O ataque xenofóbico ao bar de refugiados palestinos em São Paulo

Imagine estar na balada e de repente ser surpreendido com gás de pimenta simplesmente porque o lugar emprega refugiados? Foi exatamente isso que aconteceu na madrugada deste domingo (1/9) no bar Al Janiah, localizado na região central da capital paulista. O lugar é conhecido por ser um polo de cultura e resistência, além de ponto de encontro certeiro para quem gosta de comer bem, reunir os amigos e dançar brasilidades e latinidades.

Por Mariana Serafini

Al Janiah

As câmeras de segurança registraram o momento em que cinco homens se aproximaram e atacaram o estabelecimento com faca, garrafas e gás de pimenta. Testemunhas que estavam mais perto da porta e conseguiram ver o ataque deram a seguinte descrição: “homens brancos, carecas, vestidos de preto com o símbolo do estado de São Paulo no peito”. Não precisa ser especialista urbanas para entender que se trata de um grupo extremista que, com o aumento do discurso de ódio no país, se sentiu confortável para apelar à violência.

O bar, que pertence ao brasileiro filho de palestinos, Hasan Zarif, é famoso por empregar refugiados. Atualmente são 35 funcionários de diversos países, entre eles Palestina, Síria e Argélia. “Não podemos nos calar diante da motivação deste ato, num contexto de crescente discurso de intolerância e ódio que acomete este pais”, diz a nota oficial do estabelecimento, divulgada poucas horas após o ataque.

Segundo a administração, os agressores ainda não foram identificados, porém, as medidas jurídicas necessárias já foram tomadas.

O nome “Al Janiah” é uma homenagem à vila onde os pais de Hasan viviam na Palestina. Trata-se de um espaço ligado ao longo processo de resistência do povo palestino em defesa de um Estado soberano, livre das agressões impostas por Israel. Portanto, referência para a militância da esquerda paulistana.

Após o ataque, entidades da esquerda e dirigentes políticos se solidarizaram com o espaço. A União da Juventude Socialista denunciou o episódio e destacou que “o estabelecimento foi construído por refugiados da Guerra da Síria e do Movimento Palestina Para Todos. Lamentável. Vamos denunciar e apoiar a causa da paz”.

Já dirigente do PSOL e ex-candidato à presidência, Guilherme Boulos, manifestou solidariedade “ao amigo Hassan e toda a equipe”. “Nenhum passo atrás. Apesar deles, o Al Janiah seguirá como um belo espaço de resistência cultural e servindo uma das melhores comidas árabes de São Paulo. Força”. Em nota, o bar garantiu que seguirá “firme na luta, tão necessária nesse contexto de ataque à democracia”.

Apesar da tentativa de intimidação, a programação dos próximos dias seguirá dentro da normalidade. Na próxima quinta-feira (5), a cantora paraense – e ex-repórter do Portal Vermelho – Railídia, fará o show de seu disco “Cangalha” a partir das 22 horas.

Veja cenas do ataque: