Manuela d’Ávila diz que é hora de baixar a guarda e construir unidade

Em entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti, no programa Diálogos da GloboNews, a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB) diz que não existe espaço no enfrentamento ao governo Bolsonaro para bate-boca entre os partidos da oposição. Na sociedade e no movimento social não existe esse tipo de visão, a unidade já está vigorando. “É hora de quem está à frente (dos partidos) de se colocar nessa posição. Na posição de baixar a guarda e construir a unidade política”, diz.

Por Iram Alfaia

Manuela Globonews

Manuela d’Ávila argumentou que diante de 15 milhões de desempregados e a Amazônia pegando fogo não existe espaço para “bate-boca de página de jornal”.

“Nós temos uma batalha dificílima que são as eleições municipais, as pessoas vivem nessas cidades, enfrentam suas dificuldades nessas cidades. Na minha Porto Alegre fecharam os postos de saúde anteontem, no Rio de Janeiro helicópteros estão atirando. Como a gente vai resolver? Como a gente vai demonstrar que existe esperança ali? Como a gente vai construir alternativa unitárias ali?”, argumentou.

Ex-candidata à vice-presidência, ela aponta um caminho a ser seguido. “O nosso desafio, dos partidos políticos, se quisermos ficar à altura dos desafios dos nossos tempos, é construir a unidade de ação política para agora e para as eleições do ano que vem”.

Questionada sobre o proposito dessa unidade, Manuela disse que é para ter governos que enxerguem a vida e não a morte. “Para chegar na administração e não olhar para os números do déficit, mas olhar para as crianças que estão morrendo”, disse.

Usou como exemplo a Laura, sua filha que há 20 dias completou 4 anos. Manuela diz que ela começou a escrever enquanto no Rio de Janeiro as crianças estão atiradas no chão para se proteger dos tiros partindo de helicópteros.

“Minha filha come só arroz, feijão e biscoito Maria. Ela não tem nem um luxo, além desses. Ela tem casa come arroz e feijão e começou a escrever. Que diferença ela tem das outras crianças que estão atiradas no chão? É sobre isso que a gente está falando. Isso é governar”.

Ela diz que o momento é de conversar com as pessoas e mostrar que há esperança ou o projeto político que está em vigor continuará, ou seja, as pessoas literalmente mantando uma as outras.
“Eu não consigo me conformar. Disseram-me a vida inteira, eu sou militante desde os 16 anos, que chegaria um dia que iria me resignar. Cada dia que passa eu me conformo menos”, diz.

Vaza Jato

A ex-deputada também explicou como passou o contato do jornalista Glenn Greenwald a pessoa que hackeou seu telefone celular.

“Aconteceu casualmente no Dia das Mães. Eu recebi um contato por meio de um contato cadastrado no meu telegram, uma pessoa conhecida minha, ‘preciso falar contigo urgente, olha eu não sou fulano, eu invadi teu telegram´. Como assim? ´Olha eu invadi teu telegram e aqui estão as provas´. E começou a mandar conversas minhas. Opa! Vou ser chantageada”, explicou.

Manuela diz que na outra linha já estava com seus advogados. No telegram, a pessoa comunicou que tinha várias informações relacionadas a crimes cometidos por autoridades brasileiras e queria repassar a ela.

Manauela reproduziu os diálogos: “Olha eu acho que essas informações não devem ser repassadas pra mim e sugiro que tu repasses essas informações para outras pessoas. ´Não eu quero repassar pra ti´. Olha eu não sou a melhor pessoa, (…) então repassei o contato do Glenn, porque ele já tinha lhe dado com caso similar”.

Após fornecer voluntariamente o seu celular à Polícia Federal (PF), a ex-deputada diz que pôde comprovar coisas importantes como a autenticidade das informações que ela repassou e, como ninguém entregou o celular para PF (fez referência Deltan Dallagnol), a polícia comprovou a invasão do seu celular.

MP das carteiras

Sobre insinuações de Bolsonaro contra o PCdoB, que estaria se beneficiando de recursos da carteira de estudante emitida pela União Nacional do Estudantes (UNE), e a edição de medida provisória criando uma carteira grátis, Manuela diz que é hora de Bolsonaro começar a governar o Brasil e deixar de criar factoides.

“O que ele tentou fazer com essa medida provisória foi retaliar a UNE, Ubes e ANPG, que são as entidades que mobilizam hoje os estudantes contra um conjunto de medidas que destroem a universidade pública e a ciência brasileira. Com os recursos oriundos das carteiras estudantis, organizam a luta no Brasil, sempre foi assim e, na minha opinião, deve continuar sendo”, defendeu.

Manuela, que esteve em viagens pela Europa, falou ainda da imagem do país no exterior. “A imagem do Brasil é péssima no mundo, precisamos ter claro os impactos econômicos que isso gera para o país”, lamentou.

Acesse aqui o link do globosatplay para conferir a entrevista.