Portugal: Festa do Avante debate o retrocesso no Brasil

Ato realizado neste domingo (8) e organizado pelo Partido Comunista Português (PCP) trouxe à luz temas como as queimadas na Amazônia, o desmonte do patrimônio nacional e as mais recentes denúncias contra a Operação Lava Jato

Festa do Avante Sorrentino

“Como tantos retrocessos aconteceram no Brasil tão rapidamente?”, perguntam quase todas as pessoas, de Portugal e outros países, que visitam a barraca do Brasil na Festa do Avante, em Lisboa. O festival, que representa o maior encontro cultural da esquerda europeia, tem como um dos seus principais temas, neste ano, a solidariedade com o povo brasileiro na resistência à crise institucional e política que levaram a extrema direita ao poder e que ameaçam destruir as instituições do país.

“Destruição é a palavra mais adequada para o que estamos vivendo atualmente”, disse o vice-presidente e secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Walter Sorrentino, durante o ato de solidariedade ao país realizado neste domingo, último dia do festival. “Estamos sob ataque e nem exatamente de uma força de direita, porque muitas vezes a direita respeita o pacto democrático. Mas essa é uma força que não veio para construir nada, pelo contrário”, disse.

O desmonte nacional, o entreguismo dos setores estratégicos, a perda de direitos e o ensaio de um regime abertamente fascista estiveram entre os desafios citados por Sorrentino e pelos outros convidados da mesa. O representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) Igor Felipe, citou como exemplo a paralisação de todos os instrumentos da reforma agrária atualmente no Brasil. “A divisão de terras foi entregue a um grupo de militares anti-nacionais e anti-populares que se submetem ao latifúndio. Uma serie de políticas que viabilizavam a melhoria da vida dos camponeses estão sendo destruídos”, denunciou.

Tema recorrente na Festa do Avante neste domingo também foram os novos vazamentos do portal The Intercept, em parceria com a Folha de São Paulo, que desvendaram a conspiração dos procuradores da operação Lava Jato e do então juiz Sérgio Moro para grampear e perseguir o ex-presidente Lula e a então presidenta Dilma Rousseff. O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), que também integrou o ato em Portugal, disse que as notícias do dia comprovam o que sempre foi dito pelo campo popular no país: “A Lava Jato foi uma ação criminosa com objetivo eleitoral de interferir na democracia brasileira e que tinha como objetivo maior, desde o começo, cercar e prender Lula para que nunca mais se candidatasse e ganhasse as eleições”.

O coro “Lula Livre” foi ouvido com frequência, por militantes de diversas partes do mundo, durante os três dias da Festa do Avante. Outros temas que tiveram destaque, levantaram dúvidas e preocupação foram as queimadas na Amazônia, a questão indígena, a censura e os ataques aos direitos humanos, aos negros, mulheres, à população LGBT. No país. “Contaremos com o apoio dos portugueses e do PCP que tem uma história de resistência e muito a contribuir a nós brasileiros nesse momento”, afirmou Walter Sorrentino.

A caravana brasileira na Festa do Avante esteve presente em diversas partes da programação, ao longo dos três dias. O PCdoB montou sua barraca, com apoio da secretaria de Relações Internacionais do partido e da Fundação Maurício Grabois, com livros, camisetas, bottons, além de um jornal informativo, distribuído ao longo do festival, explicando qual a situação das esquerdas brasileiras e suas principais lutas. No encerramento da Festa, os brasileiros integraram o grande comício, já tradicional no evento, organizado pelo Partido Comunista Português e reunindo organizações populares dos cinco continentes.