De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A cientista política e especialista em relações internacionais, Ana Maria Prestes, analisa os acontecimentos que se sobressaem no cenário internacional. Nesta terça-feira (3), as notas destacam o resultado da viagem do filho de Jair Bolsonaro, Eduardo, pelos EUA, a confirmação da participação do presidente brasileiro na Assembleia Geral da ONU, no fim de setembro e ainda o reflexo da crise Argentina no Brasil.

Eduardo Bolsonaro com seu pai, Jair - (Foto: Reprodução/ Facebook)

E a visita de Eduardo Bolsonaro aos EUA parece ter rendido frutos, mas para os EUA! Trump foi todo feliz ao twitter anunciar que o Brasil “vai permitir que mais etanol americano entre no país”. Ainda segundo o presidente americano os “usineiros brasileiros estão celebrando”. A newsletter do Meio desconfia dessa celebração ao dizer esta manhã que pelo menos um deputado pernambucano, Silvio Costa Filho, protestou ao dizer que “o Brasil é autossuficiente na produção de álcool, não existe necessidade de importação dos EUA. Isso prejudica a economia do Nordeste”.

E Bolsonaro pai disse que vai à Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque sim. “Nem que seja de cadeira de rodas, de maca…”, segundo ele em entrevista ontem (2). Segundo o secretário geral da ONU, o português Antonio Guterres, a Amazônia deverá ser um dos temas abordados na AGNU.

Já para Leticia, na Colômbia, onde se reunirão no próximo dia 6 os chefes de Estado da região amazônica, Bolsonaro não vai por recomendação médica. Segundo o palácio do planalto, o presidente terá que seguir uma dieta líquida a partir da sexta, exatamente 6 de setembro.

E Boris Johnson trucou! E Jeremy Corby trucou de volta! Boris ameaça os rebeldes de seu próprio partido, o Conservador. Caso estes apoiem qualquer iniciativa de trabalhistas e liberais-democratas de aprovarem uma lei que impeça o Brexit sem acordo ele convocará eleições para o dia 14 de outubro (as eleições devem ser aprovadas no parlamento). Já Corbyn disse: “nós queremos uma eleição geral”. Segundo Tony Blair, ex-premiê, a ideia de novas eleições pode funcionar, pois muitos temem mais um governo de Corbyn do que um Brexit sem acordo, então Boris ganharia aliados em um momento crucial. Um projeto de lei do trabalhisa Hilary Benn circulou ontem na internet. Ele propõe que a saída seja automaticamente postergada para 31 de janeiro de 2020 caso não haja acordo com Bruxelas até 19 de outubro. Tudo isso em meio a uma suspensão de 5 semanas das atividades parlamentares britânicas impostas por Boris e a rainha. Na casa de apostas de Ladbrokes a opção de novas eleições é considerada provável por 75%.

O chanceler iraniano Javad Zarif disse ontem (2) que seu país vai abandonar mais alguns dos compromissos que estão dentro do acordo nuclear com França, Alemanha, Reino Unido, União Europeia, Rússia e China. Acordo abandonado pelos EUA. Segundo Zarif, “não tem sentido manter os comprometimentos unilaterais se não recebermos os benefícios, como prometido pelos parceiros europeus”. Ele se refere à proteção da economia iraniana das sanções impostas pelos EUA. Novas medidas iranianas são aguardadas ainda para esta semana. Podendo incluir a elevação do grau de enriquecimento do urânio ou a reativação de centrífugas (para processar material nuclear). Macron tem sido um dos mais atuantes no sentido de demover os iranianos de avançarem com seu programa nuclear. Um dos grandes impactos, se não o maior, do embargo americano ao Irã, tem sido com relação à venda de petróleo que está paralisada.

Temos falado pouco da Espanha por aqui, mas o impasse para formar governo por lá continua. Em um de seus últimos pronunciamentos, o primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, que está como interino, disse que não formará governo com o Podemos. Ele diz ser “inviável”. O que ele sim quer é um endosso do Podemos para um governo executivo de responsabilidade exclusiva do PSOE. Sánchez aprsentou 370 medidas para uma plataforma a ser combinada com a chapa Unidas Podemos que disputou as eleições. O PSOE foi o mais votado das eleições de abril, mas com menos de 30% dos votos, portanto precisa de apoio para formar governo. Se não houver um acordo até 23 de setembro, novas eleições terão que ser realizadas em novembro.

A crise econômica argentina já reverbera forte no Brasil. Segundo o Ministério da Economia, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 40,42% em agosto deste ano quando comparadas a agosto do ano passado. A Argentina é o terceiro principal destino das exportações brasileiras.

No Chile, na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, por 7 votos a 6 foi aprovado o primeiro e o segundo artigo de um projeto de lei das deputadas comunistas Camila Vallejo e Karol Cariola que reduz a jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais. No desespero para que não fosse aprovado, o Ministro do Trabalho, Nicolás Monckeberg chegou a dizer que se aprovado o projeto o Chile ficaria impedido de jogar a Copa America, pois excederia a jornada máxima de trabalho (rsrs).

Na França agora é obrigatório matricular as crianças na escola a partir dos 3 anos. Antes era aos 6. A medida tem mais um caráter simbólico, uma vez que a França já absorve 97% das suas crianças de 3 anos na rede pública de ensino. Na verdade, as crianças de famílias mais pobres e vulneráveis, que ainda não estão incluídas, serão beneficiadas com a obrigatoriedade.

No Haiti, Porto Príncipe ficou paralisada por protestos uma vez mais no dia de ontem (2). As manifestações foram desencadeadas devido à falta de combustível. Em vários pontos da capital foram vistos incêndios, barricadas, bloqueios de vias, lançamentos de pedras e manifestações populares próximas aos postos de combustível. A saída do presidente Jovenel Moise é ponto comum entre os distintos gritos populares.