Argentina corre contra a inadimplência, diz Joseph Stiglitz

A Argentina poderá evitar uma reestruturação de dívidas se as autoridades reverterem as medidas de austeridade a tempo suficiente de estimular crescimento econômico para evitar uma crise de dívida, disse o economista Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel, à agência Reuters.

Joseph Stiglitz

A derrota esmagadora do presidente liberal Mauricio Macri nas eleições primárias de 11 de agosto contra seu rival peronista, Alberto Fernández, despertou reação dos especuladores e seus porta-vozes na mídia, que temem que o retorno da atual oposição ao poder possa significar uma reestruturação da dívida na terceira maior economia da América Latina.

Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial e crítico das medidas de austeridade durante a crise da dívida na zona do euro, disse que as apertadas políticas fiscais de Macri paralisaram a economia justamente quando o crescimento era necessário para garantir que a Argentina pudesse pagar suas dívidas.

“O problema é que as políticas em que o governo se engajou não eram propícias ao crescimento econômico”, disse Stiglitz à Reuters. “Austeridade e orçamentos apertados levam a um baixo crescimento e isso torna a dívida menos sustentável.”

A economia da Argentina deve encolher 1,5% este ano, segundo a última pesquisa de analistas do banco central. O crescimento previsto para 2020 é de 2,0%.

Fernández, agora o favorito para a eleição, alertou que uma reestruturação da dívida pode ser necessária. Ele disse que buscará renegociar um acordo de 57 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional.

Fernández disse não estar de acordo com as medidas de austeridade de Macri, que, embora direcionadas a reduzir o déficit fiscal, prejudicaram o crescimento, ao mesmo tempo em que comprometeram a popularidade do presidente

A próxima revisão do FMI sobre a economia da Argentina em 15 de setembro deve dizer se Fundo ainda acredita que a Argentina pode pagar seus empréstimos. Outro ponto crucial será o segundo trimestre de 2020, quando a Argentina deverá pagar 20 bilhões de dólares em dívidas, um aumento de 5,6 bilhões em relação ao primeiro trimestre.