Dia da Amazônia: maior bioma do planeta arde no coração da humanidade 

As drásticas consequências dos mais de 40 mil focos de queimadas provocadas entre janeiro e agosto na maior floresta tropical do mundo dão maior relevo para o Dia da Amazônia, comemorado nesta quinta-feira, 5 de setembro. Tanto que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) propõe que a data passe a ser Dia de Luta pela Amazônia.

Por Marcos Aurélio Ruy

Amazônia

Um relatório da Procuradoria do Meio Ambiente do Ministério Público Federal aponta que, atualmente, 20% da floresta está desmatada – um índice que cresce de acordo com o aumento do rebanho bovino na região. Segundo o documento, a pecuária ocupa 80% da área desmatada da Amazônia, informa o jornal El País.

Já o World Wide Fund for Nature (WWF) denuncia que a pecuária teve enorme crescimento na Amazônia: “Entre os anos de 1974 e 2011, o rebanho nacional aumentou 120 milhões de cabeças. Apenas o bioma amazônico representou 46% do aumento do rebanho, localizado predominantemente nos estados de Rondônia, Pará e norte do Mato Grosso”.

Dados sobre desmatamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, somente em julho, foram atingidos 2.254,9 quilômetros quadrados. No mesmo mês em 2018, esse índice ficou em 596,6 quilômetros quadrados. Trata-se de um aumento de 278%. E a derrubada ilegal de árvores não para de crescer, agora estimuladas pelas recentes críticas que o presidente Jair Bolsonaro fez ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“A necessidade de promover uma agropecuária de maneira sustentável com respeito ao meio ambiente e às trabalhadoras e trabalhadores do campo, das florestas e das águas impõe a necessária resistência à devastação”, diz Vânia Marques Pinto, secretária-geral da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Bahia (Fetag-BA) e secretária de Políticas Sociais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Afinal a dimensão da floresta amazônica em seus 7 milhões de quilômetros quadrados, sendo 5,5 milhões de florestas, abrange nove países (Brasil, com 60%, Peru, com 13% e em partes menores na Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa). No território nacional, a Amazônia se espalha por nove estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão).

O desmatamento e as queimadas têm acarretado grandes problemas para a região, além da mineração e da conversão da floresta em áreas para pasto e agricultura sem critérios de respeito à preservação ambiental. “A Amazônia extrapola os limites geográficos do Brasil, porque influencia na fauna, na flora e na vida como um todo, no planeta inteiro”, afirma Rosmari Malheiros, secretária de Meio Ambiente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e da CTB.

Segundo ela, “o fenômeno que aconteceu no céu de São Paulo, recentemente, é só uma pequena demonstração de que um desequilíbrio que ocorre na natureza em um local específico é capaz de se alastrar e impactar longínquos territórios”.

Vânia realça a necessidade de políticas que definam um relacionamento harmonioso entre o homem e a natureza para “salvarmos o planeta da depredação e produzirmos alimentos saudáveis e de modo sustentável”. De acordo com a sindicalista, a floresta amazônica possui riquezas naturais inquestionáveis e a exploração dessas riquezas deve ser feita de modo a beneficiar as pessoas. “A natureza pode ser nossa aliada, mas para isso devemos respeitá-la e trabalhar a seu favor.”

A Amazônia Legal representa 59% do território nacional, 67% das florestas tropicais do mundo e 25 mil quilômetros de rios navegáveis. Conta com 50 mil espécies de plantas, 3 mil espécies de árvores, 1.200 espécies de aves, 320 espécies de mamíferos, 3 mil espécies de peixes, 400 espécies de anfíbios, 300 espécies de répteis e 10 milhões de espécies de insetos.

Rosmari lembra que existem projetos de lei em tramitação no Congresso para reduzir muitas das 314 unidades de conservação da região, entre federais, estaduais e algumas municipais, que representam 26% da Amazônia brasileira. “As ameaças são constantes. Agora, com a insanidade do governo Bolsonaro, os predadores se sentem liberados”, avalia.

Ela explica ainda que as terras indígenas correm sérios riscos com fazendeiros ordenando invasões para explorar e depredar, como as que vimos em Roraima recentemente. “A Amazônia exerce um importante papel para a existência e manutenção da vida no planeta. Cuidar dela é obrigação de todos e de todas nós. A vida pede socorro e não podemos fugir dessa responsabilidade”, conclui Rosmari.