Reitor da USP alerta para a gravidade do de bolsas

Para que servem as bolsas de pós-graduação para quê? Com essa indagação, Vahan Agopyan, reitor da USP e professor titular da Escola Politécnica, comenta o impacto direito na sociedade do corte de recursos pelo governo Bolsonaro.

Vahan Agopyan - Reprodução

Ele lembra que nas últimas semanas as dificuldades enfrentadas pelas agências federais em manter o número de bolsas de estudo e honrar os auxílios já concedidos decorrentes do contingenciamento financeiro têm sido um assunto recorrente tem sido. “Nesse quadro, destacam-se as bolsas de pós-graduação. Elas beneficiam jovens talentosos dos cursos de mestrado e doutorado do país, que estão se preparando paras as carreiras de pesquisador e de docente”, afirma ele em artigo no jornal Folha de S. Paulo.

Vahan Agopyan afirma que essas instituições oferecem outros tipos de bolsas, como as de iniciação científica, para os alunos de graduação, e as de pós-doutoramento, destinada aos novos doutores que se envolvem em projetos de pesquisa, sem vínculo empregatício.

“Os dirigentes das principais agências — como a Capes, vinculada ao Ministério da Educação, e o CNPq, ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações — estão se desdobrando para reduzir o impacto negativo da restrição orçamentária no ambiente científico nacional, mas os orçamentos dessas instituições precisam ser recompostos com medidas emergenciais neste ano e na proposta orçamentária de 2020”, escreve.

Segundo o reitor, os jovens que estão envolvidos ou pretendem seguir na pós-graduação stricto sensu terão suas aspirações frustradas. “Muitos deles poderão abandonar o sonho de desenvolver uma pesquisa e ingressar na vida profissional. Outros, mais persistentes, devem continuar como alunos de pós-graduação em tempo parcial, prolongando suas atividades na universidade por longos anos”, afirma.

Esse quadro é sombrio, segundo Vahan Agopyan. “A produção científica mundial é fortemente apoiada nas pesquisas desenvolvidas nos programas de pós-graduação. Mesmo nas instituições científicas não universitárias, a pesquisa depende dos pós-graduandos e dos pós-doutorandos”, diz ele.

A redução do número de bolsas, portanto, está diretamente relacionada à diminuição do volume de pesquisas e do ritmo de formação de recursos humanos qualificados — e, em última instância, do desenvolvimento econômico, tecnológico, social e cultural do nosso país, segundo o reitor.

“As universidades são inábeis na divulgação de suas atividades e, por isso, muitos perguntarão se de fato a redução da pesquisa trará prejuízos para o Brasil. Você que lê este artigo, por exemplo, provavelmente já se beneficiou de algum estudo conduzido na USP, mas este é um tema que não pode ser discutido em um espaço reduzido como este.

O corte dos recursos não surtirá efeitos negativos apenas no aspecto acadêmico das instituições, mas terá impactos diretos na sociedade e na qualidade da vida das pessoas”, diagnostica.

Ele lembra que o número de bolsas disponíveis não é grande. A USP, que é o maior centro de pós-graduação do país, com 30 mil alunos e 7.000 mestres e doutores formados por ano, recebe 12 mil bolsas em todas as áreas do conhecimento, das quais 75% são oriundas das agências federais.

“Mesmo que parte considerável dos alunos não necessite de bolsa, pois tem empregos que estimulam esse tipo de atividade, a universidade teria capacidade para receber mais 5.000 ou 6.000 bolsas, já que os programas de pós-graduação da USP são muito concorridos e os ingressantes passam por seleção rigorosa, com grande potencial de sucesso. Se tivéssemos mais bolsas de pós-graduação, o volume de pesquisa da USP seria ainda maior”, equaciona.

As universidades estaduais paulistas, complementa Vahan Agopyan, que respondem por quase 40% da produção científica brasileira, são afetadas pela crise das agências de fomento federais. Um eventual colapso nesse sistema terá reflexos nas instituições e em toda a pesquisa nacional.

“Talvez seja uma falha da academia ter suposto que era óbvia para a sociedade a compreensão de que o investimento em ensino e pesquisa é garantia de um futuro melhor para a nação. Devemos assumir a mesma abordagem dos países que são considerados por muitos como modelos, caso de Coreia do Sul e Israel, que nunca deixaram de investir em ensino e pesquisa, mesmo nos momentos mais desfavoráveis, como em meio à guerra e à fome”, conclui.