De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Nas notas internacionais desta quarta-feira (4), a cientista política e especialista em relações internacionais, Ana Maria Prestes destaca a dramática cena britânica diante do Brexit, entre outros acontecimentos que sobressaem na cena mundial.

Boris

Quem gosta de política definitivamente precisa acompanhar a dramática cena britânica atualmente em curso. Fico pensando quantos livros ainda vão surgir no futuro para tratar desse período do Brexit, com final ainda completamente inconcluso. O dia de ontem (3) certamente renderá um capítulo. Para ilustrar apenas uma passagem, enquanto o premiê Boris Johnson discursava, o deputado conservador Phillip Lee atravessa o tapete verde da Casa dos Comuns para se sentar ao lado dos Liberais Democratas, sinalizando uma mudança de lado e fazendo Johnson perder sua maioria por um voto. Outros conservadores não chegaram a atravessar o salão, mas votaram contra Johnson mesmo estando dentro do partido. E assim, por 328 votos a 301, o parlamento britânico tirou do governo o direito de pautar a sessão e hoje (4) deve alcançar novas vitórias. O plano de fundo é impedir que Johnson cometa o hard Brexit, uma saída da União Europeia sem acordo com Genebra. Há quem diga que novas eleições podem ocorrer, tendo o opositor trabalhista Jeremy Corbyn como o principal inimigo de Jonhson e dos conservadores a ele alinhados. Podem surpreender, tanto os liberais democratas sobre o campo dos trabalhistas como o partido brexit sobre o campo dos conservadores.

Pesquisa da NatCen Social Research, que acompanha a opinião pública britânica sobre o Brexit desde 2016, aponta que hoje 46% dos britânicos rejeitam o Brexit, 41% apoiam e 14% não opinam.

Segundo um anúncio do chanceler chileno, Teodoro Ribera, a ajuda financeira do G7 para o combate aos incêndios da Amazonia brasileira virã sem a parte correspondente à França, que destinará seus recursos para outros países da região. A chancelaria informou ainda que já estão à disposição do governo brasileiro dois aviões AT108, especializados no combate a incêndios florestais e mais dois estão a caminho.

Na Argentina a alta do dólar deu uma trégua e caiu quase 6% após o anúncio de controle cambial feito pelo governo no final de semana. O efeito foi de filas em bancos e casas de câmbio de argentinos tirando dúvidas sobre seus depósitos e outros tentando comprar dólar para se proteger das intempéries econômicas de futuro ainda incerto.

Macron está mesmo empenhado em não deixar o acordo nuclear com o Irã colapsar. O governo francês propôs uma linha de crédito de 15 bilhões ao país até o final de 2019, segundo a imprensa, mas sem nenhum comunicado oficial por enquanto. O crédito estaria condicionado ao cumprimento integral do acordo de 2015. O anúncio do empréstimo veio antes da data prevista pelo governo iraniano, próxima sexta, em que anunciaria deixar de lado mais compromissos do acordo, como o aumento do patamar de enriquecimento de urânio.

 Em discurso no dia de ontem (3) para formandos da Escola Central do Partido Comunista Chinês, o presidente Xi Jinping disse que deverá haver uma luta resoluta em relação aos atuais desafios da China. Segundo Xi, “no presente e no futuro, o desenvolvimento da China entrou em um período onde os riscos e desafios continuam a aumentar ou estão se tornando concentrados. Os maiores desafios a serem enfrentados não irão diminuir.” Entre os desafios ele citou as questões econômicas, políticas, sociais, ambientais, de defesa, diplomáticas, Hong Kong e Taiwan. Em poucos dias, 1º. de outubro, a China comemorará os 70 anos da revolução chinesa e a fundação da República Popular da China por Mao Tsé-tung. Haverá uma parada militar comemorativa em Pequim. Há 70 anos era impensável que a China chegaria ao poderio econômico que possui hoje.

O governo venezuelano declarou ontem um “alerta laranja” na fronteira com a Colômbia. A reação veio após o presidente colombiano tentar vincular a volta de ex-guerrilheiros das ex-FARC à luta armada no país com o governo venezuelano. Segundo Maduro, Duque “quer acusar a Venezuela de causar uma guerra que tem 70 anos na Colômbia”.

O Pentágono anunciou ontem (3) a destinação de 3,6 bilhões de dólares para a construção de um trecho de 280 km do muro na fronteira dos EUA com o México. Trata-se de uma fixação do presidente Trump desde que foi eleito. Para tanto, foram adiados 127 outros projetos anteriormente previstos no orçamento do Pentágono para 2019.

Chega hoje na Bolivia uma equipe francesa especializada em combate a incêndios florestais. A primeira equipe é pequena, cerca de 10 pessoas, mas virão para preparar a chegada de mais 40 profissionais na próxima semana para ajudar no combate às chamas na região leste da Bolívia.

Segundo um relatório da ONU divulgado ontem, EUA, França e Reino Unido estão envolvidos nos crimes de guerra perpetrados no Iêmen nos últimos anos.

Na França foi aberto um debate de três meses sobre o feminicídio e a violência conjugal. Somente neste ano, até agosto, foram 101 feminicídios contra 121 registrados em todo o ano passado. A França é o segundo país mais afetado na Europa, após a Alemanha.

Famosa por estimular o armamento, a rede norte-americana Walmart anunciou ontem (3) que vai interromper a venda de munição para armas curtas, como pistolas e revóveres. Informou ainda que fará campanha para que os clientes evitem portar armas de fogo de forma visível dentro das lojas, mesmo nos estados em que é permitido.