Chapa Alberto Fernández/ Cristina Kirchner amplia vantagem sobre Macri

O candidato de oposição, o peronista Alberto Fernández, derrotaria o presidente argentino, Mauricio Macri, nas eleições de outubro por uma vantagem ainda maior do que a diferença esmagadora que ele obteve nas primárias de agosto, segundo três pesquisas divulgadas nesta segunda-feira (9), com números semelhantes. Fernández – que tem como vice na chapa a ex-presidente Cristina Kirchner – deve obter 51,5% dos votos e Macri, 34,9%, segundo pesquisa da empresa Ricardo Rouvier & Asociados.

Alberto Fernández discursa para apoiadores após a divulgação do resultado das primárias na Argentina (Enrique Garcia Medina_EFE)

Os dados quebraram semanas de silêncio dos institutos de pesquisa, após as primárias, nas quais poucas sondagens acertaram a vitória arrasadora da chapa de centro-esquerda peronista sobre o governo. As primárias do país servem como termômetro para as eleições nacionais, no dia 27 de outubro. O desempenho de Fernández e Cristina acelerou a crise de desconfiança de investidores, que, nos últimos anos, conseguiram pautar o desastroso governo neoliberal de Macri. Agora, o povo argentino parece querer dar o troco.

“O que vejo é uma consolidação do resultado das primárias”, disse o analista Julio Burdman, cuja consultoria Observatorio Electoral ainda está concluindo suas pesquisas de opinião. Segundo a pesquisa da consultoria Trespuntozero, Fernández deve obter 51,9% dos votos – diante de 34% de Macri – e conquistar a presidência sem a necessidade de um segundo turno. Para a empresa Clivajes, Fernández receberá 52,6% dos votos, e Macri teria 32,5%.

Nas primárias, que não definiram resultados, mas funcionaram como um indicador do entusiasmo dos eleitores, Fernández conquistou 47,78% dos votos e Macri, 31,79%. Se os votos em branco não tivessem sido contabilizados, como ocorrerá nas eleições gerais, os votos de Fernández teriam superado os 49%. Na Argentina, para vencer uma eleição no primeiro turno, o candidato mais votado tem de superar os 45% dos votos ou obter mais de 40% e uma diferença de dez pontos porcentuais sobre o segundo colocado.

A menos de dois meses da eleição, Macri tem a missão quase impossível de reverter o descontentamento com a crise econômica e a unidade do peronismo para derrotar o kirchnerista Alberto Fernández. Principal colégio eleitoral da Argentina, com 11.867,979 eleitores que representam 37% do total de cidadãos habilitados para votar, a Província de Buenos Aires é um território de disputa decisivo na eleição nacional.

O revés de Macri respingou em sua principal aliada: Maria Eugenia Vidal, governadora da província, que em 2015, obteve uma vitória histórica frente ao candidato kirchnerista Aníbal Fernández. Passados quatro anos, a votação que define as chapas que disputarão oficialmente as eleições demonstrou que a baixa popularidade de Macri – cerca de 33% – pode respingar na imagem positiva da atual governadora.

María Eugenia, discípula de Macri e até pouco tempo cotada para ser sua sucessora, perdeu para Axel Kicillof, ex-ministro de Economia de Cristina Kirchner, por uma diferença de 17 pontos porcentuais. Kicillof obteve 49,34% dos votos e a atual governadora, 32,56%. “O que se observa na província é um efeito da unidade do peronismo, que em 2015 esteve dividido e em 2017 também”, afirma Diego Reynoso, cientista político da Universidad San Andrés. “Agora, o que explica também a falta de apoio às candidaturas do governo é a má gestão do governo. Viemos registrando uma queda na aprovação presidencial desde 2017. Isso demonstra que era quase improvável que ele ganhasse.”

Alguns eleitores que em 2015 optaram pela mudança prometida por Cambiemos, em 2019 voltaram a apostar no peronismo. Se em 2015, Macri perdeu por uma diferença de pouco mais de dois pontos porcentuais para o kirchnerista Daniel Scioli, ex-governador de Buenos Aires, desta vez a diferença foi bem maior. Os resultados das primárias indicam que 50,66% dos eleitores de província preferem Fernández, e apenas 29,88% pretendem votar em Macri.

A diarista Susana Varela, que mora na região noroeste de Buenos Aires, conta que em 2015 optou pela chapa Cambiemos de Macri pois pensava que era hora de apostar em algo diferente. Mas admite que os últimos quatro anos foram economicamente complicados para a família. “Com o aumento da passagem, gasto quase tudo o que ganho para chegar ao trabalho”, lamenta.

Ela reconhece que com o aumento da inflação está mais difícil chegar ao fim do mês. Por isso, votou na chapa Fernández-Cristina nas primárias. Analistas acreditam que a crise deve moderar o discurso kirchnerista. Esperava-se ainda que o fenômeno María Eugenia, que possuía 51% de aprovação em janeiro, segundo pesquisa da consultora Opinaia, pudesse impulsionar os números de Macri na Província de Buenos Aires, pois muitos eleitores optam por votar na cédula completa – onde estão todos os candidatos da chapa.

Mas não se previu o fato de que muitos podem “rasgar a cédula”, ou seja, votar em uma coligação para presidente e outra para governador. “Parece que a baixa aprovação do governo Macri afetou tanto o governo da província de María Eugenia, quanto a capital federal, com Horácio Rodríguez Larreta”, analisa Reynoso.

O fato é que a governadora também foi arrastada pela onda que parece ter levado Macri para mais longe da reeleição e, apesar de ter tido uma melhor performance que o presidente na província, não chegou nem perto dos 39% conquistados nas eleições de 2015. O cenário é diferente na Cidade de Buenos Aires, onde o macrismo continua vencendo, apesar de ter perdido eleitores desde 2015.

O candidato do Juntos por El Cambio, Jorge Luis Larreta, conquistou 46,48% dos votos nas últimas primárias – em 2015 havia obtido 47,35%. Já o kirchnerista, Matías Lammens, conquistou 31,93% dos votos. Um dado curioso sobre a capital é que alguns eleitores seguiram fiéis ao governo do Cambiemos, que está no comando da cidade desde 2007, mas resolveram não apostar em Macri em nível nacional.