realizado nos dias 25, 26 e 27 de maio o 2º Congresso da União Nacional dos Trabalhadores da Venezuela. O congresso procurou responder à expectativa de abrir

A UNT foi fundada em abril de 2003 para fazer frente à CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela). Esta central tradicional, num ato de traição aberta aos interesses do povo venezuelano, conspirou contra o governo Chávez e participou de duas iniciativas golpistas, conjuntamente com a patronal Fedecamaras e o imperialismo estadunidense.
Entretanto, sérios e velhos embates de concepções políticas e ideológicas ocorreram antes e durante todo o Congresso da UNT. Atrasaram sua abertura, provocando interrupções e empurrões e terminaram apressando o final do evento.
Os trabalhos só começaram mediante acordo assinado pelas cinco correntes mais representativas em torno dos temas: balanço da gestão da UNT e conjuntura nacional; classe trabalhadora: contratação coletiva, cogestão, papel sóciopolítico; definição de data das eleições direta para a direção da UNT; estatutos e participação dos trabalhadores na campanha de 10 milhões de votos para Chávez.
Apesar do atraso, logo na abertura já dava para perceber a pujança da revolução no entusiasmo dos 2.500 delegados, com grande participação das mulheres. A UNT desbancava a CTV e se consagrava como a maior central sindical, organizada em 23 dos 24 estados venezuelanos, com 14 federações nacionais, 17 sindicatos nacionais e 800 sindicatos de base (municipal ou de ramos).
A reunião começou com as saudações de 30 representações internacionais da América Latina e Europa. Entre as principais estavam a TUC da Inglaterra, CTC-Cuba, CTA-Argentina, CGT-Argentina, CUT-Colômbia – os trabalhadores do Brasil estavam representados pela CUT, CGTB e CSC. As intervenções com conteúdo antiimperialista, revolucionário e de solidariedade à revolução bolivariana comandada por Hugo Chávez Frias, foram ovacionadas pelos delegados.
Em seguida, começou a polarização, logo com a instalação da mesa sobre balanço da gestão. A sindicalista Marcela Máspero, originária da Clat (Central Latino-Americana de Trabalhadores), liderava uma frente de correntes, incluindo a Força Bolivariana de Trabalhadores (FBT). De outro lado, Orlando Chirinos encabeçava um agrupamento de trotskistas intitulada Corrente Classista – Unitária, Revolucionária e Autônoma (C-Cura).
A polêmica central se deu em torno da data das eleições na UNT. Enquanto o grupo de Marcela defendia eleições no ano que vem, para dar prioridade à eleição de Chávez em dezembro próximo, Chirinos agarrou a proposta de eleições já, em setembro, quase como uma questão de princípio.
Isto ficou evidente na divisão dos delegados para os grupos de discussão instalados (programa e plataforma de luta; reforma de estatutos; a UNT que queremos e declaração de princípios; participação na campanha dos 10 milhões de votos; data da eleição para a central e direção provisória). O grupo de Orlando Chirinos concentrou-se no último grupo, querendo impor as eleições em setembro.
Criou-se o impasse e os delegados passaram a madrugada do dia 27 tentando um acordo. Quatro das cinco forças que assinaram o documento defenderam a eleição sindical em 2007 e a campanha dos 10 milhões; a C-Cura de Chirinos ficou de fora.
Na manhã do dia 27, a grande maioria do congresso gritava duas palavras de ordem: “10 milhões” e “Chávez em primeiro lugar”. Foi quando os que se opunham a esta prioridade apelaram para a agressão visando interromper os trabalhos. O Congresso se encerrou no lado de fora com as quatros correntes definindo que as eleições para a UNT serão mesmo no ano que vem e mantendo a coordenação anterior de caráter provisório. Ficou aberta a participação de Chirinos, embora este, de forma isolada, tenha feito uma assembléia isolada do seu grupo que aprovou a convocação das eleições da UNTpara 14 de setembro.
Lições do congresso da UNT
Ficou claro que é muito grande a dificuldade de unir os trabalhadores venezuelanos em sua organização de massas, construir uma nova cultura sindical, mesmo no fogo de um processo revolucionário. A revolução bolivariana é estratégica para os trabalhadores e estes constituem a base social da revolução. Mas por isso mesmo a classe sofre todo tipo de ataque, interno e externo, político e ideológico, com o propósito de dividi-la e derrotar o processo revolucionário. A luta de classes se desenvolve de várias formas.
Avulta a necessidade de elevar o nível de organização e formação política e ideológica da classe trabalhadora, de caráter antiimperialista e socialista, como base da unidade de classe, na realização de sua própria experiência, em relacionar concretamente as reivindicações concretas das massas com as conquistas da revolução, em manter o caráter unitário e autônomo, em colocar a classe como protagonista da transformação social.
É nestes momentos políticos que também fica mais nítido o papel de certas correntes trotskistas. A C-Cura de Chirinos na prática menosprezou a luta política dos trabalhadores pela reeleição de Chávez. Orienta-se por uma visão esquemática de revolução proletária. “Chávez não é um proletário revolucionário, portanto se faz preciso construir uma alternativa de poder, quem sabe, uma UNT Revolucionária”, argumenta.
Em seu sectarismo, essa corrente não vê o caráter peculiar da revolução bolivariana, com suas injunções culturais, políticas e históricas. Prevalece nela uma visão imediatista, idealista e antidialética de revolução. Ao invés de contribuírem para reforçar e aprofundar o processo revolucionário, rumo ao socialismo do século 21, infelizmente ela acaba contribuindo para desestabilizá-lo, fazendo o papel de auxiliar das forças reacionárias.
A atitude da corrente trotskista, de querer impor de qualquer jeito as eleições da UNT ainda neste ano, não só atrasou por um dia o inicio do congresso. Pode também atrasar ou atrapalhar o processo revolucionário. Mas, felizmente, a grande maioria dos trabalhadores está com a Revolução Bolivariana e sabe que é preciso apoiar Chávez em primeiro lugar.
* Assistiu ao Congresso como
coordenador da CSC
(Corrente Sindical Classista)